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Crítica | Silicon Dreams e a caça aos divergentes
Desenvolvido e distribuído pela Clockwork Bird, “Silicon Dreams | Cyberpunk Interrogation” é um jogo independente de aventura e simulação lançado em 20 de abril de 2021. Disponível para Linux, MacOS e Microsoft Windows, ele está listado na Steam para compra.
O jogador é colocado “na pele” de um androide a serviço da KRONOS Robotics. Ele foi criado para interrogar outros androides divergentes que estejam apresentando comportamentos contraditórios com sua programação.
À nossa disposição, temos um conjunto de ferramentas para extrair “a verdade” e tomar uma decisão sobre o futuro daquela inteligência artificial. E a nossa empresa espera muito dos seus funcionários modelo!
Cada caso vem com um relatório que você deve preencher, respondendo questionamentos específicos. Você pode algemar o andróide, passear por tópicos variados, recorrer ao reporte de quem o denunciou ou até mesmo a objetos pessoais deste.
Mais do que um jogo de simulação, “Silicon Dreams” é extremamente estratégico e exige que você saiba escolher: seja a pergunta certa na hora certa, seja a resposta que vai ganhar a confiança do objeto ou mesmo o fim que aquela IA irá tomar.
Eu sei que talvez você já esteja achando o jogo “mais ou menos”, mas ele ainda tem muito a surpreender. Na verdade, ele tem um estilo muito específico de escolhas, lembrando levemente títulos dos quais já falei por aqui, como o Gwan Moon High School, mas com uma pegada Cyberpunk.
É possível sentir empatia por Inteligências Artificiais?
Sem brincadeiras, essa foi exatamente a primeira coisa que eu me perguntei. O meu objetivo era ser o carrasco, mesmo sabendo que eu tentaria ser mais neutro e justo.
Imagine a minha cara quando vi um dos androides que haviam sido enviados para interrogatório afirmando que estava triste com a sua dona. Mais do que isso: triste porque a dona tinha brigado com ele por não ser eficiente e cantar nas horas vagas.
“Silicon Dreams” é esse tipo de jogo: personagens construídos com cuidado e dimensão (mesmo aqueles que não deveriam ter) mexendo diretamente com nosso emocional. Enquanto você enfrenta os mais variados casos, sente que existem camadas demais por trás daquilo. E eu vou falar sobre isso no próximo tópico!
Um dos pontos que ajudam a construir esses personagens multidimensionais é o sistema de emoções. Durante o interrogatório, acompanhamos os variados sentimentos que cada pergunta pode despertar no objeto de nosso estudo.
Alegria, surpresa, raiva, repugnância, medo e tristeza tornam-se medidores que podem indicar culpa e inocência. Vários relatórios pedem que você analise esses resultados e, então, vemo-nos obrigados a prestar muita atenção nisso.
No sistema de relatórios, algumas perguntas são cruciais, no entanto, você precisa saber interpretar. Este não é um jogo que entrega tudo de mão beijada, e não digo nem por ser em inglês (!), mas por ser muito sutil.
Como você irá fazer a leitura das atitudes do andróide divergente? Elas foram boas, ruins ou neutras? Tudo isso parte de um juízo moral muito pessoal de cada jogador, mas a organização para a qual você trabalha não perdoa falhas.
Ainda não tive a oportunidade de platinar o jogo e nem cheguei ao seu fim, mas até onde cheguei, minha reputação na empresa está péssima. A KRONOS Robotics desenvolve um sistema de ranking severo para seus interrogadores.
Funcionários capazes de seguir os protocolos e destinar os androides para o objetivo correto sobem no ranking. Por sua vez, se você libera uma IA que precisava ser destruída ou consertada, sua pontuação decai.
Não é porque é digital que é funcional
Lembra quando eu falei ali em cima das camadas do jogo? Então, o grande problema é que, de acordo com o desenvolvimento do interrogatório, algumas perguntas bônus surgem e você precisa escolher apenas uma.
Sem chance de retorno ao tópico, sem chance de pressionar mais uma vez. “Silicon Dreams” faz você colocar o androide interrogado contra a parede e não afrouxar. Porém, fica claro que existem muitas provocações por trás daquele relatório. O jogo te instiga a ser rebelde, mas não te permite ser tão rebelde assim.
Na verdade, essa limitação é totalmente compreensível. Não podemos esquecer que esse foi um jogo desenvolvido de forma independente!
No que diz respeito aos objetivos que devem ser perseguidos por você, “Silicon Dreams” não entrega nada fácil. É difícil entender o direcionamento correto entre liberar, consertar ou destruir um andróide.
Isso é complexo e meio desanimador se você estiver focando em subir seu ranking. Ah, inclusive, o sistema de ranqueamento da KRONOS Robotics não é nada claro. Se você for emotivo como eu ou carrasco demais, terá dificuldade em acertar.
E isso vai afetar o seu desenvolvimento dentro do jogo!
Ser rebelde é uma opção, mas tem consequências
Como eu disse anteriormente, estilos de jogo diferentes te levarão para lugares diferentes. Se você optar por ser um funcionário modelo para a KRONOS Robotics, poderá crescer na organização.
Caso você deseje ser um carrasco, talvez enfrente a bronca dos seus chefes. E se, como eu, você tentar ser mais rebelde, verá seu ranking cair vertiginosamente: eu ainda não sei o que acontece quando ele chegar a zero.
Em “Silicon Dreams”, tudo é uma questão de escolha. E por mais que, em certos momentos, as escolhas sejam reduzidas, você ainda tem muitas direções a percorrer.
O estilo do jogo é muito interessante e, se você gosta de tramas com camadas (e uma boa dose de leitura), vai curtir ainda mais o game. Mais do que uma aventura cyberpunk, “Silicon Dreams” é carregado de mistérios e momentos de ansiedade nas alturas.
Cabe a você definir o destino dos androides divergentes!
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