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Crítica | Mulher-Maravilha 1984 é um hino de esperança
No final de 2019, o cinema era surpreendido com o massacre massivo em cima do último filme da Saga Skywalker, Star Wars: Episódio 9 – A Ascensão Skywalker, que dividiu muitas opiniões dos fãs. Acontece que foi um grande prelúdio para o ano louco que foi 2020, mas Mulher-Maravilha 1984 pode ser um prelúdio para o ano de 2021, porque é um filme cheio de sentimentos sendo externados.
O novo filme da DC chegou logo após uma série de adiamentos e o fracasso nas bilheterias de Aves de Rapina, que por sua vez foi um longa um tanto quanto prejudicado pela falta de um marketing seguro e massivo.
Consequentemente, esse problema foi refletido em Mulher-Maravilha 1984, porque a nova produção da DC não teve uma grande divulgação e nada muito marcante estava sendo divulgado. O hype estava em cima do que havia sido deixado do filme anterior e das declarações de elenco.
Mas o longa acabou se beneficiando de um marketing modesto, uma vez que muitas surpresas podem ser aguardadas pelos fãs da maior heroína da história nesse novo capítulo, com pontos pertinentes para serem abordados.
Chegada ao Público
Depois do fracasso de Aves de Rapina e o início da pandemia, a Warner decidiu lançar o filme em serviços de Video on Demand. Acontece que ele acabou se tornando mais popular em VOD, ao invés de causar euforia quando chegou nas telonas.
Portanto, a Warner tomou a decisão de lançar Mulher-Maravilha 1984 direto em streaming uma semana depois de chegar aos cinemas, causando uma grande discussão em cima da estratégia.
Pensando em curto e médio prazo, a decisão pode ter sido a mais responsável no momento. Além de ser correto, o filme terá uma acessibilidade maior para pessoas que não costumam ir ao cinema, e todos poderão ter acesso ao entretenimento sem precisar arriscar a própria vida.
Mas a estratégia não está sendo aplicada no Brasil, já que o longa chegou aos cinemas enquanto casos de COVID-19 no Brasil tem aumentado drasticamente nos últimos meses.
Dito isso, tome cuidado, você leitor que for assistir o filme e se sentir confortável para estar em um ambiente fechado. O Otageek se preocupa com nossa equipe, com nossos leitores e suas famílias. Então, se for assistir Mulher-Maravilha no cinema, use a máscara, leve álcool em gel e vá em uma rede de cinema que esteja bem equipada e seguindo as recomendações da OMS.
O Filme
Mulher-Maravilha 1984 chega aos cinemas três anos após o lançamento do primeiro filme da heroína, mas não é como se fosse automaticamente uma sequência de seu antecessor. Por mais que ele dê continuidade, o longa se preocupa em criar uma nova história para a heroína ao invés de apenas ser uma continuação.
A nova história de Diana Prince (Gal Gadot) se passa no início, quase na metade, dos anos 80 e mostra a heroína com problemas de socialização. Ela já perdeu todos os seus amigos que lutaram com ela na Primeira Guerra Mundial, então agora se encontra solitária e agindo nas sombras, sem querer mostrar sua verdadeira identidade.
Mas tudo é jogado rio abaixo quando Diana conhece Barbara Minerva (Kristen Wiig) e ambas se tornam amigas com facilidade. A heroína vê o quão sozinha a gemologista é e decide se aproximar dela para demonstrar compaixão.
Porém, Barbara fica encarregada de examinar uma pedra, até então sem valor nenhum, que tem um poder secreto de realizar desejos. Assim, rapidamente, tem início uma caçada para possuir o artefato e a trama começa a ser desenrolada.
Tudo vai se tornando maléfico quando, por intermédio de Barbara e do empresário magnata Maxwell Lord, o mundo vai tendo acesso ao poder da pedra. Isso resulta em desgraças que vão afetando a sociedade enquanto Diana precisa lidar com várias consequências de seu pedido para o objeto.
Direção e Roteiro
Patty Jenkins é uma diretora que consegue criar ambientações diversas para mostrar a vida da heroína. Diferentemente do tom carregado, com filtro cinza e slow-motion de Zack Snyder que o primeiro filme teve, nesse segundo vemos uma paleta de cores mais calorosa e receptiva, mas que ainda consegue trazer a tonalidade séria da qual o filme necessita nos momentos de tensão.
A diretora está bem mais ciente de quem é a heroína e para onde ela quer chegar com sua história, sabendo dosar os clichês e conveniências que o cinema de herói pode trazer. Sua execução vem trabalhar a relação que os personagens tem entre si.
O roteiro não está preocupado em fazer cenas de ação gigantescas: apesar de ter algumas em grande escala, vemos uma nova narrativa que está preocupada em trabalhar a ganância e a cobiça do ser humano.
Por trabalhar uma realidade cotidiana, o filme permite ao espectador se conectar com a Diana de uma maneira muito mais palpável que a do primeiro filme. Na composição de cenário, o imaginário consegue ser aberto e deixa o público vislumbrar de que maneira ela está levando sua vida.
Enquanto isso, vemos Maxwell e Barbara apenas em ambientes de trabalho, mostrando como ambos os personagens estão tomados pela cobiça de se tornarem reconhecidos em seus meios, o que anula a vida pessoal.
Personagens e Ação
Dentro do universo de Patty Jenkins, a maior preocupação do espectador precisa ser em cima dos personagens. Portanto, a diretora vem construindo cada personagem dentro da sua própria essência, mas dando um toque a mais de dualidade nas suas motivações individuais.
Diana, por exemplo, está pautada em sua essência original quando criada em 1941: uma heroína forte e justiceira, mas recheada de compaixão, solidariedade, altruísmo e alegria. Porém, nesse novo longa, ela se encontra abraçada pela solidão e descrença do mundo moderno.
Ela é visivelmente cansada e triste, mas escolhe não demonstrar isso para o público, escondendo-se por detrás de máscaras sociais quando está no trabalho para evitar contato, como na cena em que ela conhece Barbara.
Na verdade, o filme vai deixando claro que Diana possui suas similaridades com a raça humana, porque ela também tem dores, ambições e desejos próprios. Em alguns momentos do longa, Patty arranca do coração da protagonista as reações mais identificáveis possíveis. Essa estratégia causa comoção porque, assim como Diana, todos estamos tentando lidar com nossas dores internas.
E mesmo que Barbara e Maxwell Lord sejam desenvolvidos com um pouco de diferença em relação a Diana, o roteiro encontra os pontos em comum dentro dos vilões e da heroína para tornar o terceiro ato emocionante.
Assim como Diana, Barbara é uma mulher muito carente, porém, diferentemente da mesma, não é por escolher estar sozinha, e sim porque não tem outra escolha. Assim, Barbara vai se transformando em uma mulher amargurada quando tem a coragem de enfrentar o assédio, a solidão e sua falta de autonomia, deixando-se corromper pelo desejo.
Maxwell, por outro lado, não se esconde em máscaras. Desprezível até sua raiz, o filme deixa claro o quão contaminado o vilão é, além de ganancioso e perdido no próprio ego, tornando-se um pai negligente para seu filho.
Acontece que todas as dualidades trabalhadas em tela fazem com que a ação do filme seja construída em cima das emoções humanas que os personagens vão sentindo, livrando-se da ação desenfreada que o gênero costuma ter.
Na cena em que vemos Diana lutando no deserto, por exemplo, diferentemente da cena Terra de Ninguém do primeiro filme, ao invés de vermos uma heroína confiante e astuta, o público vai se deparar com uma heroína tendo de lidar com as consequências do seu desejo, da sua escolha e de ganância. Assim, o longa torna tudo mais emotivo.
Diana Prince e 2020
Mesmo se passando em 1984, a trama consegue deixar o tema debatido no filme muito atual.
Assim como 2020, Mulher-Maravilha 1984 se pautou muito em cima do egoísmo e narcisismo deixados visíveis na sociedade. A figura de Maxwell Lord pode ser comparada com a de diversos chefões de Estado que negligenciaram a pandemia.
Já Diana representa todo o resto das pessoas que não tinham muitas opções e se sentiram sozinhas, assim como Barbara pode representar as pessoas que tiveram uma crescente ansiedade por estarem solitárias.
Mas Mulher-Maravilha 1984 traz uma mensagem de esperança e otimismo, dizendo que o mundo pode continuar sendo bom mesmo com os problemas, só basta fazermos nossa parte e focarmos em como podemos mudar o mundo com poucos recursos.
Conclusão
Assim como Ascensão Skywalker fez em 2019, Mulher-Maravilha 1984 deixa sentimentos conflituosos e reflexivos no ar, mas dessa vez os sentimentos deixados dentro do filme são muito bons e podem florear a vida do espectador. Recheado com cenas de ação emotivas, diálogos dramáticos e uma equipe muito cuidadosa nas mãos, o longa fecha 2020 com um olhar de esperança.
O ridículo dos anos 80 pode ser apenas um grande chamativo, porque dentro do coração da atmosfera do filme se encontra uma flor rosada chamada esperança.
Mulher-Maravilha 1984 se iguala a sequências incríveis do cinema como Exterminador do Futuro 2, X-Men 2, O Império Contra-Ataca, As Duas Torres e Batman – O Retorno.
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