Crítica | Deo Mun – Dramalhão Cosmonauta

Filmes coreanos são sempre bons – ou quase.

Eu já deveria ter postado a crítica desse filme há muito tempo, mas estava relutando para redigi-la. Filmes coreanos são sempre bons e eu já citei isso aqui no Otageek, inclusive fazendo a crítica sobre Ligação Explosiva. Os coreanos sabem modular a hollywoodização fazendo filmes de ação, terror, suspense, sem serem enlatados nem cult demais, esquivando de todos os clichês ou reciclando-os de forma original, mas com Deo Mun é diferente.

Da mesma forma como os japoneses criaram o seu Wasei Eigo para transliterar palavras da língua inglesa em seu Katakana (vocabulário de termos estrangeiros transliterados para o japonês), os coreanos fizeram o mesmo com o Konglish. Deo Mun é o konglish para The Moon, como Desu Kwīn o é para Death Queen, referindo-se à Ilha da Rainha da Morte, conhecida localização dos vidrados em Cavaleiros do Zodíaco.

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A despeito do nome, o filme não trata de um cinema catástrofe como o fraquíssimo Moonfall de Roland Emmerich, mas de um drama passado em uma missão espacial. Quando assisti ao trailer após ser chamado para fazer a crítica pensei: “O Gravidade coreano?”. Mas quem dera fosse. Deo Mun é um dramalhão com sentimentalismo desnecessário ao contrário da atmosfera claustrofóbica presente em Gravidade, coisa que os orientais sabem fazer muito bem.

O protagonista olha pela escotilha da nave para o seu conterrãnio que passa apertos no espaço.

Após o acidente ocorrido com Naro-1, narrado logo no começo do filme, a Coreia do Sul decide retificar o seu programa espacial no melhor clima “Dessa vez vai dar certo”, visto que a vistoria necessária foi feita no foguete – ou ao menos é o que se espera. Os três tripulantes têm a missão de chegar à Lua e fincar a bandeira da Coreia como os Estados Unidos fizeram. E talvez o façam, mas não sem pagar o preço, muito superior ao do programa espacial que, na vida real, foi suspenso devido ao alto custo.

Os três tripulantes posam para uma foto.

Não vou dar spoilers sobre o que acontece na viagem, embora o trailer já revele bastante. Mas após o incidente que com certeza iria acontecer (senão não teríamos o enredo do filme), passamos a acompanhar o drama do astronauta tentando não só voltar para casa como cumprir sua missão. 

O astronauta ricocheteia no satélite após a explosão.

Enquanto outros tripulantes e a própria equipe clamam para que volte à Terra, Hwang Sun-woo insiste em completar a missão, mesmo porque não confia na solução proposta por Kim Jae-guk, que foi responsável por um dos eventos fatídicos da corrida espacial da coreia anteriormente. 

O astronauta foge da chuva de meteoros no jipe lunar.

Embora as cenas de acidente sejam muito bem feitas e as situações que geram mais um perrengue que nosso amigo tem que passar (os famigerados detonantes para quem está familiarizado com a estrutura de roteiro), sejam realmente tensas, elas são muitas e é como se São Jorge estivesse disposto a detonar nosso astronauta protagonista porque ele foi bulir no covil de seu dragão. 

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A choradeira que permeia o filme tenta dar um tom à trama que não era necessário, pois a própria coisa em si já é dramática. Da mesma forma que alguns filmes subestimam a inteligência do espectador, Deo Mun subestima a capacidade de empatia e o sentimento, já que não precisa chorar pra nos fazer chorar. Bastava que tivesse um motivo real pra isso, além do tempo que ainda falta pro filme acabar.

No centro espacial coreano, os cientistas se apavoram com as cenas do astronauta tentando escapar da chuva de meteoros.

Se você gosta de filmes de viagens espaciais sem alienígenas ou forçação de barra e com bons efeitos especiais e fotografia, Deo Mun é uma boa pedida e mostra que o cinema coreano nunca decepciona – ou quase nunca. Os coreanos já provaram que sabem fazer filmes, mas exageram um pouquinho quando se trata de dramaticidade.  

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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