Como saber identificar uma boa atuação?

"Aquele" ator é tão ruiml! Será mesmo? Vamos entender.

A atuação é um dos componentes de um filme que mais chama a atenção de quem está assistindo determinada obra. Isso acontece pois, mesmo antes dos inimagináveis efeitos visuais, trilha sonora e o avanço tecnológico no cinema em geral, eram os atores os responsáveis por alavancar e chamar a atenção para essas produções, seja no teatro ou no próprio cinema. 

Dito isso, a atuação sempre foi o ponto chave de toda e qualquer obra cinematográfica. Torna-se muito difícil dizer se um filme é bom ou ruim sem analisar se determinado ator ou atriz entregou uma boa atuação. E mesmo que pareça fácil ter essa resposta, analisar se o que vimos teve de fato uma boa performance do elenco não é uma tarefa tão simples assim. 

J. K. Simmons gritando em cena do filme Whiplash.
J. K. Simmons em cena de Whiplash.

Para analisar uma atuação, temos que entrar em várias esferas que cercam uma produção. O ator ser bom ou ruim é totalmente diferente de se ter uma boa atuação. Esse êxito que todo ator busca acaba sendo mais fácil se ele já tem um nome consagrado na indústria, ou seja, se ele tem a chance de escolher a “dedo” os projetos que entra. Ou, até mesmo, a sorte de ser chamado para grandes produções.

Por isso, achar que tal ator é ruim acaba não sendo uma frase certa a se dizer, mas como saber se ele teve uma boa performance é algo que irei te explicar melhor ao ensiná-lo como analisar esses aspectos. 

Os vários tipos de atuação

A qualidade de uma atuação é algo muito subjetivo, pois existe quem prefira aquela atuação mais explosiva, bem como aquele que se surpreende com uma mais sutil. Porém, as duas têm suas dificuldades para entregar um bom trabalho por parte do ator. 

Ao ser explosivo, extravagante e exagerado numa performance, acaba-se correndo um sério risco de se tornar caricato no personagem que se propôs a interpretar. Esse tipo de personagem tem como princípio chamar a atenção dos que estão assistindo e, às vezes, essa escolha pode levar o espectador a não só achar estranha a ideia do personagem, mas a sair totalmente do filme. 

Johnny Depp como Jack Sparrow em Piratas do Caribe.
Johnny Depp em Piratas do Caribe.

Um bom exemplo nesse quesito é o do Johnny Depp em Piratas do Caribe. Jack Sparrow é um dos personagens mais marcantes dentro do cinema, principalmente no cinema blockbuster. Toda a ideia que Depp trouxe para essa persona foi original, criativa e real. Entretanto, o êxito do ator veio não só pela entrega dada ao personagem, mas por toda a ideia vinda dele: figurino, trejeitos e personalidade, ou seja, tudo está de acordo com o universo que o filme apresenta.

Em contraponto, temos aquela atuação mais contida, que por vezes pode passar despercebida, fazendo parecer que o ator não teve nenhum esforço para fazê-la. Todavia, se parar para analisar ou até mesmo rever mais vezes o filme, com toda certeza você se surpreenderá com os mínimos detalhes que o ator vai te mostrar. 

Al Pacino numa atuação impecável em cena clássica de O Poderoso Chefão
Al Pacino em O Poderoso Chefão.

E para ilustrar melhor o que estou dizendo, Al Pacino, em o Poderoso Chefão, idealiza uma das cenas mais marcantes de toda a trilogia. Nela vemos Michael Corleone em um restaurante, entregando tudo que ele sente apenas em sua postura e, principalmente, seu olhar.

É claro que toda essa cena é impecável e entra na prateleira de aula cinematográfica trazida por Francis Ford Coppola. Mas também para compreender essa análise, a cena traduz muito bem tudo o que foi dito até aqui. 

A atuação e o filme

A atuação obrigatoriamente precisa estar em sintonia com o universo do filme. Por vezes, você já deve ter percebido que o filme percorre por um caminho e o ator está em outro completamente diferente. Para mim, é aqui o ponto-chave para que o ator entregue uma atuação boa e, acima de tudo, seja convincente.

Digo isso pois, não importa em qual universo se passa o filme, seja numa história baseada em algo verídico, outra que se baseia na nossa realidade ou até mesmo num universo completamente inimaginável, é a atuação que te prenderá e te fará prestar atenção do começo ao fim. 

Lupita Nyong'o numa atuação assustadora do filme Nós.
Lupita Nyong’o em cena do filme Nós.

Em todos os casos, para se ter grandes atuações, os personagens precisam estar diretamente ligados à história e ideia pretendida pelo projeto. Por isso, projetos distintos como O Vencedor, Nós e Senhor dos Anéis funcionam muito bem. Pelo simples motivo de Christian Bale, Lupita Nyong´o e Viggo Mortensen e companhia entenderem o universo, entrarem em sintonia com a história e entregarem performances coerentes com o mundo em que eles habitam. 

A mudança física para o personagem 

O ganho ou perda de peso que os atores fazem para determinados papéis desde sempre foi algo que chamou muito a atenção das pessoas, e digo que sempre me encantou também. Temos esse apreço pelo simples motivo de apresentar uma dificuldade que a pessoa por trás do papel teve para chegar no físico desejado e possivelmente a mesma dificuldade que terá para voltar ao seu peso ideal. 

Mas vocês já pararam para entender o real motivo dessa transformação corporal? Muitas vezes pode passar a sensação de que essa seria uma forma de promover a obra ou até mesmo o impacto que o ator terá para chegar nas grandes premiações. E é claro que não estou excluindo essa possibilidade.

Contudo, essa mudança física impacta diretamente em tudo que a pessoa fará dali em diante. Por exemplo, quando determinado ator ganha certo peso para um papel, sua respiração muda, sua forma de andar muda, sua mente muda, etc. Ou seja, essa transformação acaba sendo extremamente importante para a composição de seu personagem, pois ele vai não só entender a ideia original do papel, como o será fisicamente. 

Há inúmeros casos nos quais essa transformação ocorre, mas irei trazer dois exemplos que ilustram muito bem meu ponto. O primeiro é o ganho de peso do ator Christian Bale para o filme Vice. O ator dá vida ao vice-presidente de W. Bush, Dick Cheney, e podemos ver nitidamente todo o seu desconforto e o cansaço presente no seu personagem. Do outro lado, gosto de citar a performance de Matthew McConaughey em Clube de Compras Dallas, pois sua perda de peso influencia diretamente na sua postura e olhar. 

Matthew McConaughey chorando em cena do filme O Clube de Compras Dallas.
Matthew McConaughey em O Clube de Compras Dallas.

Assim, sendo inspirado na realidade ou não, este é um método muito válido para a criação de um personagem. Seja ele usado para chamar atenção ou para compor o papel, é uma ferramenta muito importante, a qual espero que continue sendo bastante usada pelos atores.

A sensação de surpresa

O ator te surpreender em cena é o que te leva a achar que ele entregou uma boa atuação, não é mesmo? Muitas vezes, isso ocorre quando eles interpretam algo que não tinham costume ou que nunca tinham feito até então. E esse é um ponto muito interessante, pois alguns atores acabam ficando presos em papéis que os marcaram ou optam por um caminho de sempre estar em trabalhos já confortáveis. 

E longe de mim dizer que isso é um demérito. Nomes como Dwayne Johnson são uma prova disso! Mas quando atores saem da sua zona de conforto e vão experimentar novos caminhos, isso acaba sendo muito interessante de se acompanhar e até mesmo muda a nossa visão sobre seu talento na atuação.

Por exemplo, quando Jim Carrey começou a realizar trabalhos mais dramáticos, a nossa visão sobre ele mudou, mesmo já sabendo o grande ator que ele era na comédia. Temos também Robert Pattinson, que buscou se distanciar do sucesso que teve na franquia Crepúsculo, trazendo inúmeros papéis excelentes e o reconhecimento na indústria como um dos grandes atores de sua geração. Lembre-se também de Anne Hathaway, que nos impactou em sua performance no musical Os Miseráveis. Isso para não citar Jennifer Lawrence, DiCaprio, Heath Ledger, Adam Driver, Jared Leto, etc. 

Temos também aqueles que, mesmo não diferindo muito do gênero de filmes que costumam fazer, sempre trazem algo a mais na composição de seus personagens, como Denzel Washington, Viola Davis, Tom Hanks, Meryl Streep, Marlon Brando, Joaquin Phoenix, Anthony Hopkins, Robert De Niro, Eddie Redmayne, dentre tantos outros. 

Adam Sandler completamente irreconhecível na sua atuação em cena do filme Jóias Brutas
Adam Sandler em cena do filme Joias Brutas.

Um caso recente que mostra bem esse tipo de acontecimento é o do Adam Sandler. O ator, consagrado no gênero da comédia, com grandes e populares filmes, em 2019 estrelou Joias Brutas, um filme frenético em que Sandler – como na comédia – entrega uma atuação estupenda e muito elogiada perante os críticos, a qual foge em todos os quesitos do conforto que ele tinha dentro da comédia.

Uma má atuação nem sempre é de um péssimo ator

Às vezes, assistimos alguns filmes e nos perguntamos: “Por que ele aceitou fazer esse filme?” É fato que grandes nomes da indústria conseguem o feito de escolherem os trabalhos que bem entendem. E por isso, alguns outros precisam estar em filmes apenas para pagarem as suas contas e assim sobreviverem. 

Portanto, é de suma importância, antes de analisar uma atuação, entender o todo que cerca aquela obra. Digo isso pois, qualquer que seja o ator, ele só terá a chance de entregar uma boa atuação se tiver no mínimo um bom roteiro. É nele que o ator vai ter o primeiro contato com o personagem e de onde as ideias sobre como criá-lo começarão a vir.

Eddie Redmayne muito exagerado nasua atuação em cena de O Destino de Júpiter
Eddie Redmayne em cena de O Destino de Júpiter.

Além disso, um bom diretor de atores e de fotografia são extremamente relevantes para tirar não só o melhor do ator, mas captar o melhor da atuação e fazer com que ele desapareça no personagem que está interpretando.

Logo, uma boa atuação sempre virá de um bom material e nunca o contrário. Com um incrível e coerente projeto, dificilmente um ator entregará uma péssima atuação. Em nenhuma hipótese o ator entra num projeto pretendendo não dar o seu máximo. E se todas essas variantes convergem na mesma sintonia, além de um ótimo filme, você vai ter uma ótima e belíssima atuação em sua tela. 

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Lucas Almeida
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