Entrevista | Diego Aguiar Vieira – o escritor brasileiro que você precisa conhecer!

31 de outubro, dia das bruxas e nada melhor do que comemorarmos apresentando um excelente autor brasileiro que trabalha o universo lovecraftiano numa ambientação nacional. Otakus & Geeks, conheçam o bruxo Diego Aguiar Vieira.

Otageek– Como começou sua carreira literária? Qual a sua formação?

Diego Aguiar- Em primeiro lugar, Claudio, gostaria de agradecer pela oportunidade de responder a essas perguntas e falar sobre os projetos em que estou envolvido. Acho que sempre escrevi, desde que minha mãe me ensinou a ler e a escrever, passando pelas primeiras redações na escola, sinto que já tirava um grande prazer de poder acessar a minha imaginação de uma forma mais ou menos elaborada. 

Por volta dos meus doze anos, meu pai comprou o primeiro computador pra nossa casa, um PC 386 de segunda mão com tela preto e branco e lá eu comecei a batucar o teclado de maneira mais consciente. O que antes eram apenas pequenos ensaios de histórias, feitas principalmente na Olivetti portátil de minha mãe, passaram a ser tentativas de narrativas mais longas, como um pequeno livro que escrevi nessa época sobre uma das minhas grandes obsessões da infância: Os Três Patetas.

Por volta dos dezesseis anos, já com acesso a internet, pude conferir como eram escritos os roteiros de cinema e me aventurei a escrever um também. Quando me dei conta de que não conseguiria filmar aquilo, achei que seria uma boa ideia transformá-lo no roteiro de um quadrinho – nenhum dos dois nunca foi realizado, claro, mas sinto que foi um bom começo, porque no ano seguinte já conseguia escrever histórias mais elaboradas, principalmente em quadrinhos, o que permitiu que eu tivesse minha primeira HQ ilustrada pelo Antonio Eder, já então um desenhista consagrado.

Essa história foi publicada no Fanzine Informal, que havia acabado de ganhar o HQ Mix, o que me faz crer que, no mínimo, era uma boa história para figurar numa publicação como aquela, editada pelo André Diniz e pelo Antônio, na extinta editora Nona Arte

De lá pra cá, pude participar de algumas coletâneas, lançando um álbum experimental, Pássaros Artificiais, em 2016, além de ter sido contemplado duas vezes com o edital de cultura da prefeitura de Curitiba, junto com o João Ferreira, publicando os álbuns Crônicas de Calavera: O Artista do Fim do Mundo e Memento Mori

Mas só agora, depois de mais de vinte anos escrevendo, é que começo a ver algumas portas se abrindo pra mim no mundo editorial. Pode ser que eu finalmente tenha alcançado um ponto comercialmente viável com o meu texto ou que eu esteja sendo descoberto de alguma maneira. 

Pra mim é um pouco dos dois, acredito que sempre escrevi as histórias que gostaria de ler, mas agora eu estou mais consciente da força de meu texto, dos caminhos para onde posso levar uma história e, principalmente, como não alienar o público nesse processo.

Sempre escrevi as histórias que gostaria de ler, mas agora eu estou mais consciente da força de meu texto

Ainda posso dificultar a vida de algumas pessoas, claro, mas acredito que a maior parte das coisas hoje em dia está a uma pesquisa de distância e, convenhamos, isso não impedia que as pessoas virassem as páginas de uma enciclopédia, então como seria tão difícil agora?

Quanto à minha formação, sou essencialmente um contador de histórias, embora tenha uma graduação em jornalismo e um mestrado em comunicação, cultura e educação em periferias urbanas. 

A maior parte da minha trajetória profissional consiste em escrever, sejam matérias, tradução literária e de quadrinhos, roteiros para o audiovisual (inclusive um reality show gospel), quadrinhos e, nos últimos dez anos, a prosa, que foi o caminho pelo qual enveredei quando me dei conta de como era difícil publicar quadrinhos no Brasil – o que foi ótimo, porque sinto que pude amadurecer muito da minha persona, não apenas como autor, mas também como leitor nesse processo, o que considero essencial para o ofício da escrita.

2- Você está envolvido em 13 projetos de quadrinhos, alguns como editor. Quais os seus projetos atuais?

Otageek– Você está envolvido em 13 projetos de quadrinhos, alguns como editor. Quais os seus projetos atuais?

Acabo de contar aqui na minha lista e notei que esse número aumentou para 25. Desses, 19 são de minha autoria ou contam comigo em alguma parte do processo de roteiro. Infelizmente, pela minha experiência, pode ser que alguns desses projetos se transformem, deixem de existir ou, simplesmente, fiquem por anos numa gaveta, até que encontrem uma maneira de respirar de novo. Atualmente estou trabalhando em algumas coisas e batalhando para que outras saiam do papel:

1) A Locadora do Farol, HQ em série, ilustrada pelo João Ferreira, e que sai em formato digital pela Conrad, vai começar a sair em formato físico pela minha editora, a Mambembe Livros. Nossa intenção é lançá-la de forma seriada, conforme for sendo ilustrada. Atualmente estou escrevendo a 5ª edição enquanto o João está ilustrando a segunda, e creio que temos umas 25 edições programadas. Acredito que até o ano que vem já teremos 7 edições engatilhadas, o que meio que fecha o primeiro arco e abre caminho para o segundo, maior e mais complexo. 

A Locadora, superficialmente, é um quadrinhos de heist*, sobre um grupo de funcionários de uma antiga videolocadora que invadem os filmes para roubar obras de arte e vender por valores exorbitantes para colecionistas e aficionados – mas o que eu acho mesmo que ela é, é uma crítica ao atual modelo de consumo do entretenimento, onde tudo é descartável, só se aguarda pelo próximo hype, ao mesmo tempo em que vemos pequenos grupos de fãs tão vocalmente encantados pelas coisas que amam, que não aceitam mudanças e diversidade, o que, francamente, é vergonhoso em todos os sentidos.

*Subgênero policial que mostra um grupo de pessoas envolvido em um roubo ou grande golpe. A introdução do filme Batman: O Cavaleiro das Trevas e a série A Casa de Papel são dois bons exemplos.

2) Há ainda Fences of the Wire, uma HQ em inglês, que estou escrevendo aos poucos, sendo ilustrada por um rapaz muito talentoso, o Jonatas Sagretti, da minha cidade natal, Macuco. Este trabalho, como mencionado anteriormente, é uma dessas coisas que era de um jeito e acabou ficando de outro. Inicialmente tratava-se de um livro, Os Fios de Zacarias, que escrevi há cerca de 7 ou 8 anos, mas nunca saiu da gaveta. 

Eu pensava que precisava polir ele de alguma forma e, agora, me parece que só não era o formato ideal. Esta é uma história de super-heróis, mas de um jeito muito incomum, e eu pedi ao Jonatas para que desse um tratamento antropomorfizado para cada personagem, então agora está realmente virando outra coisa, o que muito me agrada, principalmente por se tratar de uma história sobre alquimia.

3) Em breve, muito provavelmente até maio, a Mambembe Livros também vai reeditar meu quadrinho Pássaros Artificiais, agora no formato em que ele foi originalmente escrito, como uma HQ em formato canoa (com grampos), onde o leitor deveria desmantelar a coisa toda pra encontrar outras leituras do material

Escrita em 2009, essa história foi originalmente publicada como uma tira de jornal que saia semanalmente, mas em 2016 o Antonio Eder, que havia desenhado essa primeira versão, fez tudo de novo e publicamos num formato experimental, num envelope com as páginas soltas. Foram apenas cem exemplares, que tinham textos de minha autoria no verso das folhas, além de uma página datilografada em cada um, parte de uma pequena novela de cem páginas, que finalmente também deve ganhar a luz do dia em algum momento do futuro.

4) Acabo de confirmar que vou escrever um álbum de cinquenta páginas da personagem Valkíria, criada pelo Alex Mir e Alex Genaro. A minha história foi criada originalmente para outra personagem, a Red Sonja, e seria apresentada por lá por um grande ilustrador brasileiro, com fama no exterior. O projeto acabou não indo adiante, mas tive a oportunidade de retrabalhar os conceitos e até o meio do ano o roteiro já estará escrito. A história provavelmente será ilustrada pelo Genaro e deve sair pela Thotix, do meu amigo Hamilton Kabuna.

5) Também estou, nesse exato momento, escrevendo o roteiro de uma HQ que mistura dois autores que, eu acho, pouca gente associaria, um brasileiro e outro norte-americano. É um projeto antigo, que também deveria ter começado a ser gestado por volta de 2017, mas só agora está finalmente saindo. Não sei o quanto posso dizer sobre isso, mas estou coescrevendo com meu escritor brasileiro vivo favorito e se isso não é um sucesso por si só, não sei o que seria.

Sempre escrevi as histórias que gostaria de ler, mas agora eu estou mais consciente da força de meu texto

Os outros projetos em que estou trabalhando como autor são algumas adaptações literárias, algumas histórias originais e até reescritas de alguns dos materiais que escrevi lá atrás, enquanto estava começando. Se não dou os nomes ou entro em mais detalhes, isto é simplesmente porque não quero entediar ainda mais as pessoas do que elas já devem estar à essa altura.

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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