Avatar: como o público recebeu as diferenças entre Aang e Korra

Avatar: a Lenda de Aang é um desenho animado criado por Bryan Konietzko e Michael Dante DiMartino em 2005 no canal da Nickelodeon e, atualmente, está disponível pela Paramount Plus. Somos apresentados a um universo onde as pessoas são capazes de manipular os quatro elementos, o que eles chamam de dominação ou dobra.

Para a construção da narrativa, a história gira em torno do avatar e sua missão de trazer harmonia aos povos. A primeira série conta a aventura do Aang, último nômade do ar, e seus amigos enfrentando diversos desafios com o objetivo de trazer paz em meio à guerra contra a Nação do Fogo.

Avatar: a Lenda de Korra é uma sequência direta da série anterior e foi ao ar em 2010, também pela Nickelodeon. A história se passa 70 anos após a história de Aang e conta as aventuras da nova reencarnação do avatar, que é a Korra, da tribo da água.

Ambos os desenhos contam com narrativas cuidadosamente construídas, mas que se desenvolvem de maneiras bem diferentes devido à escolha do protagonista e o ano de criação e exibição. Mas mesmo assim, em diversos fóruns sobre a obra, é possível notar um movimento de comparação entre os dois desenhos.

Justifica-se esse movimento devido ao fato de que a mesma geração que acompanhou a aventura de Aang, anos depois acompanhou a aventura de Korra. E durante essa discussão, é notável que na grande maioria das vezes, a base de fãs demonstra mais apreço pela obra com Aang como protagonista.

Vamos então abordar alguns pontos que diferenciam as séries e levantar algumas suposições do porquê dessa predileção. Esse texto vai apresentar alguns spoilers da narrativa, então tome cuidado caso ainda não tenha assistido.

As diferenças entre a Lenda de Aang e a Lenda de Korra estão já na escolha do protagonista e suas características, deixando evidente que as obras são para públicos diferentes.

A Diferença na Narrativa

A animação da Lenda de Aang visava um público infantil, enquanto a Lenda de Korra buscava esse mesmo público, mas alguns anos depois, ou seja, no início da adolescência. Essa mudança de foco narrativo impactou profundamente em uma série de questões e características dessas obras.

Outra observação é que, na Lenda de Aang, a narrativa abusava de elementos cômicos e se apresentava de uma maneira mais leve. Já a lenda de Korra trouxe uma narrativa mais madura e abusou principalmente de cenas de ação e questões mais profundas e obscuras.

Com essa mudança do público alvo, muitos elementos que se apresentavam na Lenda de Aang não foram identificados com facilidade na Lenda de Korra. Essa diferença narrativa cria uma discrepância entre a expectativa do público e o que a obra apresenta.

Além disso, na Lenda de Korra os produtores realizaram uma série de escolhas narrativas que fizeram com que o público se desconectasse ainda mais da protagonista. Uma dessas escolhas e o ponto central de diversas discussões em diversos fóruns foi o término da conexão da Korra com os antigos avatares por um erro.

Essa decisão irritou bastante os fãs da série, que se manifestaram de maneira incisiva. Não é clara a motivação para esse aspecto narrativo por parte dos produtores, mas dentre as suposições, acredita-se que teve por objetivo uma tentativa de desvincular a série de Korra com a de Aang.

Nos próximos tópicos, vamos então abordar possibilidades de justificativa para a insatisfação dos fãs, mas acredito que isso fale mais sobre nós, público, do que sobre o estilo dos produtores em si.

O fim da conexão de Korra com os antigos avatares foi um dos pontos mais polêmicos da segunda obra.

Vale ressaltar que as discussões de temáticas sobre realidades sociais em 2005, que foi o ano de lançamento da Lenda de Aang, eram totalmente distintas de 2010 – ano de lançamento de Korra. Na virada da década, muitas questões sociais entraram em voga devido à popularização da internet e isso teve um impacto direto na cultura pop e, consequentemente, na construção narrativa desses desenhos.

Os temas apresentados na lenda de Korra foram polêmicas à parte e valem todo um artigo sobre. A obra abordou abertamente a saúde mental, apresentou romances que não deram certo e tem um casal LGBTQIA+ declarado ao final. Isso gerou uma série de represálias por movimentos conservadores contra a produção, levantando até à teoria de que esse seria o motivo do boicote por parte da Nickelodeon ao desenho.  

Korra e Asami formaram um casal lésbico declarado ao fim e entraram na lista de casais LGBTQIA+ oficializados em desenhos animados.

As personalidades opostas dos dois avatares

Enquanto Aang se apresenta como um jovem centrado e sempre calmo, Korra se apresenta como explosiva e impulsiva. Eles estão em polos diferentes e opostos do espectro de personalidade e essa mudança guiou todo o desenvolvimento dos personagens em sua trajetória.

Aang tinha um desenvolvimento mais próximo do clichê para a jornada do herói, enquanto Korra está mais próxima de uma construção mais realista de alguém de sua idade. As escolhas de Aang geralmente não entram em um espectro duvidoso quanto à sua moral e muitas vezes seu personagem é lido no espectro maquiavélico, preto ou branco, bom ou mau. Do outro lado, as ações de Korra giram em uma grande massa cinzenta que se assemelha mais à vida real e à dificuldade de ter um senso de moral.

Enquanto Aang evitava conflitos e tinha um caráter apaziguador, Korra sempre enfrentou os obstáculos de forma impulsiva, com uma personalidade explosiva.

A saúde mental de Korra é trabalhada de forma profunda e estruturada. Sem dúvidas, é um dos pontos altos da série. O episódio “Korra Sozinha”, do Livro 4, recebeu imensos elogios por parte da crítica ao mostrar com muita sensibilidade o processo de reabilitação da protagonista. As escolhas da personagem demandam uma série de reflexões, tornando seu arco, assim, mais complexo de assistir e interpretar.

Adicionando um pouco da minha opinião nesse ponto, acredito que o público tenha dificuldade em se conectar com Korra porque ela se assemelha a um grande espelho da nossa própria adolescência. Entretanto, esse espelho não se limita a mostrar as qualidades da protagonista, e sim evidenciar uma série de questões complexas e problemáticas que negligenciamos ou jogamos para debaixo do tapete.

Korra não é tão carismática e nem é tão celibata. Ela, definitivamente, não se propõe a ser. Por outro lado, ela sempre tenta resolver muitas questões de forma impulsiva e imediatista. Não soa como uma adolescência tradicional? Que público gostaria de ver seu pior lado exposto na tela?

A injustiça de comparar as obras de Avatar

Por se tratar de obras para diferentes públicos e distintos objetivos, compará-las é um movimento um tanto quanto injusto na minha opinião. A Lenda de Korra não tem nenhuma pretensão de ser uma nova versão da Lenda de Aang. É notável que existe um esforço da equipe em separar essas duas narrativas e demarcar bem suas diferenças, até mesmo no ponto inicial: a escolha dos protagonistas. 

Ambas as obras têm pontos fortíssimos que devemos destacar e admirar. A Lenda de Aang consegue trabalhar uma narrativa de forma leve, abordando diversos pontos com maestria e equilíbrio. A narrativa do desenho é elogiada pela crítica, assim como a animação impecavelmente produzida. Não é sem razão que conseguiu consolidar uma base de fãs tão sólida ao longo dos anos.

Por outro lado, a Lenda de Korra tem uma narrativa ousada, abordando assuntos delicados com sensibilidade e trazendo personagens femininos fortes e em lugares de destaque. Merece palmas tanto pela coragem, quanto pela representatividade.

De todo modo, ressalto que a Lenda de Korra enfrentou mais conturbações durante a produção e exibição. A equipe sofreu com uma série de decisões controversas relacionadas à logística por parte da Nickelodeon. Como consequência, o desenho foi retirado dos horários na TV durante sua exibição, sendo concluído através da internet.

Essa ação levantou uma série de manifestações na base de fãs e foi abordada em diversos portais, teorizando acerca da motivação dessas escolhas. Entre as suposições, estavam teorias sobre a narrativa mais obscura da série e até mesmo as temáticas LGBTQIA+ abordadas no encerramento.

Lenda de Aang e de Korra marcaram uma geração em diferentes momentos de desenvolvimento.

Conclusão da série Avatar

De todo modo, quem cresceu acompanhando a franquia Avatar e se dedicou a absorver a série de forma profunda foi capaz de se conectar com uma das maiores obras de animação ocidental e com certeza aprendeu muito.

Durante essa trajetória, fomos capazes de ter contato com uma diversidade de temáticas, acompanhar animações e lutas espetaculares e se apaixonar por diversos personagens carismáticos. Avatar, definitivamente, não é uma obra que passa despercebida.

Indicamos assistir Avatar: a Lenda de Aang no streaming da Paramount Plus para iniciar sua jornada no mundo Avatar. Veja também nossa lista com 7 motivos para assistir Avatar: a Lenda de Korra.

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Bruno Vieira
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