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Crítica | Li’l Spider Girl, a fofura aterrorizante
Em “Li’l Spider Girl”, curta de 2012, acompanhamos a garota Mizuki e o Sr. Suzuri, um conhecido que trabalha no antiquário de seu avô. Num dia de limpeza, entre caixas e caixas de livros e antiguidades, eles encontram um exemplar antigo e selado.
Tudo parecia comum até que o selo rompido libera uma garotinha meio aranha e assusta a dupla.
Lendas antigas, clichês reais
Caso você, como eu, não esteja familiarizado com o folclore japonês, a criatura narrada em “Li’l Spider Girl” é uma Jorōgumo. Em uma das vertentes da lenda, conta-se que qualquer aranha que completar 400 anos receberá o poder de transformar-se em uma sedutora mulher.
Chamadas de “Senhora da Ligação” ou “Aranha Prostituta”, as Jorōgumo são consideradas uma Yokai. Não temos uma palavra de equivalência no ocidente, mas pode ser um demônio, um espírito, uma assombração…
A forma como o curta se utiliza da lenda é bem interessante, principalmente por desenvolver uma licença poética. Conseguimos assim assistir a um povo que sofreu nas mãos de uma dessas Jorōgumo e um herói que a contrapôs.
A premissa do curta é bem simples e ele acerta em cheio na construção de narrativa. A mescla de presente, com Mizuki e Suzuri, e passado, contando um pouco das lendas por trás da história daquela garota, é muito boa.
O maior destaque, sem dúvida, é a trilha sonora: simples, mas no ponto! Ela funciona muito bem para construir a estética do filme que, ao contrário do que parece à primeira vista, caminha para um ar de suspense. Não, isso não é um spoiler!
Muito pelo contrário! Na verdade, eu aproveito para revelar os caminhos do roteiro para te deixar preparado. A animação traz traços bem característicos de anime, o que é capaz de criar uma identificação natural com qualquer um que acompanhe o cenário japonês.
É com o conforto criado pelos diálogos, pela fofura da garota-aranha e pelas cenas que sempre têm um ar intimista, que a narrativa constrói uma sensação calorosa. No entanto, isso pode ser rapidamente quebrado. Essa não é uma história fofa sobre uma garota fofa.
Infelizmente, mesmo com uma lenda intrigante e uma trilha sonora maravilhosa, não é possível esconder o óbvio. “Li’l Spider Girl” peca por apostar numa solução simples e clichê. Por toda a construção, você espera algo diferente, mas não rola.
No fim das contas, a produção resolveu a trama como se resolvem todos os filmes do gênero (sem spoilers, prometo). Quando o curta acabou, eu não pude deixar de sentir um misto de irritação e desencanto, mas sinceramente não quero atrapalhar sua experiência com ele.
Lendo entre as entrelinhas apesar dos clichês
Um diálogo no final com o Sr Suzuri me trouxe um outro olhar sobre o curta, me fazendo refletir que existe mais para pensarmos ali apesar de sua conclusão simples. O diálogo é meio decodificado, mas é possível perceber uma mensagem.
Então, envolvendo essa revelação e diálogo, no final resolvi fazer uma pesquisa a partir do incômodo com a relação entre Suzuri e a garota. Pude assim encontrar informações sobre o problema do abuso infantil e a sexualização de crianças em algumas culturas, em especial a japonesa.
Também não poderia deixar de lembrar de uma das teorias sobre “A Viagem de Chihiro”, aquela que versa sobre a casa de banho ser uma apologia à prostituição e abuso de menores.
Dentro da leitura que fiz, “Li’l Spider Girl” é uma história de horror que se apoia nas lendas Jorōgumo. Ok! Mas também coloca o dedo na ferida sobre pedofilia e abuso infantil.
Isso porque toda a construção da relação de encantamento entre Suzuri e a garota-aranha é muito adversa. Ainda mais se considerarmos que as Jorōgumo são chamadas de “Aranha Prostituta”.
Compreendemos que existe um certo nível de encanto da garota, próprio da lenda, mas isso não anula a estranheza do momento. Então, mesmo não gostando do fim, ainda te incentivo a assistir!
Você pode encontrá-lo em outras plataformas. E assim que ver, passe aqui para a gente conversar e você poder me contar mais sobre suas percepções!
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