Entrevista | Richard Pace – O que o autor achou da adaptação de Batman: Sina Macabra

Batman: Sina Macabra foi lançada em 2003, mas só agora tivemos sua versão em desenho animado. O roteirista Richard Pace conta o que achou da animação.

Lançada no Brasil em 2003 pela editora Mythos, Batman: Sina Macabra é uma adaptação de pelo menos três histórias do escritor H. P. Lovecraft: Nas Montanhas da Loucura (a julgar pelo prólogo), A Cor que Caiu do Céu (que teve um filme recente com Nicholas Cage) e O Caso Charles Dexter Ward, cuja referência foi cortada na animação.

Somente agora, em 28 de março de 2023 foi lançada sua animação e somente agora eu tive tempo de postar sua nova entrevista aqui, falando sobre o que achou da adaptação de Batman: Sina Macabra (Batman: The Doom That Came to Gotham). Confira sua primeira entrevista aqui.

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Otageek- O que você achou da adaptação de Batman: Sina Macabra?

Richard Pace- Eu achei bem divertida e realmente fiel ao intento original que eu tive quando concebi a história pela primeira vez.

Otageek- O que achou das (poucas) mudanças em relação ao roteiro original? 

Richard Pace- Eu fiquei realmente feliz com as mudanças. Tem que ter mudanças quando pula de um formato de mídia a outro, principalmente com um hiato de 20 anos entre o original e o desenho animado.

Senhor frio escava um iceberg em busca de Yoguesotota. À esquerda, a versão em quadrinhos. à direita, a versão em desenho animado.
Senhor Frio
À esquerda, na HQ
À direita, na animação
Otageek- Pode dizer a que você mais gostou?

Richard Pace- Não quero arriscar dar spoiler, mas mas a substituição de certos monstros por fantasmas em uma cena próxima ao final foi bastante oportuna na minha opinião.

Otageek- Você (e Mike Mignola) foram avisados de que seria feita a animação?

Richard Pace- Foi uma surpresa total! Pra ambos, acredito.

Otageek- Vocês tiveram liberdade criativa? Foram chamados de alguma forma, ainda que para consultoria?

Richard Pace- Creio que nem Mike foi chamado para qualquer coisa.

Otageek- Você aparece como um dos roteiristas, ao menos como autor do argumento. A animação deve ter rendido ao menos alguns royalties



Richard Pace- Creio que ambos devemos receber, mas não faço ideia de como será calculado ou pago se qualquer quantia for arrecadada.

Otageek- O roteiro é bem fiel ao original, como convém às animações da DC, mas o traço parece aquém do original. Não acha que o traço da animação tem mais peso e gera mais atmosfera para a trama?
Sr. Frio escava uma geleira para desenterrar Yoguesotta na HQ
A cena original em quadrinhos

Richard Pace- Não creio que a animação no estilo de Troy* teria sido possível atualmente ou mesmo considerada comercial para a animação.  

*Troy Nixey o desenhista da obra original

Otageek- O que você acha dessa mistura do traço ligne claire com mangá presente nas animações atuais?


Richard Pace- É um assunto bastante complexo de se abordar. Temos aqui uma história bem sedimentada, mas que não permite qualquer tipo de visão unilateral. Mas eu também não acho que haja qualquer razão para esperar uma visão unilateral de franquias que são propriedades de uma corporação como Batman quando engajadas em produções mais caras como desenhos animados.

Otageek- O que achou da introdução de um novo personagem?
Kai Li Cain, a personagem que não aparece na HQ
Kai Li Cain. a personagem que não consta na HQ

Richard Pace- Novamente, fiquei satisfeito com todas as escolhas feitas, já que o objetivo foi fazer um filme divertido.

Otageek- Recentemente, uma fala de um personagem no trailer de Besouro Azul declarou: “Batman é um fascista!”. Você concorda? Batman é realmente um fascista?

Richard Pace- Não. Não em qualquer encarnação do personagem como herói. Costuma-se rotular muito facilmente os outros como fascistas quando na verdade achamos que eles são uns escrotos.

Eu poderia ver pessoas argumentando que Batman, em seus atos violentos como vigilante, é um perigo, mas ele é isento de autoritarismo, xenofobia e preconceitos culturais, aspectos corriqueiros do fascismo.

Há aqueles que dão apoio a ditadores. Há aqueles que querem que a polícia aja de forma violenta e criminosa com aqueles que são oprimidos e preteridos. Há aqueles que querem que os que possuem uma fé diferente ou são ateus, ou os que possuem uma identidade sexual diferente sejam punidos ou conduzidos de alguma forma ao ostracismo. ESSES são fascistas.

Batman é um vigilante que luta contra o crime e o caos, enquanto Bruce Wayne gasta milhões para combater a pobreza. A única similaridade com o fascismo é a propensão a se vestir de preto*.  

* N. do T.: Bem como, no Brasil, ocorreu com os Camisas Negras, no período da ditadura militar e a Marcha sobre Roma, no fascismo italiano.

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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[…] Entrevista | Richard Pace – O que o autor achou da adaptação de Batman: Sina Macabra […]

[…] Batman: Sina Macabra não deixa nada a desejar como animação oficial mas também não tem nada para se tornar um clássico. Se você quer uma diversão despretensiosa e um bom desenho animado de terror para crianças, não perca essa oportunidade de apresentar o universo lovecraftiano para seus filhos. Se leu a HQ, não perca seu tempo. Leia a nossa nova entrevista com o autor da história (que não é o Mike Mignola) aqui. […]