Crítica | Quadrinho ‘O Fantasma do Fandom’ na POC Con 2021

Fanfics: onde vivem? O que comem? Como se relacionam? Quem as lê? Quem as escreve? Para o que servem? Descubra isso e muito mais em O Fantasma do Fandom, HQ escrita pela quadrinista brasileira Renata Nolasco, disponível na POC Con.

A primeira coisa que notamos ao abrir a HQ O Fantasma do Fandom é o desenho: foi impossível não lembrar dos traços e cores presentes no desenho Steve Universo, da Cartoon Network. Fora isso, a artista sabe desenvolver uma interação bem dinâmica entre os quadrinhos e a história, quase como uma quebra da 4ª parede dentro do gibi.

Capa da HQ O Fantasma do Fandom, de Renata Nolasco -  Crítica - Quadrinho 'O Fantasma do Fandom', na POC Con 2021 - Otageek

A História e a Narração

A HQ não é feita só de desenhos e traz consigo uma história que tem como objetivo passar uma mensagem. O enredo começa com três amigos saindo da sessão de cinema do filme Rogue One, de Star Wars. Eles então entreouvem duas meninas comentando sobre um possível casal do filme e se questionando se já haveria fanfics.

Isso inicia entre os três amigos uma discussão sobre as famigeradas fanfics, com a protagonista defendendo assiduamente as produções frente aos seus amigos.

E aí entra uma característica desta obra, que conta não uma história ou uma narração de acontecimentos, mas é quase como um monólogo da protagonista sobre as fanfics, com pequenas interrupções ou questionamentos dos amigos.

Ademais, as falas dos meninos não agem como uma conversa natural, mas são calculadas para dar liga ao que a protagonista precisa dizer para passar a mensagem que a autora deseja.

Entretanto, isso não significa que a mensagem passada através da HQ seja inválida, errada ou qualquer coisa assim, pelo contrário. Porém, a forma como Renata Nolasco escolhe comunicá-la é dinâmica visualmente, mas não em linguagem, dando a sensação de uma conversa forçada.

Cena inicial da HQ O Fantasma do Fandom - Crítica - Quadrinho 'O Fantasma do Fandom', na POC Con 2021 - Otageek
Vai dizer que não lembra Steve Universo?

Mas, afinal, qual é a mensagem?

Renata traz conceitos e ideias muito importantes e que precisam ser reconhecidos por todos. Ela entra em questões sobre como as mulheres são desvalorizadas como escritoras e como as fanfics permitem que essas escritoras tenham um espaço de liberdade para suas criações.

Também questiona o fato das fanfics serem algo que causa vergonha e se seria porque são consideradas histórias com temas femininos. Além disso, na minha opinião, um dos melhores pensamentos foi a dúvida do porquê da fetichização de relacionamentos gays nas obras.

E eu até poderia me aprofundar mais nos debates trazidos pelo gibi, mas isso estragaria a experiência de ler O Fantasma do Fandom. O ponto alto é ver a autora, através de sua personagem protagonista, argumentar brilhantemente seus pontos, quase não deixando espaço para questionamentos, pois é tudo bem amarrado.

Interação entre a protagonista e os quadrinhos - Crítica - Quadrinho 'O Fantasma do Fandom', na POC Con 2021 - Otageek
A interação da personagem com os quadrinhos é ótima.

Público-alvo de O Fantasma do Fandom

Agora, vale a pena pensar sobre quem a obra vai atingir. Apesar de bem escrita, argumentada e bonita visualmente, provavelmente a HQ chama a atenção de um público específico, que concorda e já reconhece todos os pontos apontados pela autora.

Pessoas com pensamentos diferentes como, por exemplo, os amigos da protagonista na história, não seriam atraídas para ler ou seriam teimosas o suficiente para não aceitar. Portanto, possivelmente não seriam convencidas por um monólogo sobre o assunto. E são essas pessoas que mais precisam aprender sobre o tema.

Essa questão não é necessariamente algo negativo nessa obra específica, apenas um apontamento. Expresso aqui o desejo por obras que consigam trazer temas de tal importância de uma forma que alcance o maior público possível.

Por último, destaco que a edição possui alguns erros gramaticais, umas letrinhas trocadas que pediam por uma pequena revisão e correção. Porém, é passável, ao ver que é uma publicação independente. E esses erros em nada atrapalham a experiência de leitura de O Fantasma do Fandom, que no fim é muito rápida e interessante.


Se você se interessou e quer ler, O Fantasma do Fandom e inúmeras outras obras estão disponíveis gratuitamente no site da Gibiteca Digital da POC Con. Apoie os quadrinistas brasileiros!

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Nathalia Mendes
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