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Crítica | HQ “Black Silence” na Poc Con 2021
Sem sombra de dúvidas, ‘Black Silence‘ é uma das obras que mais chamam a atenção dentro do acervo da Poc Con 2021.
Publicada com a ajuda do site de financiamento coletivo Catarse, essa HQ em preto e branco e com traços expressivos tem uma proposta promissora: ser um sci-fi espacial ambientado num futuro distópico pós-apocalítico, que retrata a compreensão humana diante do universo desconhecido e imensurável, passando pelos gêneros de drama, suspense e até mesmo terror.
No futuro a Terra está com os dias contados. Uma equipe de astronautas é convocada para fazer reconhecimento de um planeta que pode ser a única chance de sobrevivência dos seres humanos. Lucas é um exobiólogo renomado que se encontra numa situação complicada e sua carreira está por um triz. O destino o leva até Nee, uma militar com uma reputação e tanto, que o faz uma proposta irrecusável. O que ele não sabe é que esta missão mudará tudo o que ele acreditava um dia ser verdade.
Black Silence – Sinopse
Quando falamos de quadrinhos ‘independentes’, é muito comum se deparar com narrativas nas quais o protagonista é desenvolvido ao redor de personagens bastante descartáveis e substituíveis, cercado de figurantes sob uma trama centralizada. Não é o caso aqui.
Em Black Silence, cada personagem tem o seu espaço, seu nicho de relacionamentos e seu desenvolvimento. Além disso, as relações criadas entre eles são genuínas e embasadas em um sólido argumento de roteiro, o que resulta em personagens característicos e com personalidade, fáceis do leitor se identificar.
O mérito da construção de uma narrativa consistente – que sabe onde quer chegar e como chegar – é da própria roteirista e quadrinista Mary Cagnin, que executa com competência sua intencionalidade poética: causar impacto com as transições de cenas entre o contexto dos personagens e o cenário macro, a fim de expor a imensidão das paisagens espaciais e, por consequência, destacar a ínfima e insignificante presença humana no universo escuro, infinito e misterioso.
“Existem muitos tipos de violência… e o silêncio é uma delas”
Cagnin não é uma autora iniciante – e isso fica evidente na qualidade de sua obra. Com seus 31 anos e mais de 10 títulos publicados, Cagnin sabe acertar a mão e criar suas próprias histórias originais, trazendo referências conhecidas dos gêneros que escreve no comedimento ideal.
Nessa obra, que lhe rendeu o Prêmio Angelo Agostini, a autora, além de propor temas filosóficos sobre pertencimento e existencialismo – que caem facilmente em temáticas espaciais – salienta o protagonismo negro feminino e a quebra de estereótipos sociais e étnicos. Ademais, traz uma carga artística versátil, que ora exalta as expressões faciais dos personagens com mais liberdade e densidade, e ora reajusta e simplifica os traços para dar mais dinamismo e movimento à ação.
As paisagens escolhidas para ambientar a obra são desenhadas com bastante exuberância. Ainda que a alternância de quadros seja um pouco apressada em momentos pontuais, cortando algumas etapas das cenas, o conceito mitológico por trás da história e todo o background dos personagens são detalhes que apenas exemplificam o empenho da autora para criar uma obra tão rica em tão poucas páginas.
Em alguns momentos, me peguei surpreso durante a leitura dessa HQ. Além de ser rica em citações inteligentes e marcantes, Black Silence é rica em sua mensagem final. A arte, os diálogos e o roteiro se unem em uma combinação genial para contar essa história cheia de suspense cada vez mais sufocante – no bom sentido.
De leitura rápida, torna-se uma HQ altamente recomendável pela qualidade do conteúdo que entrega e pelos debates que levanta. Em Black Silence, o universo, imensurável e silencioso, torna-se o lugar mais assustador e sufocante onde a humanidade poderia sonhar em se aventurar.
Essa e diversas outras HQs estão disponíveis gratuitamente na Gibiteca Digital Poc Con 2021.
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