Crítica | Uzumaki e a espiral do horror

Uzumaki é uma das obras mais famosas e aclamadas do magaká Junji Ito, reconhecido por suas histórias de horror, que trabalham da forma mais macabra possível as coisas mais simples. A exemplo disso existe o próprio Uzumaki, no qual o desespero, o medo e todo o clima de tensão que embala a história surge do pavor e fixação pelas espirais.

O mangá foi originalmente publicado em volumes separados, mas a editora Devir compilou em um volume único a história completa. Nessa edição, temos 20 capítulos e cada um conta uma história diferente – apesar de serem ambientadas no mesmo lugar e terem o fenômeno da espiral como a causa dos conflitos. Somos apresentados, a cada capítulo, a personagens diversos, que de várias formas sucumbiram à obsessão pelas espirais.

Capa do mangá Uzumaki
Capa de Uzumaki.

A história se passa em uma cidadezinha chamada Kurôzu (o que ironicamente significa redemoinho preto) e somos guiados, no decorrer da narrativa, por uma garota chamada Kirie Goshima. Ela acompanha de perto os estranhos acontecimentos que passam a assolar a cidade, juntamente com seu namorado Suichi Saito, um dos primeiros moradores a pressentir a maldição da espiral.

Os eventos envolvendo a espiral acontecem de forma progressiva, uma característica do próprio autor de aos poucos suscitar o horror e o pânico, que funciona de forma primorosa. No começo, tudo parece apenas uma fixação – mesmo que exagerada –  passageira. Contudo, no decorrer da história, a espiral começa a tomar conta de tudo e a influenciar todos que moram na cidade.

Kirie Goshima protagonista - otageek
Kirie Goshima

Junji Ito utiliza da Teoria do Caos e demonstra as consequências do efeito borboleta a partir do cenário de crescente horror que cria em Kurôzo. Um de seus personagens, por exemplo, cita em determinado momento que “o bater de asas de uma pequena borboleta pode ser a causa de uma tempestade do outro lado do globo”, aludindo, nesse caso, aos primeiros acontecimentos causados pela espiral. Eram pequenos no início, mas com uma repercussão devastadora sobre Kurôzu.

É interessante observar, também, como essa paranoia está presente em todo o mangá, desde as primeiras páginas. Nos primeiros quadros, já é possível ver a presença de espirais e, conforme as páginas passam, sempre damos de cara com as mesmas, muitas vezes presentes em pequenos detalhes, mas mesmo assim sem se deixarem esquecer.

Essa ambientação é capaz de te transportar para dentro da história e fazê-lo sentir o pânico pungente de estar rodeado pela maldição que envolve a cidade. Os traços e as ilustrações de Junji Ito transmitem claramente o desespero dos personagens e toda repulsa que o body horror pode causar. As sobrancelhas arqueadas e os olhos esbugalhados são expressões constantes, que fazem jus aos cenários construídos pelo mangaká.

A cada virada de página, somos surpreendidos com cenas assustadoras, escatológicas e claustrofóbicas. São ilustrações que conseguem transmitir o peso do horror contido na história, pois há um detalhamento que torna diversas cenas extremamente gráficas e nauseantes, o que certamente não é recomendado para quem é sensível.

Cena do mangá Uzumaki - otageek
Kirie e Azami

Com tudo isso, Junji Ito consegue ainda bordar temáticas sociais relevantes, como o bullying sofrido nas escolas, a desigualdade social, luto, relações familiares, dentre outros temas. Todos acompanhados, claro, do toque característico do autor.

Embora o horror, o terror e o medo sejam aspectos predominantes ao longo da leitura, a ânsia em descobrir o mistério que há por trás da espiral é combustível suficiente para prosseguir, além da curiosidade por saber qual será a próxima história e se ela conseguirá ser tão assustadora quanto a que passou.

Kirie Goshima e Suichi Saito personagens de Uzumaki
Kirie e Suichi esperando você ler Uzumaki.

Por ter esse formato de antologia, as histórias não deixam pontas soltas quanto aos acontecidos com os personagens vítimas da espiral, pois cada uma se finda em si mesma, apesar de persistir em cada uma a maldição da espiral e esse fato ser a motivação de tudo.

No final da jornada, é possível entender melhor sobre a dominação da maldição, no entanto, isso não é algo objetivamente explicado e que responda todas as questões ou o porquê de cada acontecimento. Isso pode ser um incômodo para quem gosta de finais fechadinhos.

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Uzumaki já foi indicado ao prêmio Eisner em 2003 e selecionado como uma das 10 Melhores Graphic Novels para adolescentes em 2009, pela Young Adult Library Services Association. Já foi também adaptado para o cinema em um filme live-action dirigido por Higunchisky e para dois jogos de videogame. Além disso, a obra aguarda o lançamento de um anime que está em desenvolvimento.

Uzumaki é uma grande obra e leitura obrigatória para aqueles que apreciam o gênero. É também uma ótima porta de entrada para quem ainda não conhece Junji Ito e tem interesse em conhecer o universo já criado pelo autor.

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Daniela Palmeira
Daniela Palmeira

Olá pessoal! Sou estudante de jornalismo, apaixonada por literatura e cinema! Estou por aí sempre escrevendo e conversando sobre livros, filmes e séries.

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