De sala cheia a poltronas vazias: por que a bilheteria dos filmes está despencando

A crise nas bilheterias revela um desafio crescente para o cinema, à medida que cada vez menos espectadores escolhem as telonas
Foto: Karen Zhao/Unsplash

Em matéria publicada pelo Deadline no último fim de semana, “Furiosa”, o novo capítulo da franquia Mad Max, de George Miller, bateu um recorde: a pior bilheteria nos últimos 29 anos em uma abertura no feriado do Memorial Day, nos Estados Unidos. O filme, que custou 168 milhões de dólares – a produção australiana mais cara da história, segundo o Deadline – arrecadou 58,9 milhões de dólares mundialmente, de sexta-feira (24) a domingo (26), valor abaixo do previsto. 

O capítulo anterior, “Mad Max: Estrada de Fúria”, sucesso absoluto da crítica especializada e do público, estreou em 2015 e arrecadou 45,4 milhões de dólares apenas nos cinemas dos Estados Unidos, e mais de 380 milhões de dólares em todo o mundo, ocupando o posto de maior bilheteria da franquia. 

O caso de “Furiosa”, que debutou com uma expectativa de grande sucesso, mas que fracassou nos números, retomou um velho debate na indústria cinematográfica: as pessoas estão indo menos aos cinemas?

Foto: Divulgação/Warner Bros. Pictures

A respeito deste caso, especificamente, em primeiro lugar, sua qualidade técnica pode surgir como argumento para justificar os números. O filme, que estreou no Festival de Cannes deste ano, em geral, debutou com comentários positivos da crítica especializada. No Rotten Tomatoes, a produção conta com 90% de aprovação da crítica e, também, do público geral. Contudo, apesar de não se igualar ao seu inabalável capítulo anterior em termos técnicos, seu resultado não foi desastroso. Por isso, compreender o panorama de fracasso de bilheteria, está além da qualidade da obra, afinal, “Furiosa” não é um caso isolado. 

Nas salas de cinemas, quem decide os números são o público. “O Dublê”, filme dirigido por David Leitch e estrelado por Ryan Gosling ao lado de Emily Blunt, custou em torno de 140 milhões de dólares. No fim de semana de estreia, arrecadou menos de 28 milhões – número abaixo das projeções – e, apesar de ter liderado a bilheteria no Brasil, até o momento, atingiu 127 milhões de lucro e já ganhou data de estreia no streaming, não angariando o suficiente para sequer se pagar. “Amigos Imaginários”, a aventura infantil estrelada por Ryan Reynolds, também debutou abaixo das projeções iniciais, arrecadando 35 milhões de dólares na sua estreia. 

Um levantamento divulgado pelo Comscore revelou que as vendas de ingressos nos cinemas dos Estados Unidos e no Canadá estão 9,8% abaixo do que em 2023 e, por isso, as receitas de bilheteria doméstica nos países devem cair neste ano para 8,5 bilhões de dólares, uma queda de 5% em relação ao último ano. No Brasil, o cenário é semelhante. Em dados coletados pela Ancine, em 2023, o público nas salas de cinemas decaiu 36% em relação a 2019, último ano antes da pandemia da Covid-19. Além disso, apenas 34% dos brasileiros frequentam o cinema pelo menos uma vez por mês. 

Contudo, o consumo do público geral mudou. A respeito disso, o teórico Henry Jenkins emprega o conceito de “Cultura da Convergência” a fim de definir as mudanças tecnológicas, industrias, culturais e sociais no modo pelo qual as mídias circulam em nossa cultura. O streaming e seu consumo são o resultado dessa cultura, um fenômeno que começou a se popularizar na década de 2010 e, por conseguinte, transformou a maneira como os espectadores consomem as mídias. 

O Brasil é o segundo país que mais consome serviços de streaming, conforme o relatório de Adoção de Streaming Global do Finder de 2021, ficando apenas atrás da Nova Zelândia. O brasileiro, em média, assina 8 serviços de streaming, segundo o Comscore. Um estudo mais recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) aponta que, em 2022, 31,1 milhões de brasileiros tiveram acesso a serviços de streaming pagos.

Um relatório divulgado pela The Cinema Foundation, por meio de uma pesquisa com espectadores dos Estados Unidos, revelou que metade dos entrevistados disse que era mais propenso a ver um filme em um serviço de streaming se ele fosse lançado nos cinemas. Ao analisar os cinco filmes mais assistidos em 2022 em seis grandes serviços de streaming, 22 dos 30 filmes listados tiveram lançamento nos cinemas, incluindo “Encanto” da Disney e “Sing 2” da Universal/Illumination.

À vista disso, são múltiplos os fatores que impactam diretamente na queda das bilheterias. A pandemia da Covid-19, por exemplo, causou um impacto significativo no setor, com os fechamentos de salas, adiamentos das produções e queda nas arrecadações. Ademais, a popularização dos serviços de streaming – um processo que já vinha ocorrendo, mas foi impulsionado pela pandemia – contribuiu para as novas maneiras de consumir conteúdos e, principalmente, possibilitou o acesso a milhares de produções por um preço “razoável”. 70% da Geração Z, por exemplo, afirmou preferir o streaming ao cinema, de acordo com uma pesquisa do The Quorum. Além disso, fatores socioeconômicos, culturais e políticos influenciam o cenário, como a alta dos preços dos ingressos aliada ao custo de vida, as leis de incentivo sendo descredibilizadas e o monopólio das salas de cinemas. Em suma, todas essas questões influenciam na decisão de frequentar os cinemas e, assim, impactam a queda das bilheterias. 

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Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

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