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Crítica | Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos
Desde que lançaram seu sangrento kick and punch*, Ed Boon e John Tobias não imaginaram a proporção que sua epopeia iria tomar. Suas continuações, a gradativa inserção de personagens, as relações entre eles… todas divididas em pequenos núcleos de ação – e aqueles que estudaram roteiro sabem do que estou falando. Agora chegamos a Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos.
*Jogos de luta com um oponente de cada lado da tela
Os monges Liu Kang, Kung Lao e seu deus Raiden fazem parte da turma do Templo Shaolin, que sabe do torneio e luta para impedir que o bonde* do mal, oriundo da Exoterra (Outworld), invada a Terra. Não se trata de uma invasão alienígena no sentido extraterrestre, mas de seres de outra dimensão.
*Grupo, galera em carioquês
Os policiais Jax, Sonya Blade, Stryker, o ator Johnny Cage e o bandido Kano, da máfia Black Dragon, entraram de gaiato no torneio e não sabiam com o quê estavam lidando. Sonya vai para a ilha atrás de Kano e ambos acabam sendo presos e aparecem acorrentados em um cenário do segundo game, numa inteligente metalinguagem que, para a nossa frustração, não os tornava personagens jogáveis em Mortal Kombat 2 para só retornarem no terceiro game.
Scorpion, Sub-Zero, Reptile, Smoke, Kitana, Mileena, Jade e outros são os ninjas, que não poderiam faltar pelo simples fato de ninjas serem legais. A picuinha entre Scorpion e Sub-Zero ficou tão maior do que a história do jogo que a tela de apresentação de Mortal Kombat (2011) mostra ambos se encarando, com Scorpion desferindo um uppercut em Sub-Zero quando o jogador pressiona start.
Personagens secretos apareciam como personagens jogáveis nos games seguintes. Dos já conhecidos, tanto suas histórias quanto suas mudanças eram muitas vezes narradas nos manuais de instrução que vinham com os cartuchos e só podíamos imaginar o que aconteceria com eles, tornando o jogador um coautor da trama. Quando Jax aparece em Mortal Kombat 3 com um par de braços cibernéticos, por exemplo, perguntamo-nos o que teria acontecido. Ele teria perdido os braços nos eventos de Mortal Kombat 2 ou se submetido voluntariamente à cirurgia de transumanismo?
Essa e outras perguntas foram respondidas em Mortal Kombat (2011), que, em seu story mode, conta o que aconteceu entre o Mortal Kombat 1 e 2 e entre Mortal Kombat 2 e o terceiro jogo, que narra a invasão da Exoterra à nossa dimensão, saltando e pondo de lado muito do que foi apresentado (inclusive personagens) nos games subsequentes. É que na década de 2000 até mais ou menos 2012 havia uma tendência de se contar os comos e os porquês e realizar filmes, games e HQs com “A história nunca antes contada…”. Haja vista o filme Prometheus, a série de HQs Antes de Watchmen e o próprio Mortal Kombat (2011).
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A história das animações Mortal Kombat Legends segue o enredo e a mitologia dos jogos, diferentemente do último filme (2021). Já se sabe do envolvimento de Quan Chi (e ninguém me tira da cabeça que ele é um Shinigami) na morte da família de Scorpion, que em vida se chamava Hanzo Hasashi. Dando continuidade aos eventos mostrados em Mortal Kombat Legends: A Vingança de Scorpion, que conta a história do ponto de vista do amargurado espectro, Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos conta a história de Liu Kang e seu papel fundamental no desenrolar dos eventos para que o apocalipse iminente não se sucedesse.
A origem de Liu Kang pode lembrar um pouco a de outro personagem conhecido da DC: um casal é assassinado em um beco. Hmm… Claro, por que não? Se Mortal Kombat é fechamento* com a DC, nada impede uma chupinhada básica.
*Aliança em carioquês.
Jax, que teve seus braços arrancados na animação anterior, aparece com seus braços cibernéticos e apresenta Stryker, que desacredita do que está vendo, já que nunca enfrentou inimigos inumanos. Aliás, isso é um ponto alto de ambas as animações: detalhes como os braços de Jax ou a descrença de Stryker e Johnny Cage são passados de forma natural.
Fatalities como o de Scorpion em Mortal Kombat 2 e o “beijo da morte” de Sonya aparecem como easter eggs. Motaro, o centauro sub-chefe de Mortal Kombat 3, não aceitava* rasteiras, e ver Sonya derrubá-lo com uma na primeira animação dá um sentimento de regozijo aos jogadores mais velhos, como um acerto de contas tardio. É algo como a roupa do rei: só os mais aficionados veem.
*Aceitar ≅ ser permitido ao jogador lançar mão de tal recurso ou aplicar determinado golpe no adversário no jargão gamer.
Kitana reaparece apresentando Jade e Kintaro, todos de Mortal Kombat 2. É como se as animações seguissem concomitantemente a cronologia dos games, mas sob outros pontos de vista. Quem conhece a história sabe que Kitana é a She-Ra de Mortal Kombat.
Assim como Adora, do universo de Mestres do Universo, é a filha adotiva do déspota Hordak, Kitana desempenha o mesmo papel, sendo a acólita de Shao Khan. E tudo leva a crer que será o par romântico de Liu Kang, pois já tá pintando um clima desde A Vingança de Scorpion. Johnny Cage continua sendo o alívio cômico da série e prova que não é só um playboy metido a engraçadinho, já que sabe lutar.
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O traço pode desagradar a alguns fãs mais velhos, que lembram da HQ Mortal Kombat e seus spin offs (como Goro: Príncipe das Trevas), mas o ritmo, principalmente nas lutas, e a violência explícita não decepcionam em nada. Se em 1992 a versão de SNES era criticada por não ter sangue, aqui os fãs da franquia não têm do que reclamar, já que não há pudor em mostrar a violência desmedida, tanto em membros do Outworld quanto em humanos; palavrões e eviscerações gore ocorrem a todo momento e os X-Ray Moves estão presentes desde a primeira animação.
Kuai Liang, o irmão de Bi-Han, aparece como o Sub-Zero sem máscara, com a tradicional cicatriz, mas… de barba, ao lado de Smoke. Os ninjas cibernéticos Cyrax e Sektor também estão presentes e todos são apresentados num pacote único, bem costurado pelo roteiro, o que faz com que toda a coisa ocorra de forma fluida, inerente ao enredo.
Mesmo após a derrota no kombate anterior, a porradaria continua rolando solta entre os heróis e os habitantes do Outworld, que insistem em querer invadir a Terra mesmo após o fiasco do primeiro torneio. Para evitar a carnificina constante, Rayden então decide acatar a proposta de Shao Khan: pedir aos deuses ancestrais que lhes concedam um novo torneio.
Enquanto isso, Shinnok, que é apenas citado na primeira animação, busca obter a chave artefato (Kamidogu) que está em poder de Scorpion para despertar o Ser Único, que fará a fusão de todos os mundos, mesclando e confundindo tempo e espaço, como nos eventos relatados em Mortal Kombat: Deadly Alliance, Mortal Kombat: Deception e Mortal Kombat: Armageddon.
A animação finaliza(?) e compila muito bem o enredo da enxurrada de games da franquia. Esperamos que não pare por aí. Se Game of Thrones, Jurassic Park e outros foram além de suas histórias canônicas, por que o mesmo não pode ocorrer com Mortal Kombat, com direito a prequels, crossovers e spin-offs? Ainda há muita história a ser contada. Ed Boom e John Tobias, por favor, don’t finish it!
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