Crítica | Querido Evan Hansen nos deixa agoniados do início ao fim

Querido Evan Hansen está chegando hoje (11/11) nos cinemas do Brasil. O filme é uma adaptação cinematográfica de uma peça premiada da Broadway e chega com altas expectativas. As canções foram compostas por Benj Pasek e Justin Paul, responsáveis por La La Land: Cantando Estações e O Rei do Show.

O musical traz o protagonista Evan Hansen, um garoto deprimido, ansioso e sem amigos. Evan escreve para si mesmo cartas motivacionais, tarefa imposta por seu terapeuta. E no primeiro dia de aula, tudo o que ele deseja é rever Zoe, sua paixão, que mal sabe de sua existência.

Gesso de Evan com "Connor" escrito nele. Crítica nos deixa agoniados do início ao fim - Otageek

Zoe é irmã de Connor, um rapaz com fama de violento, drogado e recluso. Na escola, ele acaba assinando o gesso de Evan e roubando uma de suas cartas para si mesmo. Então, dias depois, quando Connor se mata, a única coisa em seu bolso é a carta para o “querido Evan Hansen”.

A família de Connor então assume que Evan fosse amigo do menino e, sem coragem de desmentir a história, Hansen cria uma amizade que preencheria todos os buracos deixados para trás por Connor. E também todos os vazios da vida de Evan.

Querido Ben Platt

Querido Evan Hansen nos deixa agoniados por diversos motivos e em diversos momentos, a começar pela introdução do personagem principal. Devido à sua depressão e ansiedade, nós nos sentimos mal ao vê-lo assim.

Evan sentado sozinho em um ônibus vazio. Crítica - Querido Evan Hansen nos deixa agoniados do início ao fim - Otageek

E isso se deve principalmente à atuação de Ben Platt, que por atuar também na versão teatral, já conhecia o personagem intimamente. Assim, todas as suas expressões faciais e corporais são precisas. As tremedeiras, o corpo encolhido, o gaguejar… tudo era pontual para que nós sentíssemos exatamente o que Evan sentia.

Entretanto, após a morte de Connor, Evan começa a se soltar mais à medida que vai se afundando em sua mentira. E nesse momento, nossa angústia muda. Agora estamos nervosos ao ver Hansen construir todo o seu futuro em cima de invenções.

Mas principalmente, ao menos para mim, a maior agonia vinha ao ver Connor ser completamente esquecido, mesmo sendo o centro dos holofotes.

Querido Connor Murphy

O filme é realista ao mostrar a reação da comunidade diante de um trágico acontecimento, como o suicídio de um jovem. É como se, com o acontecimento ainda vívido, muitos se sensibilizassem perante o assunto. Assim, quando Evan faz um discurso sobre sua “amizade” com Connor, o vídeo viraliza.

Connor segunrando a carta de Evan - Crítica - Querido Evan Hansen nos deixa agoniados do início ao fim - Otageek

Porém, ao mesmo tempo em que todos estão olhando para a situação e vendo Connor, ninguém o vê de verdade, visto que Evan cria todo um personagem para preencher suas histórias. Evan é egoísta ao continuar com a mentira, não se importando com Connor em nenhum momento e vendo ali apenas uma oportunidade para ter e ser tudo aquilo que não podia ter ou ser antes.

Então, por mais que Evan seja um personagem relacionável, é difícil ficar do lado dele, mesmo que compreendamos o que o leva àquilo. Durante o musical, fica uma sensação forte de injustiça.

Queridas Mães

Dessa forma, outro ponto que nos deixa à flor da pele é ver como a família reage à morte de um filho e um irmão. Grande destaque para Amy Adams interpretando Cynthia, a mãe de Connor. Seu sofrimento é palpável, e também seu desespero por saber o que fosse do filho, com uma clara culpa que a cerca constantemente.

Amy Adams como Cynthia Murphy. Crítica - Querido Evan Hansen nos deixa agoniados do início ao fim - Otageek

E falando em mães, Julianne Moore faz o papel de Heidi, a mãe do Evan. Uma mãe dedicada e amorosa, mas que trabalha muito para sustentar seu filho como mãe solo. Apesar de um papel secundário e com pouco tempo em tela, Moore faz valer seu trabalho, trazendo cenas emocionantes.

Ela possui uma única música durante o filme, mas que vale por muitas. Em So Big, So Small, ela transparece os sentimentos de todas as mães em seus esforços diários e vitalícios para manter seus filhos felizes e a salvo. E se você não estiver chorando ainda, esse é o momento para desmoronar.

Julieanne Moore como Heide - Crítica - Querido Evan Hansen nos deixa agoniados do início ao fim - Otageek

As músicas do longa são ótimas. Seus ritmos acompanham o ritmo do filme, com letras incríveis e bem encaixadas. E aí entra um ponto positivo para a versão cinematográfica, que pode fazer montagens, indo e vindo em cenas, cenários e cronologia, enquanto no teatro tudo isso é limitado.

Meu Querido Fim

Agora um aviso de SPOILER nos dois próximos parágrafos.

Seu final ainda nos deixa agoniados, pois apesar da verdade ser revelada, continuamos sabendo muito pouco sobre Connor. Sabemos que ele levava dor em si e àqueles que o rodeavam. E apesar de tudo, ele queria que as coisas mudassem, ele estava mudando. Estava cada vez mais perto. Mas não sabemos mais que isso.

O filme foca tanto em Evan que parece cometer, ao menos em parte, o mesmo erro do qual acusa Hansen. Esquece-se de Connor, apesar de falar dele. E assim, ao menos para mim, fez com que eu me importasse ainda mais com Connor. Bom, talvez fosse essa a intenção do longa.

FIM DO SPOILER.

Alguns dos personagens secundários que vale a pena destacar são Jared (Nik Dodani, de Atypical) em um papel de alívio cômico bem colocado e Alana (Amandia Stenberg, de O Ódio Que Você Semeia) como uma menina proativa e ativista, a qual nos lembra que transtornos mentais não nos escolhem pelas aparências.

Querido Evan Hansen nos deixa facilmente emotivos, principalmente aqueles que se identificam com tais transtornos. E fica um grande alerta de gatilho, pois pode ser um filme sensível para muitas pessoas.

Enfim, é um filme que vai dividir opiniões, dependendo de como cada pessoa lida com os problemas abordados. Para os fãs dos musicais, as canções devem agradar bastante. E seu fim deixa uma sensação de que devemos viver um dia de cada vez.

Assim, apesar de agoniante, talvez seja um filme necessário e que eu certamente recomendo. Talvez seja essa agonia a responsável por nos fazer entender um pouco mais e praticar o que está ao nosso alcance, no mundo real, para que todos os Connors por aí realmente sejam vistos.

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Nathalia Mendes
Nathalia Mendes
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