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Crítica | ‘Ficaremos Bem’ é um manifesto sobre a finitude da vida
O longa foi escolhido pela Noruega para disputar uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2021. Escrito e dirigido por Maria Sødahl, Ficaremos Bem é baseado nas experiências pessoais da cineasta.
Ficaremos Bem (Håp) conta a história de um casal abalado pela descoberta de que a esposa, Anja (Andrea Bræin Hovig), está com um tumor terminal no cérebro e uma metástase no pulmão. Não há tratamentos que não custem a qualidade de vida de um tempo indefinido que ainda a resta. E é a partir desse ponto que o filme constrói uma alma que, de primeira, tememos ser a mesma jornada de sempre: alguém desejando aproveitar ao máximo a vida quando descobre que ela está acabando. Para felicidade geral, não é isso que acontece.
Existe uma expressão em latim que diz o seguinte: Nascentes Morimur; “desde que nascemos, começamos a morrer“. Esse dizer casa perfeitamente com a forma pela qual Anja recebe a notícia, desejando não saber quanto tempo a resta e tendo meramente um mínima noção.
Tomas (Stellan Skarsgård), seu companheiro de longa data e com quem cria seis crianças (apenas três delas sendo seus filhos biológicos), é uma figura contida e a base de uma vontade de que a companheira seja honesta, consigo e com a família, sobre a própria condição. “Ficaremos Bem“, a tradução do filme, é como um sussurro de um personagem que não possui uma vida ou arco próprio se não o de apoio àquela que luta contra a morte.
Mas Anja se recusa a ser uma pessoa que está morrendo — não mais do que qualquer pessoa que está viva e, por sua vez, também está morrendo. Seus dias se passam como outro qualquer, com algumas ressalvas: em certos momentos, ela dá a entender que não vê sentido em acrescentar outras pessoas em sua vida se ela está perto de deixá-las. O tumor é mais uma lembrança de que a vida é finita do que de fato o vilão do filme.
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Em certo ponto, o longa caminha por um percurso que esbarra no debate ético de quem merece viver ou morrer. Com seu decorrer, Anja fica cada vez mais desesperada, como se a ficha caísse lentamente de que ela talvez tenha menos tempo do que imagina para fazer tudo o que pode e quer fazer. Seu conflito se torna o dilema em que, paralelamente à vontade de viver, ela não sabe mais como aproveitar os momentos que lhe restam.
Isso a consome com um desespero aparente no ritmo do filme, até então monótono, que ganha uma qualidade poética e intensa. Ficaremos Bem, mais que uma promessa, se torna um desejo. Os (vários) momentos em que está sozinha com Tomas em sua cama é um mundo paralelo, um filme dentro do filme, como pequenos intervalos nos quais o tempo passa à sua maneira e eles são capazes de digerir o avançar da narrativa.
Ao se aproximar dos momentos finais, o filme se revela um ensaio não sobre o sentido da vida, mas como ela acontece para todos que anseiam por vivê-la. Não sabemos o final, e isso vocês podem interpretar como desejarem.
Ficaremos Bem está disponível nas plataformas digitais Claro Now, Amazon Prime, Apple TV, Google Play e Youtube Filmes.
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