Acompanhe o Otageek nas redes sociais
Crítica | Manhãs de Setembro – Amazon Prime Video
Manhãs de Setembro está chegando na Amazon Prime Video no dia 25 de junho. É uma série sobre amor e família, com um elenco fortíssimo e moderna.
Anunciada no ano passado, Manhãs de Setembro é a mais nova série da Amazon Prime Video, que está chegando em um momento no qual as produções brasileiras vêm em um crescente nos streamings e tem se explorado outras formas de narrativas nas terras brasileiras. Com um elenco cheio de estrelas, Manhãs de Setembro chega ao catálogo da Amazon com um certo olhar diferenciado sobre as histórias que aborda.
A série conta a história de Cassandra (Liniker), uma mulher transexual que trabalha como motogirl na metrópole de São Paulo. A protagonista se encontra em um relacionamento com um homem casado, Ivaldo (Thomás Aquino), e apesar deste fato, é uma relação que parece estar muito séria.
Também faz alguns bicos como cantora no bar de sua melhor amiga e de seu melhor amigo, até o dia em que sua ex-namorada aparece com um filho tanto dela quanto de Cassandra.
O sonho de Cassandra de ser uma mulher livre e independente então se desfaz no momento em que se encontra com o filho. A jovem começa a fazer de tudo para expulsar o menino e a mãe de sua vida. Acontece que ambos estão morando em um carro, vendendo salgadinho e juntando cada centavo para emergências básicas.
Conforme a trama avança, Manhãs de Setembro começa a mostrar a fragilidade da vida de Cassandra e de Leide (Karine Teles), sua ex-namorada, já que agora as duas precisam lidar com o passado ardiloso para priorizarem a melhor forma de Gersinho (Gustavo Coelho), filho de ambas, viver.
Cassandra passa a maior parte do tempo relutando para não ter qualquer ligação com a dupla, enquanto Leide insiste que a protagonista aceite seu papel na vida do filho, porque sozinha não consegue dar conta de todas as obrigações maternais na progressão de Gersinho como uma criança.
A série também explora bastante o lado de Leide, principalmente nos seus últimos episódios, nos quais sua permanência na vida de Cassandra é quase certa, uma vez que os amigos da protagonista abraçaram a sua história. Isso nos faz gerar empatia pela figura não só da mãe, como também do filho.
Manhãs de Setembro concebe uma narrativa distante dos padrões televisivos nacionais. A série busca se distanciar ao máximo das caricaturas da periferia, comuns na hegemonia de novelas, criando personagens redondos que ultrapassam os rótulos de heróis e vilões.
Mesmo Cassandra sendo protagonista de Manhãs de Setembro, a escrita rejeita a posição de heroína para a mesma. Ela é grossa, rude com todos, desbocada e muito magoada pelos fantasmas de seu passado, já que tenta o tempo todo fugir de sua imagem antiga e mesmo assim continua esbarrando em seus pecados.
Enquanto isso, Leide também não está encaixada no rótulo de vilã pela vontade do roteiro de mostrar suas motivações. Sua realidade acaba coincidindo com a de muitos brasileiros, trazendo-a para um local mais próximo da vida tupiniquim, enquanto suas atitudes questionáveis para com Cassandra dentro da trama vão sendo justificadas pela vontade de progredir na vida.
Portanto, Manhãs de Setembro dita uma narrativa com essas duas mulheres dúbias, questionadas diariamente sobre o certo para todos e o certo para ambas como indivíduos, possibilitando ao roteiro abordar questões sociais como transfobia e machismo e a forma pela qual afetam o cotidiano de duas minorias.
Enquanto Leide demonstra ignorância, desrespeitando o nome social de Cassandra e diminuindo o gênero da personagem, a protagonista ofende sua ex-namorada constantemente com ofensas misóginas e machistas, estreitando ainda mais a relação das duas e a percepção do papel que ambas possuem sobre a vida de Gersinho.
Conforme a relação vai se estreitando, a visão que a direção possui da cidade de São Paulo reage ao que as duas personagens vivenciam. Partindo de uma percepção gélida e encardida, a metrópole exerce um papel fundamental na trama para aprofundar as emoções de suas peças chaves.
À medida que Manhãs de Setembro escava ainda mais o atrito entre Leide, Cassandra e as consequências da criação na vida de Gersinho, a série entra cada vez mais nos becos e vielas da cidade de São Paulo. Assim, torna a cidade o palco principal para as ações do personagens à medida em que explora a sujeira e o clima ímpio da metrópole, de encontro com as atitudes duvidosas de ambas.
O desafeto também é trabalhado em tela pelas performances de Liniker e Karine Teles, atentas às camadas maliciosas e bondosas das personagens. Liniker está estreando como atriz no streaming após uma caminhada pela música e pelo teatro, trazendo sua força para a personagem enquanto despida de sua imagem popular midiática. Dessa forma, passa pelo lado afetuoso e sonhador de Cassandra, como também entra no lado rude e grosso da protagonista.
Karine Teles, mais uma vez, exerce seu papel como atriz olhando para a visão de classe social. Vinda de filmes como Que Horas Ela Volta?, no qual interpreta uma vilã da classe média alta, e Benzinho, dando vida a uma mãe pobre, Karine adentra no cenário da personagem e cria uma pessoa real, cheia de medo e dúvidas, mas também de mágoa e preconceitos.
Manhãs de Setembro finaliza seu argumento da mesma maneira que começa, buscando se manter fiel ao discurso ambíguo de suas personagens e levando a trama para um lugar não muito otimista, mas sim condizente com o que a sociedade acredita sobre paternidade e maternidade. Ambas vão precisar exercer seus papéis, apesar das mágoas gritantes no ar.
Manhãs de Setembro estará disponível no catálogo do Prime Video a partir do dia 25 de junho.
Leia também: