Crítica: ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’ | Entre críticas e emoções: o adeus a James Gunn

Segunda produção da Fase 5 do MCU já está disponível nos cinemas
Guardiões da Galáxia - Otageek
Foto: Marvel Studios/Divulgação

É fato que ‘Guardiões da Galáxia’ nunca foi o carro-chefe da Marvel. Mas a situação parece ter se invertido. ‘Homem-Formiga e a Vespa: Quantumania’ pode não ter começado bem a Fase 5 do MCU, e nem funcionado como arco final na narrativa da trilogia, mas ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’ veio para interromper – ou pelo menos dar uma pausa – na fadiga de filmes de super-heróis do último ano. É uma pena que mal começou e já tenha que acabar. Isso porque, no início de 2023, James Gunn, diretor da franquia dos ‘Guardiões’, assumiu o cargo de CEO da DC Studios, após ter sido demitido da Disney. Para a rival da Marvel, é uma luz no fim do túnel. Ajeitar a casa do Batman e Superman não será uma tarefa fácil. Mesmo assim, após a grandeza do terceiro volume dos ‘Guardiões’, posso dizer que me mantenho entusiasmada para conferir o que o diretor vai aprontar. Seguimos aguardando. 

‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’, apesar dos seus muitos personagens, que por vezes se perdem no desenvolvimento, e ficam limitados a certas características e ações, e assim tem suas tramas descartadas nos primeiros minutos do filme – como é o exemplo da aparição de Sylvester Stallone – é uma história sobre as famílias que escolhemos, os amigos que ficam, e as escolhas que fazemos. É também uma forte crítica a violência contra animais, seja em meio a indústria capitalista, ou aqueles que pratiquem tais atos por escolha própria. A performance final de Dog Days Are Over representa o arco final na história de um grupo de desajustados, que foi contada de maneira bela e emocionante. É a despedida de James Gunn, principalmente com os personagens que fizeram parte de sua carreira nos últimos anos, e a libertação do peso de fazer parte da direção de um universo compartilhado. É uma oportunidade de contar uma história sem ter que pensar nas próximas sequências e nas ligações com outras obras do Universo Marvel. 

Guardiões da Galáxia - Otageek
Rocket (Bradley Cooper) é o coração de ‘Guardiões da Galáxia Vol. 3’. Foto: Marvel Studios/Divulgação
“Esta história sempre foi sua, você só não sabia disso”

O ponto de partida do terceiro volume de ‘Guardiões’ é o personagem no qual Bradley Cooper empresta a voz. A história de Rocket, que sempre foi mantida em segredo, e usado como alívio cômico na franquia, é o ponto central de uma narrativa emocionante, que vai tocar principalmente os pais de Pet. O enredo vinha sendo referenciado desde o início da trilogia, quando Rocket disse em uma briga com Drax (Dave Bautista), que não havia pedido para ser feito. Já se pode imaginar que o guaxinim é fruto de meios cruéis, mas que tomam proporções apenas neste terceiro volume. É essa trajetória que vai impactar os arcos narrativos de todos os integrantes do grupo. Os vínculos entre os Guardiões são trabalhados em uma perspectiva de serem mais fortes do aqueles de sangue, mas sem deixar de lado a necessidade dos personagens seguirem por conta própria em seus devidos momentos. A própria trajetória de Rocket, e o arco final dos personagens são representações dessa tese. 

As relações entre os Guardiões continuam sendo atrativas tanto quanto eram em 2014. E são elas que nos fazem entender o apelo emocional que permeia por esse terceiro volume. Ao expor as brigas e sentimentos de amor entre eles, Gunn nos leva a se sentir parte daquela família. Essa relação também se estende aos hits escolhidos. Apesar do apelo nas músicas não serem mais novidade nos filmes dos ‘Guardiões’, Gunn nos prova que continua sabendo como usar a trilha a seu favor. Seja no uso de ‘Creep’ do Radiohead, ‘Dog Days Are Over’ ou da clássica ‘Mr. Blue Sky’, o cineasta faz com que a experiência cinematográfica seja aprimorada em seu nível máximo. 

O Alto Evolucionário (Chukwudi Iwuji) surge como a figura que busca por uma perfeição utópica, sendo capaz de destruir tudo aquilo que fique no seu caminho, que interrompa, ou que ameace o seu plano. É facilmente o maior vilão da Marvel desde Thanos. É daí que vem o contraste com a imperfeição dos Guardiões. Rocket foi usado como um experimento do vilão, a fim de conseguir construir a próxima civilização perfeita, mas que estava destinado a ser descartado por não se encaixar nos padrões desejados. O diálogo entre Mantis, Drax e Gamora evidencia exatamente isso. Em uma equipe, o que destaca e mantém as relações não são as capacidades de cada um, mas o que cada qual faz a partir das ‘burradas’. 

É claro que a participação de Gamora não foi muito desejada por Gunn. Após ela morrer em ‘Vingadores: Ultimato’, a alternativa foi trazê-la de volta em outra versão. O resultado é o deslocamento do seu desenvolvimento, que não faz sentido para o roteiro. Apesar disso, talvez seja aqui que Peter perceba que precisa seguir em frente, e que sua amada não irá mais retornar. A Gamora do volume 3 dos ‘Guardiões’ não é amorosa, e tão pouco se importa com esse grupo. Mas, Gunn prova que até mesmo aqueles que não fazem parte dessa família, podem começar a entender o quão especial é fazer parte dela. É Gamora que protagoniza uma das cenas mais lindas do filme. O tempo todo, ao ouvir Groot dizendo sempre as mesmas palavras e o restante do grupo traduzindo o que ele dizia, ela alegava que duvidava que ele estivesse mesmo dizendo aquilo. É no final do filme que ela finalmente entende uma fala do Groot. É nesse momento também que nós, espectadores, ouvimos, pela primeira vez, ele dizer “eu amo vocês”. Na verdade, Groot não disse “eu amo vocês“. O intuito da produção foi passar a sensação aos espectadores de que agora eles conseguem decifrar as palavras do alienígena em forma de árvore.

De saída rumo a concorrente, Gunn usa o vilão como crítica a insistência na “fórmula Marvel”: por que uma fórmula testada e aprovada, não consegue se conectar com ideais de perfeição?  É uma metáfora para os problemas que o mercado vem enfrentando. As situações apenas se repetem, sem qualquer sentido. É cada vez mais necessário preencher esse espaço com outros olhares, principalmente com inovação e improviso, para que o universo possa continuar em expansão. Bastou a saída de Gunn, e a chance de construir uma narrativa sem a preocupação do universo compartilhado, que um projeto deu certo. No fim, ‘Guardiões’ é um respiro para Marvel depois de tantos projetos mal sucedidos, e que consegue se despedir do grupo de forma carinhosa. É um filme que vale a pena ser visto. 

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Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

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