Acompanhe o Otageek nas redes sociais
Crítica | Era Uma Vez Em Hollywood, o livro de Tarantino
Tarantino traz sua história das telonas para as páginas dessa vez. Será que ele conseguiu traduzir uma arte para a outra? Confira a crítica de Era Uma Vez Em Hollywood.
Estreia de Quentin Tarantino na literatura, Era Uma Vez Em Hollywood traz a mesma história que o filme ganhador de dois Oscars, o de Melhor Ator Coadjuvante e o de Melhor Direção de Arte.
Na trama, temos a história de Rick Dalton, ator veterano que já passou do seu pico e, hoje, vive de fazer papeis de vilões nos mais variados episódios de séries de TV, e de seu melhor amigo, motorista, faz-tudo e dublê Cliff Booth, veterano da Segunda Guerra Mundial que perdeu seu espaço na indústria cinematográfica em razão de seu comportamento irascível e a desconfiança de muitos de que ele teria assassinado sua esposa.
Os dois são abordados por Tarantino, tendo como pano de fundo a trágica história do culto de Charles Manson e o que acabou acontecendo, em agosto de 1969, com a linda Sharon Tate, então esposa de Roman Polansky.
O livro é uma excelente história, tanto para fãs do diretor e do filme, quanto para fãs do cinema em geral. Tarantino, na maior parte do tempo, soube traduzir o roteiro do filme para a literatura, alterando cenas e até a continuidade do longa no livro. Um exemplo, o clímax do filme, que foi uma surpresa bastante agradável no longa, acontece por volta de 1/3 do livro, em um flash forward bem breve.
O começo pode ser um pouco arrastado, enquanto acompanhamos a conversa de Dalton com o agente de Al Pacino, Marvin Schwarz, que quer contratá-lo para faroestes spaghetti. Mas a história consegue te prender o bastante para que você queira saber o que vai acontecer, mesmo para quem já tenha visto o filme.
O coração do romance, sem dúvida, pertence a duas pessoas: Sharon Tate e a jovem Trudi Frazer, interpretada tão memoravelmente por Julia Butters, então com nove anos de idade. Sharon tem aqui a vida interior que alguns sentiram que lhe foi negada no próprio filme. E baseando-se no que ele fez no filme, Tarantino percorre um longo, longo caminho para recuperá-la de muito mais do que apenas o papel de vítima ao qual foi relegada pela cultura pop nas últimas cinco décadas.
Vemos a garota pedindo carona para Hollywood, entramos em sua cabeça enquanto ela se vê em “The Wrecking Crew”, exploramos seus interesses musicais – incluindo sua valente defesa de The Monkees e Paul Revere & The Raiders – e cavalgamos junto com ela enquanto ela planeja vingança contra o marido Roman Polanski depois que ele a arrasta para uma aparição na TV em “Playboy After Dark”, de Hugh Hefner, contra sua vontade.
Outro ponto positivo que pode se apontar no livro em relação ao filme é a construção do personagem de Cliff Booth, interpretado por Brad Pitt. O carisma de Pitt no filme, às vezes, nos faz esquecer que o personagem Booth, dublê e melhor amigo de Dalton, não é bem visto pela suspeita de que ele tenha assassinado a esposa.
No livro, no entanto, não há dúvidas. Ele mata dois tenentes da máfia em Cleveland apenas para testar se seu status como “Herói de Guerra” poderia livrá-lo da cadeia. É um personagem que deve ser visto assim como Butch, de Pulp Fiction.
Uma leitura às vezes desigual
Apesar da história interessante e personagens carismáticos, o livro sofre um pouco. Algumas partes extras do livro em relação ao filme claramente não adicionam tanto à história, mais parecem algo que Tarantino quis incluir no livro por capricho.
Ele tem nada menos que seis páginas dedicadas ao agora largamente esquecido filme de arte erótica dos anos 1960 “I Am Curious (Yellow).” Há também duas páginas muito mais compactas sobre a técnica de construção de suspense de Roman Polanski em “O Bebê de Rosemary”. Ademais, existe um capítulo inteiro contando a carreira do astro da TV ocidental “Lancer” James Stacy.
Outros capítulos recontam a mitologia de histórias de cowboy da série “Lancer” como se Tarantino estivesse recapitulando eventos reais do século XIX — sim, é uma mini-novelização dentro de uma novela. Por fim, tem um capítulo tardio em que Cliff participa de um set de filmagem espanhol com o ator alcoólatra, mas ainda encantador Aldo Ray, um dos gloriosos favoritos de Tarantino.
Outros trechos são mais proveitosos, inclusive alguns que o diretor confirmou que foram filmados, mas acabaram sendo retirados na ilha de edição. A cena final do livro, uma conversa de telefone entre Booth e Trudy, combina bastante com o tom da história.
Considerações Finais e Ficha Técnica
Um livro que não é para todos, mas que ainda assim nos traz uma história interessante e personagens carismáticos. Em algumas partes, parece que o autor apenas copiou o roteiro do filme para o livro. Já em outras, a escrita brilha como uma verdadeira obra de Tarantino. Era Uma Vez Em Hollywood deve ser lido por todos que queiram saber como era a Hollywood dos anos 1969.
Era Uma Vez em Hollywood (Once Upon a Time in Hollywood: A Novel – EUA, 2021)
Autor: Quentin Tarantino
Editora original: Harper Perennial
Data original de lançamento: 29 de junho de 2021
Editora no Brasil: Editora Intrínseca
Data de lançamento no Brasil: 29 de junho de 2021
Tradução: André Czarnobai
Páginas: 560
Caso você tenha se interessado, você pode comprar o livro pela Amazon.
E você, o que achou da nossa crítica de Era Uma Vez Em Hollywood? Não deixe de comentar!
Conteúdo Relacionado:
Ótimo artigo.
[…] Crítica | Era Uma Vez Em Hollywood, o livro de Tarantino […]
[…] Crítica | Era Uma Vez Em Hollywood, o livro de Tarantino […]