Crítica | Quadrinho “Libra” na POC Con 2021

Tivemos a POC Con 2021, feira de quadrinhos e arte voltada para a temática LGBTQIA+, disponibilizando um excelente acervo digital. Falarei agora de um quadrinho que me chamou a atenção, primeiramente, pelo título: Libra.

Tivemos a POC Con 2021, feira de quadrinhos e arte voltada para a temática LGBTQIA+, disponibilizando um excelente acervo digital. Então, falarei agora de um quadrinho que me chamou a atenção, primeiramente, pelo título: Libra.

Capa da HQ Libra

Fazer quadrinhos com a temática LGBT* que não soem panfletários já é um desafio. Fazê-lo numa estética semelhante ao hentai, com pornografia explícita, que não seja vulgar ou forçada, mais ainda. Fazer isso com uma temática que abranja a astrologia sem soar ridículo, imagina só! Não que eu ache a astrologia ridícula… pelo contrário, foi exatamente isso que me chamou a atenção e me despertou a vontade de fazer a crítica sobre esta HQ.

*Resumi o acrônimo pra ficar mais fácil de ler, tá galera? Como se fosse uma abreviação. Não negligenciei as três últimas letras e quem quiser saber sobre cada uma, pode clicar aqui

Aqueles que são mais versados ou ao menos conhecem a astrologia percebem que a personagem principal condiz perfeitamente com o arquétipo do signo, inclusive pela forma física. Libra tem seios grandes, é bissexual, adepta do poliamor, sedutora, fugaz, seu penteado tem uma mecha no cabelo característica, é gregária e divide tudo – tudo mesmo! – inclusive seus amores. Mas quer sempre algo para si, o seu quinhão. Estou falando do signo ou da personagem? Tanto faz, já que a protagonista atende pelo nome de Libra.

Libra e seus dois amantes, um homem e uma mulher dormem de conchinha após transarem. Ela, no meio.

A história se passa no breve espaço de um ménage. E embora eu tenha mencionado um breve espaço, não se sabe exatamente o tempo de duração, e esse é mais um inteligente recurso estilístico. O relato ocorre numa ruptura de paralelismo semântico, onde não se tem noção exata do tempo discorrido, que se passa tanto durante o ménage quanto em todas as relações de Libra, como ela mesma menciona no decorrer da narrativa.

Um dos rapazes parece sem graça com a sugestão, em cena muda. Outra moça encara o rapaz que se sente acuado. Libra e a moça ruiva de olhos verdes que fez a sugestão se olham com malícia.

A narrativa mesmo é notável, pois se dá na forma de narrador personagem e é uma poesia. Muitos poderiam questionar o famoso show, don’t tell (mostre, não narre) e dizer que a obra é redundante por mostrar o que já está sendo dito, mas isso seria uma falta de observação. Não é a narrativa que conta o que está se passando, mas o desenho ilustra o poema que é Libra.

Libra a moça ruiva e o rapaz repousam na cama. A ruiva e o rapaz, de olhos fechados. Libra nos olha com apenas seu olho direito aberto.

Ao fim, temos uma entrevista com a personagem, que responde a dúvidas dos eventuais leitores e narra sua própria autodescoberta. 

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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