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Crítica | Little Nights, Little Love
Little Nights, Little Love, filme de 2019 dirigido por Rikiya Imaizum, mescla romance, drama e uma boa pitada de comédia. Simplicidade e complexidade se unem de uma forma única!
O filme esteve disponível durante o Japan Film Festival Plus, um festival de cinema produzido pela Fundação Japão, oportunidade na qual este rapaz que vos fala pôde assistir.
“Boku Sato é um gerente de TI de 27 anos que trabalha para uma empresa de pesquisa de mercado. Um dia, em frente à estação Sendai, ele pede às pessoas que passam para que preencham um questionário, mas tem dificuldade em encontrar participantes dispostos. Até que uma mulher de terno preto concorda em responder ao questionário. Sato então vê a palavra “shampoo” na mão dela… será esse o destino?”
Com certeza você já ouviu que “nem tudo é o que parece ser”. Bom, essa é uma boa forma de descrever as primeiras impressões que temos desse filme! Principalmente porque ele, mesmo sendo um filme de comédia romântica, não segue uma receita pronta.
Um verdadeiro prazer em Little Nights, Little Love é poder acompanhar histórias de diversos ângulos, que, em dado momento, podem conectar-se ou não. O ato inicial apresenta os personagens num ritmo lento que faz parecer que o filme não vai engatar, mas em dado momento você entende o motivo disso.
Por mais que sejamos apresentados a um protagonista, o longa funciona em outra lógica e falarei mais sobre no próximo ponto. No entanto, ele constrói de forma muito positiva a polarização de alguns personagens no roteiro. Como?
Se de um lado temos figuras com visões de mundo sonhadoras e apaixonadas, a contrabalança existe com outras figuras céticas e duras. E, fazendo valer a ideia de “nem tudo é o que parece ser”, você ainda pode se enganar muito com essa galera!
Personagens cativantes (e irritantes)
Veja bem, enquanto espectador, tenho uma tendência a escolher personagens que serão alvo da minha antipatia. Fiz isso em Little Nights, Little Love, mas quebrei a cara. Ao final do segundo ato, muitas motivações ficam claras e aí, BOOM, o personagem te conquista.
Nosso “protagonista” (já explico) Boku Sato, interpretado pelo excelente Haruma Miura, nos guia pelos núcleos do filme. É assim que ele consegue captar de forma muito clara o sentimento de enxergar o mundo de forma apaixonada. E em seguida amadurecer com os aprendizados.
Com ele, vemos a complexidade das relações, pensando sobre o destino e nossas expectativas. Haruma, que veio a falecer em 2018, entregou um personagem simples, mas cativante e capaz de construir um arco de amadurecimento muito delicado.
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Os demais personagens, como Yumi Oda (Erika Mori), Fujima (Harada Taizo) e Kazuma Oda (Yuma Yamoto) não são subdesenvolvidos. Eles também não orbitam em torno do protagonista sem motivação própria.
Existe um cuidado com suas histórias, seus sentimentos e lutas internas. É por esse motivo que não vejo o Sato como único protagonista. Mesmo com menos tempo de tela, eles são bem trabalhados!
E aqui vai um elogio para o roteiro, que além de costurar histórias consegue dar detalhes ao público sobre um personagem num arco diferente do seu. Vale destacar os diálogos bem construídos!
No fim das contas, até mesmo os personagens mais irritantes (um beijo, Kazuma!) conseguem nos cativar.
O que não foi tão bom assim…
Sem cerimônia eu te digo: a trilha sonora não é o ponto alto. Na verdade, eu achei ela bem sem graça! Isso porque ela não é tão bem trabalhada, o que nos leva constantemente a ver um momento de profundidade ou de comicidade com uma sonoplastia que lembra um trabalho amador.
Mesmo a excelente música “Little Nights”, de Kazuyoshi Saito, uma canção original feita para o filme, não consegue carregar a trilha sonora sozinha. Como efeito, o filme perde em qualidade por sua trilha sonora?
Eu diria que não, porque no fim das contas, a trilha sonora fica tão subdesenvolvida que não consegue ser realmente relevante. Mas sinto muito se você gosta de trilha: vai sentir falta dela.
Outro ponto que merecia mais atenção foi o momento do salto no tempo que o filme propõe. De forma inesperada (sério, é do nada), 10 anos se passam! O público é jogado no colo de outras narrativas sem entender ao certo o que está acontecendo.
Durante o início da transição de tempo, o filme perde muito em ritmo e isso dá uma desanimada. Felizmente, tão repentinamente quanto “desanda” ele retoma e nos surpreende.
Confesso que senti falta de um desfecho mais claro para alguns personagens, mas é possível compreender que existe uma escala de importância no tempo de tela e certos cortes precisam ser feitos.
Refletir faz parte
Little Nights, Little Love engana muito à primeira vista, principalmente por trazer camadas de reflexões. Tudo o que você precisa fazer é se permitir enxergar. Sim, porque essas reflexões não estão abaixo de camadas e camadas de subtexto.
Os diálogos são muito gentis com o público! Quando mergulhamos na forma do Sato de ver o mundo percebemos como é possível amadurecer sem perder a essência sonhadora.
A narrativa reflete muito sobre desejos e propósitos também. Conforme avança no tempo, ele discute o aprendizado entre gerações e o quanto, muitas vezes, a vida nos conduz e deixamos alguns sonhos de lado.
Os personagens passam por desafios de forma cíclica e, quando acontece, as situações têm pesos diferentes… e impactos diferentes. Em Little Nights, Little Love, você vê um filme simples que aborda temas complexos.
O amor, o destino, ser mulher no Japão (esse momento é construído com especial delicadeza, sem deixar de colocar o dedo na ferida), os lugares que ocupamos no mundo, sonhos e receios.
Todo esse mix torna a experiência prazerosa e leve. Somos levados por risadas, drama e romance por quase duas horas, mas sem que isso seja enfadonho. A tranquilidade com a qual o roteiro costura as histórias é muito interessante e vale a pena conhecer. Nem que seja para refletir um bocadinho!
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