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Entrevista | A. Olumofin – autor nigeriano da HQ Ṣàngó
Dia 3 de julho é o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, criado em decorrência da sanção da lei Afonso Arinos (nº 1390/1951). Com o advento do filme Pantera Negra (2018), houve uma verdadeira eclosão e profusão não só de super-heróis negros, como de interesse pelos mesmos.
O Otageek conversou com o nigeriano Ade Olumofin, autor da HQ independente Ṣàngó – A fictional tale of how a yoruba general became a god-king (Xangô – Uma história fictícia de como um general iorubá se tornou um deus-rei, numa tradução livre). Morando nos EUA, A. Olumofin, como gosta de ser chamado, nos fala de sua criação, seu intento de gerar um filme para a Netflix e seu interesse em conhecer o Brasil e nossos cultos afro-brasileiros.
A HQ foi lançada em inglês e português e conta com uma marca exclusiva de camisetas, adesivos e pôsters. O nome do orixá protagonista é escrito em iorubá e nos reservamos o direito de escrever seu nome em sua forma aportuguesada.
Otageek- Como surgiu a ideia de criar a HQ?
A. Olumofin- A ideia do quadrinho surgiu porque eu quis mostrar que temos heróis negros na cultura africana. Rola muita quizumba com super-heróis brancos que se tornam negros. Eu não acho isso necessário, já que há muitos heróis negros como Xangô.
Otageek- Você é o escritor e também o desenhista? Se não, quem é o desenhista e o responsável pelo projeto gráfico, balões, etc.?
A. Olumofin- Eu sou um escritor de quadrinhos. O trabalho artístico foi feito por um estúdio na Índia.
Otageek- O projeto é de quantas edições?
A. Olumofin- Haverá sete edições. Queremos fazer um filme na Netflix, mas apenas se o quadrinho vingar.
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Otageek- Achei incrível a sua iniciativa e me surpreendeu ver uma HQ sobre os Orixás feita fora do Brasil. A Umbanda e o Candomblé são difundidos aí nos EUA? O Candomblé e a Umbanda existem na Nigéria ou apenas o Candomblé?
A. Olumofin- Sim, o Candomblé existe nos EUA mas não é tão difundido como no Brasil. Lembre-se que o Brasil tem a maior população de afrodescendentes fora da África.
Otageek- A pesquisa de vocabulário e dos orixás são excelentes. Quais foram suas fontes de pesquisa além de sua própria naturalidade africana?
A. Olumofin- Muito obrigado! Fiz algumas pesquisas através de livros de minha própria biblioteca, pesquisas de internet, e o meu conhecimento a respeito dos orixás por ter crescido na Nigéria também ajudou.
Otageek- A HQ tem a versão em inglês e a versão em português. A ideia de se fazer uma versão em português é pelo fato de os orixás serem mais difundidos aqui ou porque houve uma colonização portuguesa em Ékó, tornada Lagos devido à colonização?
A. Olumofin- Os Orixás e Xangô são adorados na África, no Caribe e na América Latina, então queremos captar o maior público possível. Uma vez que o quadrinho estiver finalizado, pretendemos ter não somente versões em inglês e português, mas em espanhol e francês também
Otageek- O parisiense Pierre Edouard Leopold Verger conheceu o candomblé em Salvador, Bahia, em 1946, e foi iniciado na África em 1953, onde ganhou o codinome de “Fatumbi”, que significa renascido pela graça de Ifá. Você conhece o trabalho dele? Ele é conhecido na Nigéria? E nos EUA?
A. Olumofin- Não sou pessoalmente familiarizado com Pierre Verger, mas se foi dado a ele um nome iorubá, ele provavelmente é popular na Nigéria. Não ouvi falar dele nos EUA até hoje.
Otageek- Você ou sua família são iniciados no candomblé ou em algum culto de matriz africana?
A. Olumofin- Não, eu fui criado na fé evangélica por meus pais, mas me tornei agnóstico quando cresci. Eu tenho interesse e uma verdadeira fascinação pelas religiões africanas. Por isso fiz a HQ.
Otageek- Você é o primeiro escritor de quadrinhos da Nigéria. Há bastante interesse em quadrinhos na Nigéria? Como surgiu o seu gosto por quadrinhos?
A. Olumofin- A Nigéria teve uma explosão nos quadrinhos tardiamente, especialmente desde que saiu Pantera Negra. Alguns quadrinhos na Nigéria são públicos. Mais e mais quadrinhos estarão certamente sendo lançados na África. Existe até uma convenção de quadrinhos em Lagos, Nigéria, e outra na África do Sul.
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Otageek- No Brasil, há o sincretismo, no qual os orixás são correlacionados com os santos católicos. Como os EUA são mais protestantes, esse sincretismo ocorre na Nigéria também? E nos EUA?
A. Olumofin- Xangô é adorado na Nigéria e em algumas partes dos EUA. Os EUA são mais protestantes anglo-saxões, mas Xangô é conhecido entre algumas pessoas na comunidade negra norte-americana.
Otageek- Quais as religiões de matriz africana mais comuns nos EUA? Dada a diáspora negra no mundo, a inserção do negro nos EUA é de origem majoritariamente iorubá ou banto? Há outras etnias?
A. Olumofin- Muitas pessoas nos EUA seguem o cristianismo, mas alguns professam religiões africanas. A verdade é que as religiões africanas não são comuns aqui como no Brasil. Eu quero usar este quadrinho para que as pessoas tomem conhecimento das religiões africanas.
Otageek- Você já esteve no Brasil ou tem planos de visitar a Bahia ou o Rio de Janeiro, já que o primeiro lugar é o berço do Candomblé e o segundo, mais precisamente São Gonçalo, é onde surgiu a Umbanda?
A. Olumofin- Eu irei ao Brasil em 2022. Eu quero muito visitar a Bahia, principalmente. Eu sei que o Brasil tem 26 estados e que a Bahia tem uma forte influência africana, então eu quero aprender com os afrodescendentes brasileiros sobre sua cultura e os orixás.
Otageek- Além da HQ, há uma marca de camisetas, pôsters e adesivos. A marca também é sua? Como adquiri-los?
A. Olumofin- Sim, temos camisetas, pôsters e adesivos. Se você quer comprá-los, basta ir à nossa loja online www.africomichaus.com. A marca é nossa e é um complemento da HQ.
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veri nice comment…
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