O absurdo artístico de Monogatari

Com inspirações no cinema francês, nas obras dadaístas e no surrealismo, Monogatari cria uma obra densa e poderosa. 

Homem vomitando sangue amarelo em Monogatari.
Monogatari.

A serie literária Monogatari, com a primeira edição publicada em 01 de novembro de 2006, é um dos marcos da grande mudança no cenário da mídia escrita e animada japonesa, sendo um dos encadeadores da ascensão das ligth novels, uma mídia de romances ilustrados que se popularizou principalmente na internet.

Com elementos sobrenaturais e comédia a obra conta a história de Koyomi Araragi que durante um recesso escolar é transformado em um vampiro, futuramente tendo que resolver problemas com relações a criaturas místicas, deuses e monstros que acontecem a sua volta.

O autor Nishio Ishin traz em sua história diálogos complexos, engraçados e em certos momentos altamente intensos, sendo esse fator um dos principais atrativos da obra. As conversas dos personagens são desde os assuntos mais chulos, como uma discussão sobre a pronúncia do nome do protagonista, aos mais complexos, como um debate sobre existencialismo.

Das folhas à TV

Homem em meio a rodas de bicicleta em Monogatari
Monogatari.

De 3 de julho a 25 de setembro de 2009 o estúdio Shaft publicou sua adaptação de Bakemonogatari, utilizando dos 5 primeiros arcos dos livros, com uma ótima recepção da comunidade o estúdio continua adaptando as obras de Nishio, sendo a mais recente uma trilogia de filmes que contam os eventos de kizumonogatari (novel).

Um dos fatores que causaram a ótima recepção do anime é sua forma de direção e de escrita, que mantem o dialogo extenso e intenso do livro mas com um dinamismo nos visuais e estéticas que frequentemente se alteram, assim, criando um ambiente, praticamente, cinematográfico com ângulos não convencionais na mídia em que a obra é exibida. É frequentemente citado na comunidade uma relação entre as obras do diretor Tarantino e as adaptações de Monogatari, sendo correlacionado a forma de apresentar dialogo que ambos trazem, colocando este em foco, e a violência exagerada que é apresentada em suas cenas de ação.

Quebrando os padrões

Homem andando nos trilhos de um trem em Monogatari
Monogatari.

Um dos destaques do anime é sua escolha estética que cria, frequentemente, imagens surrealista e ideias diferentes, isto é, mostra pela constante mudança, da palheta de cor ou do estilo da animação, o fluxo do dialogo e sua direção ou a alteração da atmosfera em que os personagens se encontram, um bom exemplo é a cena de luta em bakemonogatari onde o sangue dos personagens mudam de cor, durante todo o combate, para representar o caos da situação.

Batalha surrealista
Monogatari.

Outra questão estética muito presente é o uso de colagens e reapropriação de imagens reais em cenas, tornando alguns frames em obras de artes saídas de uma exibição dadaísta com inspirações japonesas. No anime tal estética é usada de forma a criar um peso aos personagens, isto é, dar um fator real a momentos absurdos ou dramáticos das historias antecedentes, até dado momento, dos personagens. Essa ideia se mostra em muitos momentos de bakemonogatari, cenas nas quais os personagens contam suas histórias ao conhecer o protagonista, e em kizumonogatari, que por si conta uma história anterior as outras.

Contraste entre vermelho, preto e branco, com menina em azul ao fundo
Monogatari.

Por fim, é frequente o uso estilizado de câmeras e cortes nas cenas, isto é, em muitos momentos são utilizados “closes” em certas partes dos corpos dos personagens, geralmente olhos e boca, para transmitir sua emoção e acentuar suas ideias e muitas transições são feitas utilizando de flashes na tela, estes possuem o objetivo de transmitir o sentimento de que o leitor está consumindo um livro animado, que geralmente contém kanjis, trechos dos livros e números de paginas.

Número de páginas em Monogatari
Monogatari.

Com sua historia dinâmica, diálogo forte e temas poderosos a obra já se garantiria como um bom anime, mas ao somar a estética única e a animação excepcional ele atravessa a escala e se encaixa como uma obra-prima, um clássico moderno dos animes.

Nota: 5/5 (Clássico) 

Texto originalmente publicado por Felipe Braga

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2 Comentários
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Daniel

Otimo post!

Monogatari é uma das obras mais complexas e incríveis que tem até hoje no mundo dos animes, pena que o ecchi afasta tanta gente. Gostaria demais de algum canal fizesse mais conteúdo sobre a obra, adoro escutar podast ou algum video enquanto corro!
(Falo isso pq n achei um canal no Youtube do site)

Gabriela Spinola

Olá, Daniel! Não estamos com canal no YouTube ativo no momento, mas temos sim um podcast, que está disponível nas principais plataformas de reprodução de áudio, como o Spotify. Basta procurar por “OtageekCAST” (ou conferir o topo da coluna lateral direita do nosso site, ao acessá-lo no computador).