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Crítica | ‘Obediência’: um retrato tenso, revoltante e sombrio da submissão humana
Sinopse: Sandra (Ann Dowd), uma gerente sobrecarregada de um restaurante de fast-food, recebe uma ligação de um policial acusando uma de suas funcionárias, uma jovem chamada Becky (Dreama Walker), de roubar de uma cliente. Acreditando na palavra do oficial, Sandra detém Becky, colocando em movimento um cenário de pesadelo que rapidamente sai de controle. Inspirado em acontecimentos reais.
(Escrito por Roberto Costa) Definitivamente um filme nada fácil de assistir, Obediência (2012) prende o espectador numa mistura de revolta, indignação e curiosidade em um tema que circula os limites da submissão de uma pessoa perante uma figura de autoridade. Dirigido e roteirizado por Craig Zobel, o filme está disponível até o dia 15/02 na plataforma Supo Mungam Plus em sua parceria com o My French Film Festival.
A ambientação de Obediência
Com o cenário fixo em um restaurante de uma rede de fast-food chamada Chick-Which, o filme apresenta uma estética oleosa, reforçada pelas cenas em que a câmera foca na fritadeira. Além disso, um cenário um tanto quanto caótico que faz crescer um sentimento agoniante no espectador com seus ângulos fechados em certas cenas.
Tudo no filme coopera para criar o clima de estranhamento conforme vemos os pedidos cada vez mais absurdos do policial Daniels, pedidos esses que fazem com que uma situação revoltante escale de maneira rápida, nos levando a picos de choque que não são facilmente digeridos. O cenário amplo mas, ao mesmo tempo, sufocante do escritório de Sandra contrasta com a figura pequena e vulnerável de Becky, reforçando o momento em que a garota se encontra durante a abordagem.
Revoltante e caótico
As violências que Becky sofre sem que ninguém questione conseguiram levar este colunista a parar um tempinho para respirar e absorver tudo o que estava acontecendo enquanto engolia alguns bons palavrões para os personagens. Entretanto, Obediência traz um debate muito importante em toda sua história caótica: a submissão humana quando em frente a uma figura de autoridade.
Obediência nos leva a questionar até que ponto Sandra, que aqui representa a sociedade em sua relação com uma figura de poder, vai abrir mão de sua humanidade e de seus princípios morais para continuar seguindo as ordens desse policial.
Apesar de revoltante, Obediência se torna um filme muito importante quando aborda tais questões de forma tão sutil, ainda mais quando apresenta os outros personagens e como cada um deles se comporta e reage aos pedidos do policial Daniels. Até mesmo os personagens que escolhem não interferir na situação absurda acabam mostrando uma parcela da sociedade que se omite diante de situações envolvendo figuras de poder, mesmo que seja revoltante e tão degradante para uma das partes.
Se não fosse um filme baseado em uma história real, que surpreendentemente se mantém muito fiel ao caso verdadeiro, talvez Obediência fosse apenas um filme de tortura cujos personagens são “imbecilizados” para manter o espectador preso. Mas não, o mais revoltante e chocante de todo o filme é o fato de que retrata com muita veracidade fatos reais. Somos levados ainda mais a um lugar de choque quando o filme apresenta, em seu final, cerca de 70 casos parecidos já denunciados.
Ann Dowd e Dreama Walker estão perfeitas em seus papéis, trazendo um certo contraste entre seus personagens e como são representadas. Sandra com sua simplicidade humana, a personalidade mais básica porém com seus pontos palpáveis, enquanto Becky é uma figura quase angelical, uma garota com suas facetas ainda em construção.
Para finalizar, Obediência é um filme de importância e com um tema muito interessante para discussão e até mesmo para alerta, mas que requer certa paciência para compreender que os humanos são figuras que se acanham e se podam em situações de enfrentamento perante autoridades. Ademais, é preciso estômago para encarar as violências que Becky sofre e o julgamento silencioso que se prolonga até o fim do filme, quando finalmente alguém resolve dar uma basta em tudo aquilo.
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