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Não entendeu os últimos episódios de Evangelion? Você (não) está sozinho
É notório que os dois últimos episódios de Neon Genesis Evangelion são esteticamente diferentes dos outros e narrativamente confusos. Mas o que de fato aconteceu?
O Início do Fim de Evangelion
Essa mudança no tom da série começou em torno do episódio 16, parcialmente devido ao tempo restrito para o lançamento de novos episódios, que foi contornado pela redução drástica nos frames desenhados para cada episódio; e também devido ao ataque de gás sarin no metrô de Tóquio, em 20 de março de 1995, com hideaki Anno – diretor e criador de Evangelion – removendo elementos da trama semelhantes ao atentado, e assim limitando ainda mais o orçamento e a agenda do estúdio.
Tais imprevistos resultaram em abordagens mais experimentais (e econômicas) nas animações, com vários episódios reutilizando animações, quadros estáticos incomumente longos, quadros de textos introspectivos e os dois episódios finais mudados de seu conceito original para uma análise psicológica dos personagens principais.
Mas antes mesmo desses acontecimentos, o estúdio Gainax já enfrentava sérios problemas financeiros. Seu trabalho anterior, Royal Space Force: The Wings of Honnêamise, foi considerado um fracasso comercial e um dos motivos da depressão de Anno, refletida em Evangelion. Anno acreditava tanto no projeto por trás de Evangelion que o plano inicial era mostrar 28 anjos em vez dos 17 originais. Além disso, o Projeto de Instrumentalidade Humana iria, a princípio, fracassar.
E apesar das limitações, imprevistos e reconfigurações da história, o resultado foi um dos finais mais ricos das animações japonesas, após ser complementado com o final em filme. Agora, com dois finais simultâneos, os dois últimos episódios do anime nos mostram os acontecimentos internos/psicológicos dos protagonistas, durante o Projeto de Instrumentalidade Humana, enquanto o filme End of Evangelion nos mostra os acontecimentos externos à instrumentalidade, em específico o terceiro impacto, que desencadeia a instrumentalidade.
Como evidência, várias cenas dos últimos episódios são também mostradas no filme End of Evangelion, incluindo a Unidade-02 submersa em um lago, Shinji e Asuka assistindo Misato e Kaji em seus momentos íntimos na faculdade durante a instrumentalidade, Misato caída ensanguentada e o corpo de Ritsuko baleado, flutuando em LCL.
O Projeto de Instrumentalidade Humana
A Instrumentalidade Humana, ao dissolver os “campos de terror absolutos” (A.T. Fields) que separam os indivíduos, basicamente destrói o mundo e torna todos a “mesma pessoa”. Sabendo que Neon Genesis Evangelion é explicitamente influenciado pela Cabala Judaica, o Projeto de Instrumentalidade Humana pode ser interpretado como a tentativa de reunir toda a humanidade a Deus, aniquilando thaumiel (que representa a dualidade, ou os A.T. Fields em Evangelion).
Assim, visa desfazer o vazio inicial da separação decretada antes da Gênesis bíblica, para um novo início – ou uma nova gênesis – como diz o próprio nome do anime. Esse é o objetivo de Ikari Gendo, pai de Shinji, pois é a única maneira dele se reencontrar com sua falecida esposa, mesmo que isso custe o mundo.
Shinji, ao atingir a instrumentalidade, depara-se com a escolha de encontrar seu caminho na unidade, mas escolhe recriar thaumiel e acabar com a instrumentalidade. Por isso, ao vencer suas inseguranças e tomar sua decisão, Shinji é parabenizado por todos na icônica e confusa cena do parabéns.
Uma forma alternativa de assistir ao final de Evangelion, para que a história fique mais linear e menos confusa, seria começar a assistir o End of Evangelion logo após o episódio 24 do anime e parar na parte em que humanidade vira LCL (também conhecido como tang de laranja), por conta dos rumos do Projeto de Instrumentalidade Humana.
Em seguida, assista aos episódios 25 e 26, que demonstram basicamente o Projeto de Instrumentalidade Humana funcionando internamente. E finalmente, volte ao End of Evangelion, quando Rei/Lilith pergunta se é isso que o Shinji queria.
Ainda assim, você perceberá que tudo isso não é o suficiente para entender todos os mistérios do universo Evangelion. Mas esses mistérios servem para nos aproximar dos protagonistas – que também não sabem a fundo o que está acontecendo – e nos imergir na construção de mundo do anime. Então, mesmo que haja explicações alheias ao anime, como em jogos e na sua versão em mangá, acredito que elas possam ser naturalmente dispensadas, sem que isso interfira na qualidade da narrativa.
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