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Planeta Fantástico | Uma animação nada convencional no MUBI
Em Planeta Fantástico, o planeta Terra já não é mais o lar dos humanos. Raptados de seu planeta natal e deportados para Ygam, são agora uma raça inferior. Dominados por alienígenas azuis e gigantes, os Draags, os seres humanos não passam de criaturas selvagens que servem apenas de brinquedo e distração.
Um pouco assustador, não é mesmo? Essa é a ideia inicial da animação Planeta Fantástico, na qual somos tirados de nossa zona de conforto e expostos a um universo totalmente diferente e surrealista.
Planeta Fantástico é uma animação de 1973, dirigida por René Laloux, baseada no romance Omns en série, de 1957, do escritor francês Stefan Wul. O filme é uma adaptação experimental de animação de ficção científica para adultos, coproduzido entre França e Checoslováquia.
A coprodução se deu pela pressão política que a Checoslováquia sofria e, assim, a produção foi finalizada em Paris. A adaptação traz, inclusive, referências à invasão russa à Checoslováquia. O filme também foi vencedor do Grand Prix Spécial du Jury, no festival de Cannes de 1973, e está disponível no MUBI.
As bizarrices do planeta Ygram e seus habitantes
Ao longo do filme, conhecemos o planeta Ygram, – palco dos acontecimentos e também um personagem importante na história – habitado por seres azuis e gigantes, os Draags, que veem a raça humana como animais/escravos domésticos muito inferiores. Ainda mais quando comparados à potência tecnológica e intelectual que os Draags possuem, como equipamentos extremamente sofisticados e sua capacidade de meditar e transcender para além do corpo.
Somos aos poucos apresentados aos Draags e conhecemos sua realidade e forma de organizar o mundo, como, por exemplo, a forma como as crianças estudam, como as decisões políticas se dão e o mistério que envolve esses personagens que parecem ser imortais.
Em meio a uma perseguição de Draags, uma mulher humana que tenta fugir com o filho acaba morta. Seu filho, no entanto, é resgatado por uma garota Draag, chamada Tiwa, que curiosa em saber como se comporta um Om (como os humanos são conhecidos), leva-o para casa e passa a cuidar dele, chamando-o de Terr.
O tempo nesse planeta corre de forma diferente para os humanos e, em poucas semanas, Terr já é um adolescente. Está, portanto, cansado de ser tratado como um objeto por Tiwa e decidido a fugir daquela realidade. Assim, vamos acompanhar as aventuras de Terr e como ele começa a conhecer melhor esse mundo, outros humanos e enfrentar a vida de escravidão à qual os humanos são submetidos.
Por Trás da Viagem Psicodélica
O universo que envolve o filme certamente sofreu influências do surrealismo. As formas e cores da vegetação, o território e os animais de Ygram fogem do comum, como se o próprio planeta não tivesse compromisso com o sentido e todas as criaturas que ali habitam fossem fruto de uma grande viagem psicodélica.
Em uma cena, por exemplo, antes da fuga de Terr, cristais começam a brotar do chão por vários lugares. No entanto, basta um assobio para quebrá-los. Em outras cenas, encontramos também diferentes espécies de animais, com diferentes funcionalidades, como animais que produzem roupas diretamente no corpo humano e tantas outras com formatos inimagináveis. Todas essas características vão compondo e ambientando muito bem o planeta.
Outro ponto que colabora para a imersão nesse ambiente fantástico é a trilha sonora que embala todo o filme. Jazz, rock progressivo e psicodélico tomam conta dos cenários e encorajam os acontecimentos, algo essencial para criar um sentimento de imersão, tensão e ansiedade conforme vamos nos aventurando no planeta.
Entretanto, nem só de surrealismo sobrevive a animação. Em meio às peculiaridades da trama, o diretor encaixa diversas reflexões sobre o comportamento e ações humanas e seus impactos. Isso já é possível de se perceber desde o começo, quando observamos o relacionamento entre Tiwa, uma Draag, e Terr, um humano, que se assemelha muito à forma como tratamos nossos animais de estimação.
Terr precisa usar coleira, não tem liberdade de se movimentar e basta que se afaste para que Tiwa o arraste brutalmente. Além disso, a garota Draag insiste em vestir Terr com roupas nada confortáveis, mas que aos seus olhos parecem perfeitas.
O próprio conceito geral da animação, de domínio de uma espécie que se vê como superior sobre outra, já carrega muita simbologia e alegorias a momentos que marcaram de forma terrível a história mundial. Podemos pensar, por exemplo, na escravidão do povo africano ou na perseguição nazista.
Em determinado momento do filme, os Draags decidem fazer uma exterminação dos humanos, a “desomização”, pois acreditavam que eles eram pragas e uma ameaça para a raça superior. Nessa cena, vemos um extermínio em massa, violento, brutal e extremamente cruel.
Por Último e não Menos Importante
A história tem um final interessante e até certo ponto inesperado, em contraste com a sequência de acontecimentos e o empasse entre Draags e Oms. A forma como Planeta Fantástico se desenrola nos permite refletir sobre genocídio de uma população e os impactos das relações de superioridade, repletas de violência, que ainda perduram nos dias atuais e ficam marcadas ao longo da história, juntamente com as repercussões que isso pode ter.
Apesar de não trabalhar com temáticas leves nem possuir o estilo de animação ao qual estamos acostumados hoje em dia, Planeta Fantástico consegue abordar diferentes assuntos de maneira precisa e muito clara, de forma que consigamos ver retratada uma realidade não tão distante da nossa.
Talvez não seja o filme ideal para quem procura apenas se distrair, mas pode ser uma ótima escolha para quem deseja se aventurar em um universo desconhecido, que incomoda e aflige justamente por não ser tão desconhecido assim.
Confira o trailer:
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[…] Planeta Fantástico é um filme francês de ficção científica, dirigido por René Laloux em 1973 e ganhador do Grand Prix Spécial du Jury no festival de Cannes do mesmo ano. Nessa história, acompanhamos a vida de Terr, um humano perdido no planeta Ygram, onde é escravizado por seres extraterrestres gigantes, os Draags. E em meio a isso, ele busca formas de fugir dessa escravidão. […]