Um novo olhar para a Liga da Justiça de Snyder e o Snyderverse

Eu não queria escrever nada sobre a Liga da Justiça de Zack Snyder, mas a comoção é tanta que não poderia passar em branco.

Eu não queria escrever nada sobre a Liga da Justiça de Zack Snyder, mas a comoção é tanta que não poderia passar em branco. Metade fala o que é óbvio para mim e para tantos outros e a outra metade –  os DCnautas iludidos –  tentam alavancar o filme ao status de obra-prima em seu otimismo panglossiano.

Superman é atingido pelo machado de Lobo da Estepe e diz: "Não estou impressionado" em Liga da Justiça

Este mesmo que vos escreve é DCnauta, tá, gente? Não desdenho da Marvel e acho que ela passou por maus bocados no final da década de noventa até acertar o passo na última década. Após o êxito de Sin City (2005), V de Vingança (2005), 300 (2007), Watchmen (2009) e da trilogia do Batman de Christopher Nolan, a Sétima Arte finalmente encetava filmes fieis à versão escrita, sem medo de chocar, decepcionar ou passar por ridículo, e com isso não só agradou ao público consumidor de quadrinhos como ganhou o respeito e a admiração por parte do grande público.

A Liga da Justiça de Zack Snyder
Estamos aí, pro que der e vier…

E foi exatamente aí que nasceu o engodo chamado Zack Snyder, uma espécie de M. Night Shyamalan querendo ser Ridley Scott (que também anda mal das pernas nos últimos anos). Mas quando digo “nasceu”, sei que Snyder já emplacava sucessos antes. Não me refiro ao nascimento dele como cineasta, mas como engodo no DCEU (DC Extended Universe).

Zack Snyder
Zack Snyder

Após estrondar com 300 (2006) (a adaptação cinematográfica mais fiel aos quadrinhos) e perceber o êxito da trilogia de Nolan e do universo compartilhado do MCU (Marvel Comics Universe), Snyder resolveu mesclar sua estética ao clima lúgubre da trilogia de Nolan. Não deu certo.

A DC começou a tecer seu universo compartilhado tardiamente com O Homem de Aço (2013), quando a Marvel já havia lançado SEIS filmes! Quando saiu Os Vingadores em 2012, os demais personagens já tinham sido apresentados e, mais tarde, Capitão América: Guerra Civil (2016) apresenta Homem-Aranha e Pantera Negra para depois lançar seus respectivos filmes. A DC resolveu replicar o que fez Vingadores e Guerra Civil em Liga da Justiça (2017), reunindo todos os personagens ao mesmo tempo em que apresentava três deles.

O Homem de Aço. O primeiro filme do DC Extended Universe.
O Homem de Aço, primeiro filme do DCEU.

O filme do Super já não tinha emplacado. Henry Cavill não ficou mal no papel do herói, já que tanto o clima como o curso da história pediam um Superman tenso, como se soubesse que iria morrer em breve. Mas a imagem do Super para o grande público ainda era a de um personagem colorido, “prafrentex”, emblemático no sentido de dar esperança, quando Snyder já tencionava matá-lo no filme seguinte.

A intenção de fazer um “Superman Begins” traçando a trajetória de Clark Kent até se tornar o Homem de Aço não funcionou. A ideia de fazer um filme do Superman com um título que não citasse seu nome, como Quantum of Solace (2008) o fez com 007, não caiu bem para o carro chefe da DC e acabou por despersonalizar o personagem.

Clark Kent, menino, tira um ônibus escolar do rio.
Superman começa…

Batman vs Superman: A Origem da Justiça (2016) já começou errando pelo título. Embora Batman: o Cavaleiro das Trevas (2008) tenha o mesmo nome da HQ, é o filme de Snyder que apresenta no cinema o enredo do quadrinho. Ou quase.

Capa de Batman versus Superman: A Origem da Justiça

Assim como Batman Begins (2005) cose o Batman Ano 1 (1988), de Frank Miller, com a fase de Denny O’Neil e Neal Adams, apresentando Ras Al Ghul, Batman: o Cavaleiro das Trevas (2008) blenda Batman: O Longo Dia das Bruxas (1996), Asilo Arkham (1989), de Grant Morrison, com pitadas de A Piada Mortal (1988). Sua sequência, Batman: o Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), por fim, apresenta-nos A Queda do Morcego (1993).

Leia também:

Bane desloca a vértebra de Batman em O Cavaleiro das Trevas Ressurge (acima) e na HQ A Queda do Morcego (abaixo)
Bane desloca a vértebra de Batman.

Batman vs Superman se baseia em uma cena que é apenas o clímax da HQ Batman: O Cavaleiro das Trevas (1988), a briga dos dois. E ainda tenta linká-la com A Morte do Super-Homem (1993), invertendo a posição dos dois no enterro, também presente na HQ O Cavaleiro das Trevas.

Superman aterrissa para encontrar Batman em O Cavaleiro das Trevas e em Batman versus Superman.
Superman paira em O Cavaleiro das Trevas (1988) e em Batman vs Superman (2017).

O subtítulo já canta a pedra para a formação da Liga. Não, Snyder, não adianta citar Nietzsche em Humano, Demasiado Humano. O filme é ruim e o título poderia ser um pouquinho menos óbvio, né?

Enfim, após Mulher-Maravilha (2017) lançar uma luz de esperança no fraco universo compartilhado da DC Comics, chegava a hora de lançar a Liga da Justiça, com a difícil missão de barrar o supergrupo da Marvel Comics, Vingadores, que já possuía dois filmes. O universo compartilhado da Marvel se apresentava coeso e a aparição de Thanos era iminente. Então, tudo levava a crer que o grande vilão da epopeia da DC seria Darkseid.

O rosto de Thanos e o rosto de Darkseid. O corte de Snyder apresenta o grande vilão da DC.
Darkseid fazendo frente a Thanos. A revanche de Znyder…

Porém, para a decepção do público, Darkseid é apenas citado e o Lobo da Estepe (no original, Steppenwolf) aparece como um vilão nada carismático para um enredo colcha de retalhos. As Caixas Maternas, conhecidas pelos DCnautas, servem para costurar a relação dos personagens protagonistas assim como as Joias do Infinito no MCU, mas tanto o enredo quanto a motivação dos personagens, incluindo heróis e vilões, não convencem. O “clima obscuro” aceito por alguns fãs e repudiado por outros não ajuda a trama, que não se sustenta.

As Caixas Maternas do filme Liga da Justiça de Snyder e as Joias do Infinito, do Universo Compartilhado da Marvel.
As Caixas Maternas se tornaram as Joias do Infinito na Liga da Justiça e no “Snyderverse”.

Não deixaram ele fazer o que queria!“. “Não deram liberdade para Snyder trabalhar!” “Também, a filha dele se matou! Você queria o quê?” “Se fosse a versão do diretor…“. Eram esses os argumentos para o fiasco de Liga da Justica a despeito dos fiascos anteriores. Pois bem, com o advento do movimento #RealeaseTheSnydersCut, foi concedida a Snyder a oportunidade de refazer o seu filme-xodó, inserindo todas as cenas que achava necessárias. Atando as pontas soltas. Fazendo fun service à vontade! O que era bom ficou melhor! Não, o que era chato ficou maior.

QUATRO horas de filme! Snyder resolveu transformar sua “obra-prima” numa epopeia dramática no estilo E o Vento Levou. O quê que você tá pensando da vida, Snyder? Que filme grande é sinônimo de cult? Isso aqui não é Adeus Minha Concubina, é um filme de super-heróis.

Em sua “versão do diretor”, Snyder não pretende apenas rivalizar Os Vingadores, mas Vingadores: Guerra Infinita (2018) e Ultimato (2019). Mas ambos os filmes não fizeram a plateia rir e chorar porque são grandes e maçantes, mas porque são bons! Sua dramaticidade é real e seu universo veio sendo arquitetado durante uma década para que nos afeiçoássemos aos personagens. Você matou o Superman no segundo filme! Se Snyder tem algum mérito como diretor além de 300 é o de convencer os produtores a investir em alguma coisa que já deu errado.

Liga da Justiça e seus enxertos

Acho que já falei bastante mal dele e do universo compartilhado da DC e porque ele não vingou. Agora vou dissecar a Liga da Justiça de Zack Snyder, suas breguices e o porquê de suas cenas extras serem desnecessárias. Não adianta passar pano úmido num móvel empoeirado sem varrer a poeira antes, Snyder.

O filme começa com o que seria o final de Batman versus Superman, com Apocalypse morrendo, emanando uma onda de choque que varre a cidade. Assim, cada Caixa-Materna reage à onda de choque despertada por Apocalypse, o que é o gancho para a apresentação dos personagens.

Apocalypse lança uma onda de choque por Metrópolis no início de Liga da Justiça e final de Batman vs Superman.
A onda de choque deixada por Apocalypse.

A partir daí, cada personagem vai sendo apresentado à moda Snyder, o que é muito justo, já que se trata da versão do diretor. A apresentação dos personagens é uma parte muito importante para qualquer enredo, principalmente um filme de super-heróis.

E eis que temos a primeira aparição do Ciborgue, encruado, sentado em uma mesa em sua casa, enquanto uma das Caixas Maternas dá sinal de vida. Algo como o “monstro do closet, uma lenda urbana norte-americana, e o propósito da cena é retratar a caixa dessa forma mesmo.

Ciborgue, em sua casa, observa sua Caixa Materna reagir à onda de choque deixada por Apocalypse em Liga da Justiça.
“Eu, hein?!”

Logo em seguida, Lex Luthor, chafurdando no chorume da nave kryptoniana, se vê pasmo com a aparição holográfica do Lobo da Estepe, suscitando a ideia de que Luthor estaria mancomunado com Darkseid, como Loki estava com Thanos. Não falei que o Snyder Cut quer rivalizar Guerra Infinita e Ultimato?

Lex Luthor observa a imagem holográfica de Lobo da Estepe em Liga da Justiça.
O Loki de Liga da Justiça.

Outra Caixa-Materna reverbera em Atlântida, para desespero de Mera, que surge no corte de Snyder após sua aparição em Aquaman (2018). Outra caixa trepida em Themyscira, gancho para a apresentação das amazonas e da Mulher-Maravilha. Só que não. Vamos para o recrutamento de Aquaman por Batman, que chegou ao vilarejo inóspito “batman-mente” pelas colinas, o que surpreendeu a todos os moradores.

Guarda atlante observa, apreensivo, a Caixa Materna reagir em Liga da Justiça de Snyder
A Caixa-Materna reage em Atlântida.

Este é o prólogo de Liga da Justiça de Zack Snyder. Ao entrar pela porta da taberna onde se encontraria Aquaman, o espectador é surpreendido por este quadro:

Parte 1 de Liga da Justiça de Snyder na tela

Nada contra roteiros pontuados. Cidade de Deus (2002), O Violino Vermelho (1998), Os Olhos de Minha Mãe (2016)… mas as pontuações no filme, que já não empolga, servem apenas como um balde de água fria num roteiro que já é morno.

Lobo da Estepe dá um salto a la Hulk para perseguir as amazonas com a Caixa Materna em Liga da Justiça.
Lobo da Estepe persegue uma das Caixas Maternas em Themyscira.

Também não vou só falar mal de Snyder e do filme. A partir do famigerado “Parte 1”, o filme mostra porque é importante a versão do diretor. A perseguição de Lobo da Estepe às amazonas pra recuperar uma das Caixas Maternas dando saltos a la Hulk é ótima! A batalha da Mulher-Maravilha contra os terroristas para salvar os reféns também é boa. A “Queda da Casa das Amazonas” (A Queda da Casa de Usher deixou um legado estilístico cinematográfico), idem.

A edificação que abrigava o cofre das amazonas onde ficava guardada uma das Caixas Maternas implode e desaba no desfiladeiro em Liga da Justiça
“A Queda da Casa das Amazonas”.

Triunfante, Lobo da Estepe (que está tão Saint-Seiya quanto a Mulher-Maravilha em seu último filme) pluga a caixa que afanou numa usina nuclear, cria uma “colmeia” de parademônios e manda que farejem as caixas por aí. Ryan Choi, o Eléktron, aparece, mas não como o super-herói, e sim pra suscitar a ideia de que aparecerá futuramente. A fraquíssima série Constantine fez algo semelhante com o Espectro.

Ryan Choi, o personagem que encarna o Eléktron, aparece no laboratório em Liga da Justiça.
Ryan Choi. Teremos um filme do Eléktron?

Seguindo a apresentação dos personagens, agora é a vez de Aquaman resgatar um marujo que, pelas palavras dele mesmo, não respeitou a tempestade. Mais uma cena longa e cansativa só pra mostrar Jason Momoa “modelando” e apresentar Vulko, que aproveita o ensejo da caixa da Atlântida em perigo iminente e implora a Aquaman que aceite o tridente, o que seria o gancho de Liga da Justiça de Zack Snyder para o filme do rei dos mares.

vulko, personagem da Atlântida suplica a Aquaman que aceite o tridente.
Vulko

Desaad faz sua entrada no filme, o que dá a motivação de Lobo da Estepe: Lobo é um arauto de Darkseid assim como o Surfista Prateado o é na Marvel, e só poderá voltar a Apokolips se permitir que o déspota intergaláctico invada a Terra. Assim como Lex Luthor parece mancomunado com Darkseid como Loki com Thanos, Snyder costurou uma conspiração estapafúrdia para bater de frente com a saga de Thanos no MCU. Ainda em relação ao Surfista Prateado, Darkseid faz sua entrada triunfal com trejeitos de Terrax, outro dos arautos de Galactus antes do Surfista.

Darkseid desfere um golpe de machado no solo.
Darkseid dando uma de Terrax.

A história de Darkseid sendo encaixotado pelas Amazonas, Atlantes e humanos, sendo que cada raça fica com uma caixa é… bem Senhor dos Anéis, não é não? Fora que as três caixas se juntando para se tornar uma só, formando a Unidade, é um plágio do Tesseracto. Já falei que o Snyder Cut quer rivalizar Guerra Infinita e Ultimato?

Os diálogos, principalmente as falas da Mulher-Maravilha, são óbvios e seguem o clichê máximo de filmes hollywoodianos e novelas brasileiras, nos quais um personagem, geralmente uma criança inteligentinha, completa as frases ou narra aquilo que o espectador já está vendo. Eles não estudaram isso na escola de roteiro? O famoso “Show, don’t tell”?

Mulher-Maravilha em uma de suas falas óbvias diz a Aquaman o que ele já está vendo.
Já sabemos, Diana!

Enfim chegamos à apresentação do Flash. Sendo o alívio cômico do filme, ele está em maus lençóis, já que as piadas não têm graça nenhuma. Sua atitude desengonçada causando uma péssima impressão na entrevista de emprego só nos dá vergonha alheia. Não dele, mas da cena toda em si.

Tá bom que Mercúrio é o Flash da Marvel, mas não precisava ter roubado a cena dele em X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido (2014) e X-Men: Apocalipse (2016). A grande sacada da cena do Flash em Batman vs Superman é que, ao contrário das cenas de Mercúrio, onde vemos o personagem se movimentar pelo ponto de vista dele, Flash nos é apresentado do nosso ponto de vista, passando quase despercebido não fosse pelos raios que o acompanham. Apenas um flash. A entrevista de emprego é a ponte para Barry Allen conhecer Iris West (Kiersey Clemons), sua cara-metade, que dará as caras no filme solo do Flash. Ah, ainda vai ter filme do Flash… !

Iris West, a futura namorada do Flash olha para uma salsicha que o personagem segura.
Que cena é essa, MDS?!!

Ciborgue foi o personagem mais criticado por ter sua história mal contada, contada pela metade ou nem sequer contada. Então Snyder resolveu caprichar tanto em sua história quanto em sua motivação. Daí conhecemos sua mãe, Elinor Stone (Karen Bryson), suas habilidades como hacker, sua carência paterna e… seu acidente fatídico.

Lembram que citei A Queda da Casa de Usher? Pois é, em Adaptação (2003), a cena do acidente de carro mostrada do ponto de vista do carona é tão inusitada quanto única. Não me lembro desse ponto de vista em um acidente de carro antes e, se alguém conhecer, por favor poste nos comentários.

Ciborgue (antes de se tornar o personagem) e sua mãe, sofrem um acidente de carro.
“Olha pra frente, mãe!”

Ela se tornou antológica e reapareceu em A Viagem (2012), Rua Cloverfiled, 10 (2016) e em Liga da Justiça de Zack Snyder. Já a cena de Ciborgue mutilado após o acidente e sendo reabilitado por seu pai é bem semelhante à do game Call of Cthulhu: Dark Corners of the Earth.

Ciborgue toma eletrochoques de seu pai em uma cena semelhante ao game Call of Cthulhu: Dark Corners of the Earth.
Será que Snyder jogou o game?

Continuando a apresentação de Flash, após visitar seu pai no presídio, Barry vai pra casa e se depara com Bruce Wayne em seu apartamento. O recrutamento de Flash já está presente no corte de Whedon e, desde sempre, foi um plágio da cena de Tony Stark recrutando Peter Parker em Capitão América: Guerra Civil.

Bruce Wayne recruta Barry Allen e Tony Stark recruta Peter Parker para a Guerra Civil.
Bruce Wayne recruta Barry Allen assim como Tony Stark o fez com Peter Parker.

Mulher-Maravilha vai desenrolar* com Ciborgue para convencê-lo a entrar na equipe. Em seguida, temos a cena deletada do cemitério. Acho que já vimos isso na HQ de Spawn, assim que começou sua saga. Aliás, isso já era plágio do Monstro do Pântano de Alan Moore, mas comento sobre isso num próximo artigo.

* conversar, persuadir em carioquês

Ciborgue observa o túmulo de seus pais.

Mera ficou melhor no Snyder Cut do que no filme de Aquaman. Embora estivesse idêntica à personagem dos quadrinhos no filme de James Wan, seu figurino e cor de cabelo combinam mais com a estética lúgubre de Zack Snyder e a tornam mais crível sendo menos colorida. O clima da história e a situação iminente não pedem uma figura otimista.

Mera apresenta seu figurino no corte de Zack Snyder.
Mera na versão de Zack Snyder.

A caracterização dos personagens desde O Homem de Aço é muito boa na minha opinião. Os comentários rasos contra ela geralmente dizem apenas “a DC é mais obscura”, quando ninguém parece ter notado que Marvel utilizou os figurinos dos personagens até a década de 1980, dando um salto para os anos 2000-2010 em Guerra Infinita e Ultimato. Já a DC lança mão do figurino dos anos 1990, durante o “crepúsculo dos heróis”.

Sendo assim, temos o “Batman pitbull” de Frank Miller, o Aquaman cabeludo de Peter David (responsável pela maior reviravolta na saga do Incrível Hulk até hoje), que só faltou um arpão no lugar da mão esquerda, e um Superman não tão colorido e que reaparece de preto, assim como em O Retorno do Super-Homem (1994)

Capa da revista O Retorno do Super-Homem #3, de 1993, onde o personagem veste o uniforme preto e cena do filme que apresenta o uniforme.
O Retorno do Super-Homem #3 e a aparição do uniforme preto no filme.

E, pra combinar, temos uma Mulher-Maravilha que veste roupas cáqui em vez do tradicional amarelo e vermelho McDonald’s (presente novamente em Mulher-Maravilha 1984), um Flash magro e longilíneo, porém comilão, com uma roupa de estética quase nipônica que o serve como armadura e um Ciborgue bastante crível. O problema é que o DCEU não tem a densidade da trilogia de Nolan e não é tão atrativo visualmente para um público que quer um cinema mais “pipoca” como oferece o MCU.

O Caçador de Marte deixa o apartamento de Martha Kent, mãe do Superman.
A Mística da DC.

Acrescento que a suposta conversa entre Martha Kent e Louis Lane, que se revela uma apresentação do Caçador de Marte, é ótima. Parabéns, Snyder! Já que a Marvel tem o seu Flash, o DCEU precisava da sua Mística.

Ciborgue conectado à nave kryptoniana.
Pai Ciborgue tudo vê.

Tanto o Ciborgue quanto o Batman têm seus momentos mediúnicos ao longo da trama. Tudo pra fazer menção à saga Injustiça – Deuses Entre Nós (2014 – 2020). Aí aparecem Vovó Bondade, Superman segurando alguém carbonizado nos braços, provavelmente Louis Lane, e um Superman despótico segurando a cabeça de Batman enquanto a carta do Coringa rasgada voa pelo cenário (gancho para as cenas pós-créditos, mas ainda não chegamos lá).

Superman olha para nós por cima do ombro.
“Humpf!”

Chegamos à tão esperada ressurreição do Superman. Henry Cavill, canastrão como ele só, não chega a comprometer a sequência, que é muito boa, assim como todas as batalhas presentes no Snyder Cut. E a versão de Snyder foi cirúrgica nas correções. Após derrubar o Flash, Kal-El ameaça fritá-lo com a visão de calor, coisa que não acontece na versão de Whedon. E quando parte pra cima de Batman, Ciborgue intervém inutilmente, claro, mas aqueles bracinhos que ele gera vieram do personagem Elden, presente na série de HQs Fire and Stone, da Dark Horse.

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Ao contrário de Whedon original, onde o pai de Ciborgue faz um upgrade em seu exoesqueleto, tornando-o algo próximo do Ciborgue dos quadrinhos, Silas Stone morre ao marcar a Caixa-Materna para ser monitorada pela Liga.

Convenhamos que a batalha final no filme de Whedon é muito fraca mesmo. A cena da Mulher-Maravilha derrubando a ponte é mantida na versão de Snyder e Superman também congela o machado de Lobo da Estepe com seu super sopro, mas não para que Mulher-Maravilha complete o serviço quebrando o machado, como no corte de Whedon. O golpe desferido pela amazona decepa a cabeça do vilão.

Superman, vestindo o uniforme preto, defende Ciborgue colocando-se na frente de Lobo da Estepe, enquanto congela seu machado com seu super sopro.
“Gosto do meu café como gosto do meu uniforme”.

Os bracinhos de Ciborgue se mostram inúteis novamente, mas Aquaman trespassa o inimigo em vez de apenas esmurrá-lo. A batalha enfim termina com Lobo da Estepe decapitado e sua cabeça aos pés de Darkseid, que contempla os heróis triunfantes para se retirar com o rabo entre as pernas.

A cena do resgate da família é totalmente suprimida no corte de Snyder, que coloca Flash pra correr e dar o boot em Ciborgue, além de fazer o tempo voltar. Uma referência a Flashpoint, muito mais crível (dentro do escopo do personagem) do que a volta no tempo realizada pelo Super em Super-Homem (1978)

Ciborgue utiliza inutilmente mais um par de braços cibernéticos.
De novo, Ciborgue?

A “despedida” de cada personagem ao final do filme difere bastante no corte de Snyder, sendo menos esperançosa. Temos uma Mulher-Maravilha tensa, segurando a Flecha de Ártemis, em contrapartida de sua captura de bandidos com o laço da verdade e o meet and greet com as crianças.

Aquaman, por sua vez, despede-se de Mera e parte na caçamba de uma caminhonete no estilo lobo solitário, ao contrário dos saltos de golfinho – felizes – que dá ao final do filme de 2017, e o Ciborgue não tem a sorte de sorrir para seu pai ao final da trama, já que ele morreu nesta versão. 

Ouça nosso Podcast sobre Snyder Cut:

OTGCAST #58 Especial Snyder Cut – Otageek

Como não poderia deixar de ser, Snyder tinha que colocar cenas pós-créditos para rivalizar com a concorrente Marvel, o que já ocorre na versão original. Ao contrário do que dizem outros veículos de comunicação, o Exterminador aparece na cena pós-créditos no filme de Whedon, embora esta esteja um pouco mais completa, digamos assim.  

Coringa esboça um sorrido psicótico para Batman em seu devaneio do futuro pós-apocalíptico.
Como se não bastasse…

E, pra fechar, o Coringa de Jared Leto! Aí é pra acabar! Já falei que ele mandou bem no papel aqui no Otageek, mas a caracterização do Coringa em Esquadrão Suicida (2016) deixou a desejar em relação aos demais do DCEU. Após um diálogo pretensamente perturbador entre Batman e Coringa, tudo se revela um sonho de Batman, em mais um momento mediúnico do filme

Superman paira numa paisagem apocalíptica segurando o elmo de Batman enquanto naves alienígenas e parademônios voam ao fundo.
A versão de Snyder para Injustiça: Deuses Entre Nós.

A cena no futuro distópico serve apenas para fazer o link entre a carta do Coringa que aparece voando rasgada no devaneio de Ciborgue e a cena presente em Batman vs Superman, além de deixar o cheiro de continuação no ar. Isso fica evidente com a aparição do Caçador de Marte chegando de supetão na sacada de Bruce Wayne, que vai esticar as pernas depois de acordar do pesadelo.

Aquaman, Ciborgue, Mulher-Maravilha,  Flash e o Batmóvel vão de encontro à aventura na tradicional Splash Page.
A Splash Page da Liga de Snyder.

Eu imaginei que a DC estava construindo um novo universo com Coringa (2019) e o próximo The Batman (2022), embora também não esteja levando muita fé. Mas com Flash, Mulher-Maravilha, Aquaman e Shazam já anunciados, vemos que ela não desistiu da ideia de fazer o seu universo compartilhado, embora negue uma continuação para Liga da Justiça. O futuro distópico a la Injustice, com ares de Mad Max, ficará só no sonho de Batman… e de Zack Snyder.

Continue lendo tudo sobre a DC aqui no OtaGeek:

Crítica | Liga da Justiça Snyder Cut: mesma base, resultado diferente – Otageek

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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