Análise | The Last of Us 1×02: Eles estão conectados

A análise contem spoilers do episódio!

O segundo episódio de The Last of Us da HBO Max retorna com expansão de mitologia, cenas tensas que fazem jus ao jogo e o início de uma nova jornada cheia de altos e baixos.

Começamos com um retorno à origem do problema dos fungos. Somos transportados para a cidade de Jakarta na Indonésia em 2003. Ibu Ratna (Christine Hakim), professora de Micologia, é procurada por um policial para explicar um caso sem precedentes. Um humano infectado pelo Ophiocordyceps (o fungo).

Descobrimos que a infecção começou através de uma mordida de alguém que desapareceu, o ponto de início foi uma fábrica de farinha e grãos, um local favorável para a proliferação de um fungo.

Depois da confirmação de que realmente existe uma infecção, a proposta de Ibu Ratna para o policial é curta e direta:

O que vamos fazer?
Bomba.

Voltando para 2023, temos um confronto com Ellie, dada a incerteza da sua importância e o susto ao descobrir sua aparente imunidade à ação do fungo. Ellie seria uma peça-chave para uma possível cura que os Vagalumes estariam desenvolvendo (observe que a incerteza nessa parte é algo marcante, tudo nesse início é um talvez que nos incita a descobrir mais sobre essa situação).

A luz jogada sobre Ellie nessa cena, a indica como uma solução dessa realidade pós-apocalíptica, enquanto Joel e Tess permanecem na parte escura da construção, em meio às sombras de dúvida e desconfiança. Retorna aqui, o lema dos Vagalumes: “Quando estiver perdido na escuridão, procure a luz”.

A próxima sequência dá panoramas belíssimos sobre a cidade abandonada. Diversos planos abertos e gerais são utilizados para destacar a paisagem de edifícios caindo aos pedaços e um ambiente urbano tomado pela vegetação.

Há o contraste de ver uma cidade vazia que nos causa o sentimento de solidão (cidades nunca foram criadas com o intuito de serem vazias) e o contraste de ver a natureza retomando esse espaço (coisa que uma cidade grande não possibilitaria).

Ellie é incerta sobre a paisagem e isso pode trazer duas óticas. Primeiramente, a contemplação da cidade magnífica em suas proporções e aparência, coloca esse local como algo que diminui a relevância humana sobre ele. É belo, mas solitário, é tranquilizante, mas o antecedente que fez a cidade ficar desolada não. Em segundo lugar, a incerteza é normal já que Ellie não conheceu o mundo antes da epidemia, então essa é a imagem de cidade que ela vai carregar consigo.

Junto com essa exposição do ambiente e a explicação da origem, Tess diz como funciona o comportamento do fungo.

No jogo, os esporos (substâncias que os fungos soltavam para proliferarem-se pelo ar) e a mordida eram os meios de contaminação. Na série, a mordida parece ser o meio principal de infecção e os esporos não existem. Porém, algumas coisas foram adicionadas no lugar.

Os infectados estão ligados por uma rede coletiva. “Raízes” desses fungos se espalham e crescem pelo subsolo, se alguém pisar numa área do Cordyceps, há a chance de acordar dezenas de infectados na região que sabem e vão em direção à área pisada.

Conceito que traz uma questão interessante sobre como a natureza funciona (claro, não de modo literal).

“A natureza considerada racionalmente é a união na diversidade, a ligação do múltiplo em forma e composição, é o complexo de seus elementos e forças como um todo vivo. É por isso que o objetivo mais importante de uma investigação da natureza é reconhecer na diversidade a unidade”

Fragmento retirado de “Considerações Introdutórias sobre as Diversas Formas de Apreciar a Natureza e uma Investigação Científica de suas Leis”. Texto de Alexander Von Humboldt.

Eles agem como um coletivo, cada infectado que, ao se juntarem, agem para atingir um objetivo em comum, a proliferação da espécie. Talvez possamos considerar que a flora se beneficiou desse “monopólio” do Cordyceps, mas não existem informações suficientes para afirmar isso.

Esse episódio foi dirigido por Neil Druckmann (criador da franquia de jogos “The Last of Us”) e isso foi expressado tanto nos jogos de câmera que, novamente, referenciam os jogos, quanto na tensão que a cena de luta contra os Estaladores causa. Antes mesmo de aparecerem, eles são temidos e até um tabu nos diálogos, já construindo o suspense que será importantíssimo na hora do confronto com essas criaturas que foram extremamente bem adaptadas.

Algo que difere bastante dos jogos é a falta de “habilidades sobre-humanas”, nesse caso, a audição dos personagens que funcionam como um tipo de radar localizador de inimigos. Os personagens da série não acertam todos os tiros no meio da confusão (com uma cena de recarga da arma desesperadora), não possuem audição apurada e se machucam mais facilmente.

Chegando nos pontos finais do episódio, Tess se mostra impaciente, já prevendo o seu desfecho após a luta. Num enquadro lindíssimo, acima de uma das construções é mostrado, lado a lado, a dupla Joel e Ellie se preparando para uma aventura emocionante.

Será assim, amiga: um certo dia
Estando nós a contemplar o poente
Sentiremos no rosto, de repente
O beijo leve de uma aragem fria.

Soneto da Hora Final” por Vinicius de Moraes.

A viagem continua até o suposto encontro com os Vagalumes. Os agentes mortos em confronto com um infectado e a revelação de que Tess foi mordida deixa Joel sem um rumo pra seguir e incerto do que fazer. Tess, numa espécie de último desejo, dá uma luz a Joel, o convence de que Ellie pode ser realmente uma solução.

Ao transpor as fronteiras do Segredo
Eu, calmo, te direi: Não tenhas medo
E tu, tranquila, me dirás: Sê forte.

Soneto da Hora Final” por Vinicius de Moraes.

Com os infectados vindo na direção do local onde os 3 se encontram, Joel e Ellie correm para um destino que ainda não existe, Tess fica para encarar o fim de sua jornada numa cena desesperadora e nojenta, onde um infectado dá um tipo de “beijo de despedida”.

E como dois antigos namorados
Noturnamente tristes e enlaçados
Nós entraremos nos jardins da morte.

Soneto da Hora Final” por Vinicius de Moraes.

Joel e Ellie fogem com auxilio de Tess. A câmera mostra a grandiosidade do acontecimento que ocorre atrás, junto à cidade, e Ellie centralizada no meio de tudo isso. Agora é só Joel e Ellie, os dois conectados.

Tu me olharás silenciosamente
E eu te olharei também, com nostalgia
E partiremos, tontos de poesia
Para a porta de treva aberta em frente

Soneto da Hora Final” por Vinicius de Moraes.

Novos episódios são exibidos todos os domingos às 23:00 exclusivamente na HBO Max.

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Joel Neto
Joel Neto
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