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Crítica | Novas tensões em Falcão e Soldado Invernal no Ep. 2
Novo episódio aborda questões novas como a relação do novo Capitão América com Falcão e Soldado Invernal. Já está disponível no Disney+.
No episódio anterior de Falcão e Soldado Invernal, o novo Capitão América é apresentado ao público, o que faz com que o Soldado Invernal volte para a atividade. Agora no novo episódio, mais personagens e conflitos vão sendo apresentados enquanto a série vai ter uma continuidade, com novas tensões sendo criadas aos poucos.
O capítulo abre com uma espécie de propaganda feita para introduzir e apresentar o novo Capitão América ao espectador. Há cenas do personagem mostrando os seus talentos como soldado, falando de sua carreira e motivações. Mas por detrás dos bastidores, existe outra camada que o mesmo está tentando conter.
John Walker, o novo Capitão América, parece até mesmo um homem ingênuo, mas ao mesmo tempo a direção vai frisando aos poucos uma certa raiva dentro do personagem, sentimento que vai sendo demonstrado mais à frente.
É uma apresentação de personagem cuidadosa e precisa: não toma muito tempo de tela e estabelece uma personalidade que vai sendo demonstrada cada vez mais na crescente do ep.
Wyatt Russell também demonstra muito carisma ao segurar o escudo, além de construir essas questões internas de Walker, envolver-se nas tensões e estar bem firme na sua interpretação. Percebemos que John pode se tornar um personagem tão interessante e bem interpretado quanto Agatha.
Dentro dos primeiros minutos, também é apresentado o reencontro tenso entre Falcão e Soldado Invernal. Ambos estão apreensivos com o anúncio do novo Capitão América, o que começa a pingar uma espécie de rivalidade entre eles mesmos e o próprio John Walker à medida que rejeitam a ajuda do novo herói.
Os três vão precisar deter uma missão dos Apátridas juntos e, logo nessa cena, já é visível como as desavenças atrapalham o desempenho da equipe: combinam o mais clássico do humor UCM com uma busca por densidade. Todavia, essa transição se dá de forma brusca: a ação é rapidamente cortada pelas piadas, embora a escrita esteja buscando formas de manter o tom objetivo da cena – denso e frenético.
E nesse mesmo quadro, a dupla vai conhecer o novo Capitão América e seu parceiro Estrela Negra. Inclusive, Falcão acaba estranhando esse nome por parecer um tanto quanto ofensivo para ele, como se houvesse uma necessidade de afirmar uma representatividade por parte do governo em relação à etnia do ajudante. Eles não vão se dar bem logo de cara, criando uma espécie de atrito para o desenrolar da série.
O Capitão América quer resolver o conflito contra os Apátridas junto da dupla, enquanto Falcão e Soldado Invernal já sentem um certo receio em relação a confiar nessa imagem nova escolhida pelo governo. E essa desconfiança acaba fluindo até mesmo para a relação entre os dois protagonistas, o que vai plantar uma semente para o desenvolvimento de ambos.
Mas o episódio não se resume a isso… logo depois da discussão que os personagens protagonizam, a dupla principal vai atrás de um fragmento do passado do Soldado Invernal. Este fragmento em questão foi o primeiro super-soldado negro dos Estados Unidos, Isaiah Bradley, que não foi assumido publicamente e serviu como cobaia para experimentos.
Ademais, depois de sua primeira metade, o episódio parece plantar algumas questões para o desenrolar da série. Vemos Falcão enfurecido com um novo Capitão América branco sendo assumido, enquanto um igual a ele não tem a mesma chance. Assim, a série dá a dica de que a partir de agora vai adentrar em questões de raça.
É um tema muito sensível e está sendo tratado dentro de um universo grandioso como a Marvel. Produções como Lovecraft Country, da HBO, e Watchmen, da mesma emissora, já abordaram o passado tenebroso da população negra americana. Agora, Falcão e Soldado Invernal está trazendo metáforas para simbolizar o período no qual negros e negras foram usados como cobaias pelo governo.
A série ainda não entrou em muitos detalhes, mas insere um argumento sólido, o qual pode perdurar até o seu final. Além disso, a cena que trata do assunto não usa nenhum artifício cômico, o que ajuda na construção do peso da revelação feita para Falcão. É uma construção muito agoniante e bastante carregada de tensão, tudo conduzido pela habilidosa direção de Kari Skogland.
Porém, a obra não trabalha da mesma forma com a masculinidade frágil, que já reluta demais em não ser abordada de forma mais séria. Após toda a revelação sobre o passado de Isaiah, ambos os personagens vão parar na terapia e precisam falar sobre o dia penoso que tiveram. Lá, o Soldado Invernal se abre para Falcão, mas Sam já resiste um pouco mais.
A cena tem uma abordagem hílare, debilitando a construção do ressentimento entre ambos, que estava sendo edificado desde o começo da série. Portanto, apesar da direção de Kari buscar ser cautelosa, esse momento encontra-se resistente para refletir a bagagem emocional que foi pintada desde o episódio anterior.
Em poucos frames, a direção frisa o descontentamento de ambos os personagens por estarem se conectando emocionalmente, mas a escrita acaba se deslocalizando do tom na tentativa de inserir um humor satírico. Isso acaba menosprezando o olhar cuidadoso que Kari tem para os dois protagonistas em tela.
Por outro lado, temos mais dos Apátridas sendo desenvolvido. Além de serem inseridos na cena de ação, agora o grupo vai ser mostrado como uma organização bastante unida, cuidando uns dos outros. Além de tudo, vamos vê-los sendo recebidos por uma família muito pobre e tratados como salvadores da comunidade.
Essa pode ser uma questão inédita para uma produção MCU, uma vez que os vilões da série estão sendo abraçados pelas populações mais pobres, trazendo assim uma desconstrução sobre “quem é o herói?’ e “quem é o vilão?”. De um lado, a obra informa que os Apátridas estão ajudando pessoas com atitudes duvidosas, enquanto no outro tem John Walker sendo anunciado como herói e lutando para esconder seu lado sombrio.
O ritmo da série, até o momento, tem sido bem mais apressado que WandaVision devido à quantidade de seis episódios formadores do enredo. No entanto, a produção tem andado ao mesmo tempo em que está apresentando seu terreno. Porém, destaco alguns deslizes quanto ao exagero do humor nas cenas de tensão, mesmo sendo uma assinatura característica do estúdio. Isso pode agradar alguns fãs, mas descontentar outras pessoas que não tem tanta proximidade com a marca e esperavam outro produto.
O episódio também vem retirando algumas referências das histórias em quadrinhos, como a apresentação do Isaiah Bradley, o lado mais sombrio de John Walker ganhando notoriedade e algumas outras referências escondidas que os fãs vão se saborear quando encontrarem.
Até este ponto, Falcão e Soldado Invernal apresentou apenas o início do que será desenvolvido. Algumas questões, como racismo e masculinidade frágil, ainda não ganharam uma abordagem maior, mas o episódio finaliza dando a entender que ambos os assuntos vão servir como a base da série. Até o presente momento, nos deleitamos com fragmentos do futuro da produção.
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