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Crítica | Avatar: O Caminho da Água, viaje em alto mar através de Pandora
Avatar: O Caminho da Água apresenta um espetáculo de técnica e expande a natureza de Pandora com imersão e beleza. Porém, peca no desenvolvimento de personagem e nos assuntos abordados dentro de seu roteiro.
A sequência dirigida por James Cameron traz, novamente, Jake Sully (Sam Worthington) e Neytiri (Zoe Saldana) agora com o desafio de criar seus filhos: Neteyam (Jamie Flatters), Lo’ak (Britain Dalton), Tuktirey (Trinity Bliss) e Kiri (Sigourney Weaver).
A partir do retorno do “povo do céu” (ou humanos), agora, com o intuito de acabar com a insurgência dos Na’vi e com a liderança de Jake, a família Sully se vê obrigada a buscar outro lugar para proteger a si mesmos e à sua aldeia.
Uma peregrinação que acaba por destinar-se num arquipélago onde se localiza a aldeia “Metkayina”, composta por Na’vi que relacionam-se, harmonicamente e espiritualmente, com a água e seus animais (diferente da aldeia “Omaticaya” que vive nas florestas de Pandora). A adaptação e a fuga são os primeiros obstáculos do núcleo principal.
A discussão mais retratada e mais bem aprofundada é a relação entre o mar, os humanos e os Na’vi.
“A água conecta todas as coisas, da vida à morte, da escuridão à luz”
O signo da água é belo, em praticamente todas as sequências ela está presente como um pano de fundo de uma exploração ou de um combate.
Para os Metkayina, a água conecta tudo e tal qual as correntezas e ondas, ela faz fluir a vida desde seu início até seu fim — os Metkayina nascem no mar e são devolvidos pós-morte ao mesmo. A água está presente na escuridão (no cerne dos pensamentos, das dúvidas e dos lutos de cada um) e na luz (explicitamente, ela clareia a cabeça, é um solução dos problemas e uma fonte de conhecimento e devoção).
Há, inclusive, um paralelo com os Omaticaya, já que os mesmos têm essa devoção à floresta, mostrada no primeiro filme através de vários conceitos e, entre eles, a ideia de que a natureza “empresta” energia aos seres para que vivam suas vidas e, após o término, devolvam essa energia à floresta.
“Avatar: O Caminho da Água” é um daqueles filmes que vale a pena assistir no cinema por conta do 3D e do áudio. A experiência é quase como se viajássemos por Pandora.
A expansão realizada nessa sequência de Avatar é magnífica, a nova fauna e flora apresentada nos convida a contemplar uma área do planeta maravilhosa e viva. A imersão, com toda certeza, é o ponto alto, no qual momentos de observação e investigação ajudam ditar o ritmo da trama (dar uma respirada) e nos aproximam das situações que acontecem naquele universo.
Essa beleza estética vai além da paisagem em si, ela alcança também os personagens. As feições falam, algumas das vezes, mais que palavras.
A expressão corporal e facial nos mostra um espelhamento entre animal e Na’vi, a fauna se comporta de modo similar aos Na’vi e vice-versa: atuam em comunidade, são muito emotivos (assim como é destacado numa cena de arrasar o coração), têm laços parentais (sendo comum um Na’vi ter um animal marinho como um “irmão espiritual”), raciocinam, possuem filosofia e moral próprias, criaram linguagem própria e cada indivíduo possui personalidade única.
Em suma, a natureza atuante nesse novo arquipélago (pelo menos para nós, telespectadores) é brilhante em sua expressividade e significado. E vai se perpetuar por um bom tempo como uma das obras mais bonitas, esteticamente, da história do cinema.
Mais assuntos e diversos obstáculos são colocados no desenrolar da história, aí jaz um dos pontos que torna o roteiro de Cameron e Josh Friedman problemático.
Os antagonistas, os humanos, retornam com sede de vingança e exploração. Tal qual o primeiro filme, aqui é explanado a interferência violenta dos “povos do céu” na vida dos seres e espécies nativas. Do mesmo modo que a harmonia fauna-nativos é trazida, o confronto humano-Pandora é também enfatizado.
Contudo, o problema jaz em outros temas que carecem de atenção e acabam por serem solucionados de forma simplista. O parentesco, a relação entre pai e filho é um tema forte que surge desde o início e que, posteriormente, resolve-se com um passe de mágica (e do tipo de magia que não se pratica no universo de Avatar, mas em alguns roteiros por aí…) e deixam ganchos nem tão interessantes para a próxima sequência.
Uma personagem muito relevante em texto e ações no filme anterior, que teria potencial neste segundo, é colocada bastante de lado, talvez para dar lugar a novos personagens que, em caso de alguns deles, não demonstraram real importância para o “andar da carruagem” e entregaram desfechos confusos e bem razoáveis.
Alguns momentos de contemplação a partir dos espectadores e inserção dentro dos vários domínios desse ambiente tomam conta de várias partes do filme (e não vou negar, sempre são belíssimos). Todavia, nem todas as vezes denotam importância para a construção do roteiro, é o belo agindo pelo belo, simplesmente. No geral, menos de 3 horas seriam suficientes na manutenção de desfechos e ritmos agradáveis.
Em resumo, Avatar: O Caminho da Água, apesar de deixar a desejar na construção de seu roteiro, denuncia uma situação histórica que se perpetua até os dias atuais: a tentativa de afastamento do homem de seu meio atuante. Distanciamento que faz o homem enxergar a natureza com olhar de funcionalidade (ou até pragmatismo) e tratá-la como uma fonte de recursos infinitos.
Uma separação anormal que acarreta na caça predatória em grande escala com vista no enriquecimento, na exploração nociva desenfreada dos recursos naturais, na modificação agressiva impetuosa através de máquinas brutas de metal e na invasão das terras de povos nativos por considerá-los inferiores a qualquer plano econômico de desenvolvimento que os humanos possam ter.
“Eu vejo você”
Os seres de Pandora respeitam e protegem a natureza, a cooperação e a mutualidade é a meta sempre, eles entendem que não conseguem viver sem a presença dela e que ela necessita de cuidados.
A água conecta todas as coisas, porque nada nesse gigantesco ecossistema existe sem o auxílio de outros fatores, um impulsiona o outro e assim se segue. Os Na’vi veem a natureza, a natureza vê eles, e o “povo do céu” vê eles mesmos em cima de um banco.
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Perfeita descrição! Nos transporta ao filme e nos dá vontade de correr para vê-lo .