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Crítica | Família Nuclear – O Fantasma Familiar e a Liberdade de Jules
(Escrito por Roberto Costa) Sinopse: Família Nuclear conta a história de Jules que, aos 18 anos, passa férias a contragosto no acampamento nudista de sua infância. Ele está dividido entre a sua atração pelo belo Karim, um trabalhador sazonal na praia das pessoas “vestidas”, e a depressão da sua mãe Adèle, que se recusa a deixá-lo crescer.
Elenco: Louka Minnella, Catherine Grosjean, Lohen Van Houtte e Syrus Shahidi.
Direção: Faustine Crespy
O filme está disponível até o dia 15/02 na plataforma Supo Mungam Plus em sua parceria com o My French Film Festival.
Liberdade e Identidade
Família Nuclear não faz rodeios quanto a seus temas. Jules vê em Karim uma maneira de se libertar e criar uma identidade própria ao mesmo tempo em que é perseguido a todo momento pelo fantasma de sua família, em especial pela mãe que se recusa a deixar o filho crescer.
O curta é tocante e faz aflorar os sentimentos mistos no espectador que se ver espelhado em Jules. Por isso, é angustiante ao máximo quando praticamos um exercício de identificação com o jovem, pois Família Nuclear questiona também o quão sufocante e repressiva essa relação com a família é para Jules.
Em um mundo que crescemos com a mentalidade de que a família é mais importante que tudo, o curta mostra sutilmente até onde vamos nos podando e nos limitando para pôr esse dever familiar acima de tudo.
Jules, tão jovem, demonstra no fato de estar vestido numa área de nudismo que essa relação tão sufocante o aprisiona e o envergonha, ao mesmo tempo em que é notável sua dedicação para manter seu irmão e sua mãe juntos e protegidos.
A complexidade de tomar uma decisão no dilema de escolher entre sua liberdade e sua família é mostrada sutilmente nos olhares de Jules, em seus sorrisos e seus momentos vacilantes sendo responsável pela sua família e provando um pouco da liberdade.
O Fantasma
Em seus momentos finais, Família Nuclear traz uma cena cheia de beleza e subjetividade, deixando esse simples colunista encucado quanto às escolhas feitas por Crespy. Ao mesmo tempo em que o diálogo final de Adèle se autoproclamando fantasma de Jules poderia ser trocado por um momento mais silencioso, deixando a interpretação para o espectador, vamos nos perguntando até onde esse próprio diálogo não é uma extensão de Adèle e seu jeito desinibido, que ultrapassa a narrativa e perturba a situação.
Ainda assim, é preciso dar o destaque que esse final merece. A trilha sonora de O Vento, por Dorival Caymmi, destaca-se e consegue se encaixar perfeitamente na leitura que nós, quanto espectadores, fazemos da cena final. Jules, perseguido pelo seu “fantasma”, corre pela praia enquanto vamos escutando Dorival falando sobre o vento e seus movimentos. O vento que dá movimento a outras coisas, o vento que desempenha um papel importantíssimo em iniciar ciclos e se relaciona tão bem com a liberdade.
Jules foge enquanto “chama” o vento, evocando liberdade e movimento para ser levado para longe do fantasma que representa a repressão e o aprisionamento numa relação que sufoca o próprio conceito de “Jules”.
O vento que dá na vela
Vela que leva o barco
Barco que leva a gente
Família Nuclear é sobre movimento e liberdade, mas também sobre os dilemas que precisamos vivenciar enquanto buscamos nossa própria identidade.
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