Crítica Loki | Episódio 2 define paradigma a não ser seguido

Trama arrastada do segundo episódio sofre de altos e baixos, mas conclui direcionando pacientemente para o que os fãs tanto aguardavam.

Antes de ‘Loki‘ ter sua estreia oficial no serviço de streaming do Disney+, o Otageek participou da cabine de imprensa do lançamento oficial da série, a convite da Disney Brasil. Lá, pudemos conferir os dois primeiros episódios e fizemos uma cobertura especial sobre o evento em nossas redes sociais.

Posto que já tivemos acesso ao material de antemão, aqui vai a nossa crítica do segundo episódio. Mas cuidado, pois ela contém spoilers!

Caso ainda não tenha conferido, também escrevemos uma crítica de primeiras impressões do primeiro episódio.

A Questão da Trama

Ao menos no Universo Cinematográfico da Marvel (MCU), é possível afirmar que Loki é um personagem que ostenta carisma. Mais que isso, Loki é consolidado como um sujeito extremamente livre – que persegue o caos, mas livre – e que tem muita presença onde pisa. Grande parte desses traços de personalidade são catalisados pela elogiosa atuação de Tom Hiddleston no papel.

No entanto, desde que Loki chegou à base de operações da TVA, ainda no primeiro episódio, houve uma ruptura de paradigma para o personagem. A começar pelo traje clássico asgardiano, com tons chamativos de verde e dourado, que foi substituído por uma espécie de uniforme de presidiário, em tons apagados de bege e marrom. E não são apenas os símbolos visuais que constroem essa ideia. Loki é literalmente tratado como um detento (ou variante, se preferir).

A partir do momento em que Loki se vê cercado por um ambiente tão sóbrio, monótono e controlado, é quase como se o personagem estivesse sob efeitos claustrofóbicos. É contra a sua natureza estar ali; contra sua essência não se sentir no controle da situação e ser tão apequenado por terceiros, dos quais nunca ouviu falar.

Vale relembrar, por exemplo, que Loki só não teve sua existência apagada porque Mobius (Owen Wilson) considerou que o deus da trapaça poderia ter utilidade oportuna para uma missão específica.

Logo, as qualidades máximas do personagem (autonomia e carisma) são retraídas, fazendo a trama parecer mais arrastada e desinteressante. Se o primeiro episódio entregou didatismos introdutórios e necessários para construir as fundações da trama, o segundo entrega voltas e diálogos sem a mesma importância de antes, e que se arrastam até os últimos minutos.

Nesse episódio, não é raro se deparar com Loki revirando papéis, visitando bibliotecas ou bolando planos ao lado de Mobius. Aliás, o próprio Owen Wilson admitiu, em entrevista recente ao Collider, que teve medo de entediar o público com seus diálogos longos (e com razão).

Loki vendo papeladas em sua mesa na sede da AVT - Otageek
Loki estudando um plano para capturar sua outra versão.

Apesar de tudo, essa ruptura de paradigma – de colocar um personagem tão vibrante em um contexto tão enfadonho – é apenas uma ferramenta proposital da trama, que subconscientemente faz o espectador torcer para que o personagem saia daquele contexto desinteressante.

No fim, tudo é construído para que o espectador rejeite aquele ambiente. É como se o próprio roteiro começasse a plantar uma sementinha para justificar uma futura fuga que a gente sabe (ou espera) que vai acontecer em algum momento (dito e feito… cof cof).

Loki Assumidamente Mágico

Bom, aqui entro em um detalhe que pode ter passado batido para a maioria das pessoas: a natureza dos poderes de Loki.

Como muitos sabem, o escopo de habilidades do personagem nos quadrinhos é significativamente maior, se comparado a sua versão no MCU, podendo até mesmo soltar rajadas de energia e criar campos de força, para citar alguns exemplos. Tais capacidades ainda não vistas nas telas se devem, principalmente, ao controle de magia (ou ausência dele) pelo personagem.

Todavia, a origem dos poderes de Loki nunca foi explicitamente abordada pela Marvel nos cinemas. O vilão simplesmente possui poderes devido à sua condição de deus asgardiano. Rompendo com isso, a série traz diversas menções ao misticismo inerente ao personagem e às suas habilidades.

Até mesmo a suposta cópia do protagonista, que a AVT está procurando, é constituída como se fosse um mestre do ocultismo, com roupagem, rituais e artefatos super característicos.

Tais evidências claras de que a magia foi assumida como parte da essência do personagem dão legitimidade para criar conexões com futuras obras e com outros personagens baseados em magia, como o Doutor Estranho e a Feiticeira Escarlate.

Loki é gênero-fluido?

Pouco antes da estreia da série, a Disney resolveu enlouquecer a internet com uma campanha de marketing polêmica. Trata-se de uma promo que exibe uma ficha criminal do nosso querido vilão, onde o tópico “sexo” é preenchido com a palavra “gênero-fluido”.

Se levarmos em conta as histórias da mitologia nórdica, e até mesmo de muitas HQs da Marvel, realmente vemos que Loki é capaz de transitar entre os gêneros. Mas talvez o termo contemporâneo não seja o mais adequado para descrever a identificação de gênero do personagem, já que em mais de uma década de material cinematográfico, Loki nunca deu indícios para corroborar com esse conceito.

Tudo fica mais claro nos últimos minutos do episódio, quando Loki finalmente vê a face de sua contraparte. Provavelmente, a Marvel só quis fazer referência a essa dupla existência na mesma realidade.

O “Gancho” de Ouro

A trama prolongada do episódio pacientemente converge para um embate, onde vemos, finalmente, um pouco de ação. Na ocasião, Loki prova ao mundo pela enésima vez que é um sujeito extremamente imprevisível no qual não se deve confiar.

Loki e Hunter B-15 em cena final do episódio 2 - Otageek
Loki e Hunter B-15 ao fim do Episódio 2.

Aliás, temos uma mimetização visual aqui. Da mesma forma que Loki inicia a série, ele encerra o episódio: trapaceando e passando a perna em pessoas, fugindo de suas responsabilidades. Com isso, o deus da trapaça enfim se liberta das rédeas da AVT, mas aposta no risco de piorar a situação delicada e desequilibrada na qual o universo foi colocado.

É importante lembrar que, a essa altura, Loki já está ciente do Ragnarok e consequentemente da destruição de Asgard. Entretanto, esse destino não pode ser impedido, graças aos Guardiões do Tempo e à Linha Temporal Sagrada. Talvez a motivação do personagem seja reescrever a história – e ele até tem ideia de como burlar as leis temporais – mas para isso precisará trair Mobius.

Loki em um momento decisivo, pensando se deve trair a confiança da AVT - Otageek
Loki pondera se deve ou não escapar.

E como não podia ser diferente, se Loki é um agente do caos, ele é em todas as suas versões e épocas possíveis. Afinal, é sua própria contraparte feminina – provavelmente oriunda de outro universo – que é a grande responsável pelo desastre na linha do tempo.

No fim, o segundo episódio nos mostra que Loki (não importa de qual estamos falando) veio a este mundo para fazer o que “os Lokis” nascem para fazer: causar o caos. E em meio a uma desordem generalizada, a Marvel finalmente entrega o que os fãs tanto aguardavam: o multiverso está aberto.

Confira a prévia do episódio:

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André Shazy
André Shazy

Aficionado pelo universo de quadrinhos e super-heróis, sou um admirador nato da sétima arte. Pai de uma shih-tzu e membro de um grupo de RPG, atualmente faço graduação de Geografia na USP e aprendo sobre escrita criativa nas horas vagas.

Artigos: 55
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