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Crítica | Amazônia: O Despertar da Florestania
“Esse mundo tá perdido!” Você já ouviu (talvez tenha dito) esta frase muitas vezes e, só pra constar, não! Não está perdido! Nós é que estamos perdidos na Mãe Terra, sem sabermos pra onde ir, quando na verdade não há para onde ir ou porquê ir. Basta apenas arrumarmos a casa. É sobre isso que fala o documentário Amazônia: O Despertar da Florestania.
A maior prova de que o mundo não está perdido – ainda – é o filme Amazônia, o Despertar da Florestania, um excelente documentário sobre o desflorestamento, o processo de desertificação, a demarcação de terras indígenas e a ameaça à biodiversidade.
Desde as Diretas Já, de 1984 (George Orwell foi um profeta!), o documentário utiliza as linguagens Expositiva e Participativa, como elucidado por Bill Nichols em seu livro Introdução ao Documentário. A primeira, devido à tradicional “Voz de Deus” (gíria para o voice over), a narração onisciente, feita, no caso, por Christiane Torloni, que assina a direção e roteiro, juntamente com o jornalista, roteirista e diretor Miguel Pzrewodowski.
A segunda (Participativa), devido às entrevistas que se intercalam entre as belas imagens da floresta e as tristes imagens das queimadas; justos protestos, desabafos, confissões e denúncias de ativistas, políticos, artistas e personalidades engajadas na luta.
O roteiro que, não deixa a peteca* cair, intercala imagens históricas, entrevistas, depoimentos, denúncias e dados estatísticos; tudo isso costurado por uma decupagem perfeita, com a sobreposição de imagens de mapas hidrográficos com paisagens ou mesmo com o próprio globo terrestre, o que dá a entender que os rios são as veias da Terra, algo como o que foi feito no filme Prometheus (2012).
*Peteca, além de um esporte, é um artefato indígena.
Se o mito grego foi o responsável por entregar o fogo divino à humanidade, nada melhor do que o utilizarmos de forma produtiva e não destrutiva.
O termo que intitula o documentário foi cunhado pelo jornalista Antônio Alves em 1999, obliterando – no bom sentido – a ideia de cidadania. Ao invés de direitos e deveres civis, sociais e políticos da população, nada mais justo do que atestá-los para os povos indígenas – e para a própria floresta em si. Além de educar e esclarecer os habitantes da selva de pedra acerca das benesses e da necessidade do ecossistema, visto apenas como um manancial de dinheiro – e não de oxigênio.
Mesmo que você nunca tenha lido a HQ Monstro do Pântano (fase de Alan Moore, terminada por Mark Millar), é impossível não se sensibilizar com o animismo presente nos depoimentos de indígenas e membros das populações ribeirinhas, como a professora, Raimunda Chagas Ribeiro, ou o ex madeireiro Roberto Brito de Mendonça. “A Árvore Grita ao Morrer…”.
Isso me lembra bastante o livro infantil do escritor brasileiro Álvaro Ottoni de Menezes, A Árvore que Fugiu do Quintal. Pena que isso não é possível na vida real…
As entrevistas e depoimentos contam com nomes de peso. Entre as personalidades indígenas estão o ambientalista Ailton Krenak, o representante político e xamânico do povo Ashaninka, Benki Piyãko, o escritor, pajé, líder político do povo yanomami e o atual presidente da Associação Yanomami Hutukara, Davi Kopenawa.
Entre outros influentes, o escultor e ambientalista, Frans Krajcberg, a professora de educação física, Márcia Lot, que se encantou em dar lições de arco e flecha olímpico aos já tarimbados habitantes da Ilha de Vera Cruz, Orlando Villas-Bôas (quem não assistiu o filme Xingu, por favor, assista!), o jornalista ambiental, André Trigueiro.
Além do cantor, Milton Nascimento que foi lá conferir de perto e ser, por suas próprias palavras, rebatizado pelas águas amazônicas e da atriz, Lucélia Santos, que passa a maior parte do documentário com os olhos marejados, vestindo não só a camisa, mas a causa verde, enquanto cita a covardia feita com Chico Mendes.
Entre as personalidades políticas, não poderiam faltar o geógrafo, ambientalista, economista e ex-guerrilheiro, Carlos Minc, a self-made woman, Marina Silva, e até o ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso.
Vale a pena conferir o filme e os demais da 10ª Mostra Ecofalante. Tanto para aqueles que sabem quanto para os que não fazem ideia do que estamos deixando de respirar.
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