Crítica | O socialismo nada socialista em Born In Flames – MUBI

Born In Flames” é um filme de ficção em estilo de documentário de 1983 presente no catálogo da MUBI.

A obra tem direção da norte-americana Lizzie Border e se passa em uma realidade em que ocorre uma revolução socialista pacífica nos Estados Unidos. No entanto, grupos ativistas buscam expor e lutar contra os problemas contraditórios ao socialismo relacionados às opressões que assolam as minorias estadunidenses.    

Imagem do poster oficial do filme "Born In Flames" em que mostra a personagem radialista Honey segurando um microfone.
Pôster oficial do filme “Born In Flames”. Foto: Divulgação.

Sobre a Obra

O título do longa-metragem vem da música “Born in Flames”, escrita por Mayo Thompson, da banda Red Krayola. A canção dá abertura ao filme e toca novamente diversas vezes durante a trama. Toda a trilha sonora segue um padrão: músicas com letras e melodias igualmente fortes.  

O enredo em forma de documentário apresenta dois grupos feministas distintos de Nova York que compartilham suas ideias, bem como suas preocupações a respeito das opressões sofridas pelas mulheres, os negros, os latinos e os LGBTS através de programas de rádio piratas.

A Rádio Ragazza tem liderança de Isabel (Adele Bertei), uma mulher branca lésbica e ousada; em contrapartida, a Rádio Phoenix tem como porta-voz Honey (Honey), uma afro-americana simpática.

Cena do filme "Born In Flames" que mostra a personagem Honey em meio a um programa d Rádio Phoenix
Cena do filme “Born In Flames” que mostra a personagem Honey em meio a um programa da Rádio Phoenix.

Nos Estados Unidos pós-revolução socialista, a população radicaliza suas ações após Adelaide Norris (Jean Satterfield), uma ativista política viajando pelo mundo, ser presa ao chegar a um aeroporto de Nova York e morrer suspeitosamente na prisão.

Assim como os grupos feministas, existe um Exército de Mulheres liderado por Hilary Hurst (Hilary Hurst) e aconselhado por Zella (Flo Kennedy). Dessa forma, um agente do FBI (Ron Vawter) investiga o Exército, Adelaide Norris e as estações de rádio. Simultaneamente, editores de um jornal socialista monitoram os passos do agente.

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Um Socialismo Nada Socialista

Na “democracia socialista” dos EUA retratada em “Born In Flames”, diversas mulheres com perspectivas diferentes expõem o sexismo e toda a sua violência, assim como a necessidade de tratar esse problema por meio da ação direta.

Cena do filme "Born In Flames" em que mostra uma mulher pichando a frase: 'Vítimas de estupro não ganham nada' em uma parede.
Cena do filme “Born In Flames” – ‘Vítimas de estupro não ganham nada’.

Roteirizado e dirigido com maestria, o filme pode até mesmo levar as pessoas a acreditarem que a obra se trata de um documentário de não-ficção por conta de sua atmosfera despojada, desde a fotografia até as atuações.

Sobretudo, a obra traz à tona a ideia de que, para pensar e arquitetar um novo modelo de sociedade – nesse caso a superação do capitalismo – deve-se considerar as opressões de gênero, raça e classe e as formas que elas atuam no corpo social.  

Tal concepção chama-se de “interseccionalidade”, como explica a professora e filósofa Angela Davis em seu livro “Mulheres, raça e classe”:

“É preciso compreender que classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a classe. Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas categorias existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras.”

Nos Estados Unidos de “Born In Flames”, as opressões sofrem apagamentos tanto durante como depois da revolução, o que, em contrapartida, discorda da ideia de coletividade e inclusão do socialismo.

Por fim, o longa-metragem ousado, expositivo e instigante traz reflexões que se mostram urgentes em nossa realidade.      

Born In Flames está disponível no MUBI.

Assista ao trailer:

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Isabelle Ferreira
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Oi, meu nome é Isabelle, pazer! Sou mineira e do signo de virgem.

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