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Crítica | A realidade dramática nua e crua de “Em Busca da Vida”
Sinopse de Em Busca da Vida: Han Sanming, que trabalha em minas de carvão e Shen Hong, uma enfermeira, retornam à cidade chinesa de Fengjie, prestes a ser engolida pela barragem de Três Gargantas, para resolver assuntos pendentes.
Direção: Jia Zhangke.
Elenco: Tao Zhao, Zhou Lan, Sanming Han, Lizhen Ma e Hongwei Wang.
O filme está disponível até o dia 15/02 na plataforma Supo Mungam Plus em sua parceria com o My French Film Festival.
Conflitos e contexto histórico
O longa-metragem do diretor Jia Zhangke, que foi ganhador do maior prêmio do Festival Internacional de Cinema de Veneza em 2006, carrega dramas culturais, familiares, pessoais e econômicos de forma expositiva e com uma sutileza que aproxima o telespectador da vida real.
A trama acompanha dois personagens principais com vidas distintas, mas ambos possuem feridas ainda abertas do passado que são, de certa forma, semelhantes.
O minerador Han (Han Sanming) é um homem de classe baixa que está à procura de sua esposa, que o deixou há 16 anos, e de sua filha adolescente que nunca chegará a conhecer. Já Shen Hong (Zhao Tao) é uma enfermeira atrás de seu marido que desaparecera sem avisar após ser contratado para trabalhar em uma barragem.
Para isso, Han e Shen Hong vão até o condado Fengjie. Entretanto, boa parte do local havia sido inundado para a construção da usina Três Gargantas no rio Yangtze, e o segundo estágio da inundação estava prestes a acontecer.
Três Gargantas é considerada a maior barragem do mundo e um local de grande conflito cultural e político por conta de questões ambientais e humanitárias. Mais de um milhão de pessoas foram desalojadas para a construção da barragem. Jia Zhangke usa esse pedaço de história a fim de explorar ideias visuais e o comportamento humano.
O visual
Elegantemente filmado por Yu Likwai, a obra começa com uma série de panos laterais quase contínuos que mostram homens, mulheres e crianças reunidos em um barco no rio Yangtze, perto da barragem. A câmera percorre os passageiros devagar o suficiente para que o telespectador possa ver cada um rindo, conversando e descansando.
Ao longo do filme, enquanto acompanha-se os personagens em suas jornadas separadas – unidas apenas pela coincidência da busca – a vista muda para uma realidade mórbida de prédios caídos na região do vale já demolida em antecipação para a inundação planejada.
Em um tipo de paradoxo, a fotografia é embelezada pela paisagem montanhosa da região. Tem-se uma conexão entre a paisagem natural e a feita pelo homem – entre a beleza fácil da natureza imutável e a beleza lúgubre, porém misteriosa, da cultura devastada.
De certa forma, a China é o personagem central de Em Busca da Vida.
Apesar do peso do ambiente devastado, o filme possui um toque de leveza que pode ser reconfortante. Os personagens centrais, além de carregar seus fantasmas do passado, possuem suas próprias questões – enquanto buscam seus amados, procuram também a si mesmos.
Com um roteiro bem construído, personagens profundos, fotografia seleta e uma trilha-sonora meticulosa que promete emocionar o público nos momentos certos, “Em Busca da Vida” mostra a caminhada do ser-humano em uma linha tênue entre o paraíso e o inferno.
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