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Crítica | Bangaologia – The Science of Style
“Não importa se está em Lisboa ou em Angola, um bangão é sempre um bangão”.
O cineasta Coréon Dú foi a fundo em sua pesquisa sobre o estilo africano. Ele queria entender o porquê dos angolanos gostarem tanto de se vestir bem. Essa busca rendeu o documentário Bangaologia – The Science of Style, exibido na última semana no Feed Dog Brasil. Nesse filme, Coréon revela o motivo pelo qual a Banga é considerada o “segredo mais bem guardado da África”.
No longa de 85 minutos, o diretor faz uma panorama da Bangaologia, com a direção fotográfica de Jorge Pelicano, e convida o público a conhecer a cultura africana e seus valores, hoje uma inspiração no mundo da moda, arte e música. Ele traça o caminho do seu surgimento, presença no estilo de vida, sua influência e ainda consegue desconstruir preconceitos concebidos sobre o continente considerado berço da humanidade.
Mas o que é a Banga, afinal? É o resultado de uma ancestralidade mantida na essência do povo angolano, é um feitiço que existe na maneira como se vestem. Independente da parte do globo para onde eles vão, a Banga os acompanha pois eles não vivem na África, a África é que vive neles.
A ciência da Bangaologia
Luanda é vista como o palco da idiossincrasia. A criatividade do povo angolano faz com que eles usem a moda como afirmação pessoal, mas nada que seja discreto. Nesse sentido, a Banga se sobressai por ser uma uma explosão de cores, estampas e gingado. Isso mesmo! Tem que ter muito gingado.
“Tem muita gente estilosa, mas pouca gente com sua marca”, diz Papa Sweg, Kudurista. Uma das figuras extremamente cativantes do documentário, ele se move em uma velocidade que se assemelha ao slow motion enquanto veste trajes elegantes em tom de rosa bebê. Ele tem a marca. Porém, o andar lento não é uma característica apenas de Papa, a mulher angolana não corre, ela caminha devagar com calma, gingado e elegância.
O documentário te leva a Los Angeles e Lisboa e mostra como o Bangão consegue fazer um link entre as culturas sem perder seu diferencial. A imigração angolana para esses países e o maior acesso à comunicação tornou crescente o interesse ocidental pela arte e cultura africana.
O longa destaca também a mulher angolana nas passarelas de grandes marcas e ressalta a importância da representatividade, mas que o uso de referências culturais é levar a modelo africana para desfilar essas marcas. Dessa maneira, as top models Maria Borges e Sharam Diniz compartilham suas experiências na indústria e como sentem essa influência cultural do país onde nasceram.
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Mergulho na cultura angolana
De volta a Angola, você é conduzido a um mergulho em comunidades onde as vestimentas definem e diferenciam os membros do grupo como casados e solteiros e seus respectivos ofícios. Ademais, por meio delas se revela a quantidade de posses de um indivíduo. Tudo isso é fascinante! E mesmo na mais singela tribo eles expõem a vaidade de um povo que se preocupa em estar limpo e bem vestido. “Parecer bem é o mais próximo de estar bem”.
Bangaologia é uma conexão com os antepassados, são as tranças, as miçangas, a dança. Por todos os lados ela se faz presente: as transições de imagem são feitas na batida do tambor e em cores. O ritual e a estética do povo dono dessa cultura, que se movimenta, se manifesta e se multiplica, é uma aula que transcende o nosso entendimento sobre moda.
E tudo aquilo que você não consegue materializar em palavras para definir, é Banga.
Matéria produzida por: Mirian Barros através do programa Crie com Otageek!
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