Análise | The Last of Us 1×01: Nós perdemos

A análise pode conter spoilers do episódio!

A tão aguardada série de The Last of Us da HBO Max finalmente está entre nós e nos recebe com um episódio piloto extremamente bem feito. Mantendo fidelidade aos jogos e trazendo cenas/perspectivas diferentes, como uma adaptação deve ser.

Já no início da série, somos recepcionados por uma cena assustadora, no qual pesquisadores convidados para um talk-show expõem seus medos e seus conhecimentos acerca de doenças.

Talk-Show que abre a série

O assunto inicial sobre vírus e suas altas taxas de contágio dialoga, diretamente, com o período recente da pandemia de Covid-19, uma lembrança horrenda da realidade que, poucos minutos depois, será transformada em uma discussão sobre uma possível ameaça (mais uma paranoia para se preocupar).

Os fungos que poderiam sofrer mutações (começariam a infectar humanos) caso mudanças climáticas, como o aumento de temperatura, ocorressem no planeta. Ao contrário dos vírus, não matariam seus hospedeiros, mas controlariam suas mentes e habilidades motoras com intuito de proliferar o máximo possível sua espécie. E não existe cura ou prevenção para esse tipo de situação.

A cena termina com um questionamento do entrevistador e uma resposta do pesquisador que será marcante pelo resto da série:

– Então, se isso acontecer?
– Nós perdemos

Após uma abertura fantástica que utiliza a marcante trilha sonora em violão, conhecemos Sarah (Nico Parker), Joel (Pedro Pascal) e Tommy (Gabriel Luna) num café da manhã em família. Personagens estes que, logo logo, terão seus destinos completamente mudados pelo estopim de um novo mundo que surge silenciosamente, porém de modo impetuoso.

Sarah, pelo curto período que aparece, consegue mostrar bastante personalidade e faz com que nos apeguemos à relação que ela possui com seu pai, Joel. Detalhe importante que faz o desfecho da sequência de fuga ter um peso enorme e desestabilizar tanto a Joel quanto a nós mesmos que, assim como ele, não pudemos fazer nada para ajudar.

Pedro Pascal expressa perfeitamente a mudança que ocorreu nos 20 anos seguintes à morte de sua filha que, junto ao mundo arrasado, mexeram no intrínseco de seu caráter. Um pai de família carismático dá lugar a um homem amargo e “de pavio curto”.

A fidelidade ao jogo foi um aspecto bem presente nesse 1° episódio. Posições de câmera fazendo analogia à 3° pessoa ou até à 1° pessoa (clássica dos jogos) e a famosa sequência da fuga de carro durante o “outbreak” (o surto de epidemia) são ótimas referências, assim como a adaptação de cenas icônicas do jogo transportadas para o roteiro da série foram emocionantes e carregadas de significado, ainda oferecendo aspectos e ritmos diferentes, respeitando a ideia de adaptação.

Resta observar o resto da série, para avaliar se a mesma não se apoiará em somente adaptar de forma literal. Contudo, esse episódio termina com um saldo extremamente positivo.

Temos já, um breve panorama sobre a sociedade desse mundo pós-apocalíptico. As leis se resumem à força da FEDRA (grupo militarizado que rege esse refúgio), toques de recolher obrigatórios, enforcamento em local público e sentenças pesadíssimas como algo comum.

O grupo que confronta a FEDRA são os Vagalumes, revolucionários que buscam reestabelecer a democracia e a liberdade (pelo menos esse é a visão que a gente teve até agora).

“Quando estiver perdido na escuridão, procure a luz”

Os personagens do pós-apocalipse também trazem presença marcante, temos a enigmática Tess (Anna Torv) como a atual parceira de Joel (uma relação que não se sabe ao certo, todavia, parece se encontrar no espectro amoroso) e a cativante Ellie (Bella Ramsey), ambas as personagens fiéis à suas versões do jogo e muito intrigantes nessa trama, igualmente.

Diversos signos são apresentados aqui, o relógio sendo o mais marcante. Sarah paga o conserto do relógio de pulso de Joel, como um presente de aniversário para seu pai. Relógio que, na hora da morte da sua filha, quebrou-se e parou de funcionar.

O relógio representa o próprio Joel, um homem que parou no tempo depois da morte de Sarah (assim como o objeto), que ainda vive nesse acontecimento e foi moldado num trauma. Um ego rancoroso e prestes a explodir qualquer momento.

Podemos observar esse mesmo significado em uma outra obra completamente diferente. Nesse caso, o episódio 10 de Cowboy Bebop (Elegia de Ganimedes), em que Jet guarda por anos um relógio que não funciona, pois não superou um antigo amor.

Infectado já morto

O fungo e seu modo de operar também diz algo sobre Joel e a essa sociedade. O fungo entra na mente dos hospedeiros e os controla com uma meta de proliferar, assim como a raiva e o rancor de Joel, que confiscaram sua mente e guiam muitas das ações que ele toma (e tomará, diga-se de passagem), o momento final de fúria ao matar um dos guardas no soco é um exemplo perfeito disso.

Essa mesma violência que influencia Joel também guia outras pessoas, é contagiosa, o mundo exige isso como requisito de sobrevivência.

Podemos concluir então que, de fato, a humanidade perdeu. Perderam sua moral ao enforcar pessoas em “praça pública”, sua ética ao se renderem à uma ditadura e sua empatia ao seguirem preceitos egoístas. Um mundo infectado pelo fungo e pelo medo.

Novos episódios são exibidos todos os domingos às 23:00 exclusivamente na HBO Max.

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Joel Neto
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