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Entenda a representação feminina da Personagem Viúva Negra
Neste fim de semana, um dos filmes mais esperados do universo Marvel está sendo lançado: Viúva Negra, que depois de marcar presença em 8 filmes da franquia, finalmente terá um filme dedicado a contar sua história, ou parte dela.
Isso certamente é ótima notícia, afinal, queremos mais mulheres em narrativas que são geralmente dominadas por personagens masculinos. Inclusive, a própria atriz que interpreta a personagem comentou em uma entrevista que a Viúva Negra foi de “secretária sexy” a um dos “heróis titulares”.
Bom, até aqui, aparentemente temos grandes avanços, com a presença de mais mulheres no universo de super-heróis. O próprio MCU, por exemplo, possui várias heroínas. Contudo, mais presença não significa uma melhor representação, o que nos leva a perguntar que representação feminina Viúva Negra traz…
Ter um pensamento crítico sobre isso é muito importante, pois não estamos falando de qualquer personagem, mas sim da Viúva Negra, que pertence ao MCU, o qual, em 2019, conquistou o primeiro lugar no ranking de maior bilheteria mundial. A Marvel possui, assim, uma grande quantidade e diversidade de público. Com toda esta abrangência, além de ser uma grande e influente mídia de massa, ela tem o poder de construir, corroborar e propagar determinados padrões de gênero, ideologias, sexualidade, beleza, etc.
Desta forma, Viúva Negra é uma personagem que alcança um público imenso e exerce certa influência sobre o mesmo, bem como sobre outras produções midiáticas e as representações femininas nelas produzidas. Afinal, não é novidade para ninguém que o cinema norte-americano tem grande poder no mundo todo e influencia outras obras.
Assim, a personagem foi o objeto escolhido para um estudo de trabalho de conclusão de curso, o tão temido TCC. Compartilharemos com vocês alguns pontos principais desta pesquisa acadêmica. Mas, primeiramente, vamos deixar algumas questões claras:
- A análise presente neste texto não tem como objetivo reforçar, determinar ou impor algo, bem como não é uma verdade absoluta;
- O objetivo aqui não é desmerecer a personagem ou organização (MCU), mas sim trazer pensamento crítico e fazê-lo refletir sobre representações femininas e como filmes que em um primeiro momento parecem puro entretenimento podem trazer, a partir da linguagem cinematográfica e dos corpos dos personagens, vários significados simbólicos. Estes podem reforçar e reproduzir ou até mesmo modificar diversos tipos de conhecimentos, ideologias e normas sociais.
- É importante que já tenha assistido aos filmes com a presença da personagem para que possa compreender melhor o texto. E lembramos também que este conteúdo se refere aos filmes anteriores e não ao longa dedicado à personagem, lançado no dia 9/07;
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Um Pouco de Teoria
Bom, para entender a construção da representação feminina da personagem, vamos partir de dois fatores principais: estereótipos e arquétipos. O conceito e a relação entre ambos é muito complexa e palco de discussões de estudiosos há tempos, por isso, não iremos muito nos aprofundar neles, pois esse não é o propósito desse conteúdo. Logicamente, se quiser saber mais sobre, só falar pra gente nos comentários que planejamos um texto bem interessante.
De forma bem breve, arquétipos estão presentes no estudo da psicanálise junguiana e constituem-se de imagens arcaicas, primordiais e universais, que estão presentes no nosso inconsciente coletivo desde as primeiras civilizações. Ressalta-se que são figuras muito antigas e complexas, melhor percebidas e identificadas a partir de mitos como os gregos, por exemplo. Para ficar mais fácil, acredito que já tenha ouvido sobre o arquétipo do herói, mago, sábio, entre outros, presentes nas personalidades dos personagens.
Já o conceito de estereótipo, um termo com o qual possivelmente você deve estar mais familiarizado, envolve várias discussões, desta forma, iremos trazê-lo aqui como o resultado da nossa visão enviesada sobre as coisas e as pessoas. Afinal, já parou para pensar que o nosso julgamento ou entendimento sobre circunstâncias, situações e pessoas está muito ligado ao meio sociocultural em que vivemos, as opiniões e comportamentos que absorvemos para nós?
Assim, por vezes, definimos o que é algo antes de observá-lo de fato. Nota-se também que essa definição se baseia em poucas ou apenas uma característica que este “algo” possui, excluindo, resumindo ou até substituindo todo um universo de aspectos que tal poderia ter.
Viúva Negra e a Figura da Deusa Arquetípica!
A deusa arquetípica está presente no nosso inconsciente coletivo desde os primórdios das primeiras civilizações. A imagem da deusa era muito conectada à mãe terra, ao alimento, ao cuidado, ao segredo da vida, ao renascimento, entre outros aspectos ligados à maternidade.
Era vista como boa em alguns momentos e má em outros, trazendo duplicidade e subjetividade. Ela reconhece a beleza do seu corpo e sua sensualidade, nenhum homem a domina, ela é independente.
A deusa, por muito tempo, foi reprimida pela dominação do patriarcado, principalmente nas culturas ocidentais. Nesse processo, até mesmo certas imagens arquetípicas femininas – como a femme fatale, que envolve a pureza do instituto erótico – se tornaram uma forma mítica contra a mulher a partir de imagens destrutivas à mesma.
A deusa tem forte presença na literatura e nas narrativas audiovisuais e se manifesta de diversas formas, geralmente ligada a figuras mitológicas como as deusas gregas. Geralmente, as personagens que trazem a deusa em suas personalidades revelam a força e a resistência deste arquétipo, que suporta privações, provações, crueldades, abusos e carência afetiva. Elas criam a possibilidade de salvação e, mesmo que falhem, mudam o curso de suas histórias.
E o que Viúva Negra tem a ver com ela? Veja bem…
1. A duplicidade
Este aspecto aparece na maneira como a Viúva Negra executa seu trabalho, afinal, ela é uma espiã que tem como suas maiores habilidades a manipulação e o disfarce. Muitas vezes age como agente dupla, não revelando de qual lado está, e isso é algo que faz parte de sua tática de combate.
No decorrer dos filmes, vemos esta duplicidade ganhando subjetividade no que se refere à sua personalidade, principalmente após sua conversa com Loki em Vingadores (2012), ao relembrar suas ações como espiã e agente da KGB.
Posteriormente a isso, temos ela buscando resolver esse passado de alguma forma, procurando ser uma heroína. A partir daí, temos um conflito interno entre aquilo que ela é e o que gostaria de ser, o que considera bom e ruim, aquilo que tem e o que gostaria de ter: ela é uma espiã assassina, não tem ninguém e nenhum lugar no mundo, mas quer ter uma família e um lar.
2. Sensualidade e erotismo
Erotismo e sensualidade é de fato uma característica presente na Viúva Negra, em especial nos primeiros filmes, seja para ganhar a confiança de Tony e se infiltrar nas indústrias Stark, ou em seu primeiro contato com Bruce, quando flerta com o mesmo. Assim como a deusa, apesar de até mesmo se apaixonar, nenhum homem tem poder sobre ela e sobre o seu corpo. No que se refere ao viés amoroso, ela é livre e independente.
3. Instinto materno
Traços maternos na Viúva Negra? Parece piada, mas não é… tais aspectos vão ficando mais evidentes na personagem no decorrer dos filmes:
- O ato de cuidar daquele que se feriu, de acolher e dar conforto moral;
- Ela é capaz de acalmar Hulk com carinho e delicadeza, sendo a única capaz de controlá-lo sem o uso de violência, trazendo Bruce de volta;
- Ela procura apaziguar possíveis conflitos e zelar pela manutenção da paz entre a equipe;
- É aquela que protege os seus e ainda adverte quando estão em risco;
- Quem se sacrifica pelos Vingadores, que considera sua família.
4. Força, mudança e salvação
Viúva Negra busca mudar o curso de sua história, não quer ser apenas mais uma espiã. Para tal, ela precisa quitar a sua “conta que está no vermelho”, procurando mudar o rumo de sua vida a fim de alcançar algum tipo de redenção ou salvação.
Ela tenta, nos Vingadores, sob as ordens de Steve, mudar de caminho e se tornar alguém melhor, mesmo que pague um alto preço por isso. Nesse sentido, ao fim da saga cinematográfica, temos seu sacrifício, o qual foi fundamental para que todos retornassem para casa. Ao final de sua trajetória, não fica claro se ela conseguiu se tornar uma heroína ou se ainda era uma espiã (explicaremos o porquê posteriormente), ainda assim, ela mudou o rumo da sua história e a de todos.
Viu como a Viúva Negra possui uma complexidade implícita, cheia de informações?
Bom, como foi descrito acima, a deusa arquetípica é muito antiga e carrega uma carga muito grande de informações e significados. Portanto, só foi possível chegar até ela a partir das suas manifestações em outras figuras míticas conhecidas e seus mitos. Lembra que pontuamos acima que arquétipos são melhor identificados e percebidos a partir de mitos?
Pois bem… foram identificados três arquétipos, três figuras míticas, três mitos que se encontram na Viúva Negra e são manifestações da deusa: Lilith, Eva e Deméter, respectivamente.
As três figuras têm seus momentos de ascensão e declínio na personagem, e isso acontece em filmes diferentes. Vamos explicar cada uma delas e, então, responder à pergunta inicial deste texto: que representação feminina Viúva Negra traz?
Bom, até aqui, sabemos que é muita informação. Então, se quiser dar uma pausa para pensar e absorver tudo o que foi descrito, fique à vontade. Se não, só clicar aqui e continuar a leitura.
[…] Continuando nossa análise sobre a representação feminina da personagem Viúva Negra no cinema, finalizamos o último texto pontuando sobre o domínio da deusa arquetípica em Natasha. Ah! Se você encontrou este texto nas buscas pelo Google e não faz ideia de que texto anterior é esse, é só clicar aqui. […]
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