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Crítica | A Delicadeza Assustadora do Jogo Dap
Numa experiência psicodélica sutil, Dap é um jogo de aventura com elementos puzzle, que te capta para dentro de suas florestas exuberantes em uma missão aterrorizante.
Lançamento do casal australiano responsável pela Melting Parrot, Dap é um título muito interessante, tanto para o gênero de aventura, quanto para o gênero de terror. Ele oferece uma jogabilidade peculiar, que soma muito com sua história.
O jogo te traz para a história pouco a pouco, de uma forma bem sutil: você primeiro conhece os Dap, entidades fantásticas que emitem um único som muito apaziguador – seu próprio nome. Depois, caminhando pelas florestas dos daps, você descobre não apenas suas lindas paisagens de mata fechada, mas um novo mistério: algo está corrompendo esse paraíso!
Junto com os outros dap, uma luta espantosa toma lugar. As entidades mais poderosas dessa floresta não conseguem mais conter esse perigo… você vai conseguir resolver o mistério desse estranho e agradável lugar?
Em Meio à Floresta Mágica de Dap, Uma História de Corrupção
A história de Dap não é contada por prelúdios, textos ou placas de informação, mas através de curtos e tensos diálogos. Contudo, para além das entidades que só aparecem raramente no jogo, o único diálogo que você vai poder ouvir é um dap dap singelo entre os fracos bonequinhos.
Mas você mal pode aproveitar o suposto paraíso em que vivem os dap antes da tragédia acontecer – as cutscenes mostram esse paraíso sendo conquistado por uma perigosa força vermelha, que não só “entra” na cabeça dos frágeis dap, mas também transforma-os em seres malignos.
Tudo isso com muito sangue e escuridão.
E à medida em que você avança nos capítulos, começa a entender de onde vem essa força que corrompe as calmas e escuras águas de Dap. É uma experiência bem intuitiva.
O Horror Pixelado de Dap
A estética chama a atenção – e, de certa forma, é o componente principal do jogo. Com poucas explicações escritas e poucos diálogos, a experiência tem seu maior potencial na parte visual e sonora do game.
A proposta artística parte de uma arte em pixel, mas também brinca com filtros e efeitos que, mesmo mantendo o pixelado cru, cria um realismo no mínimo intrigante. A floresta toma corpo na sua frente, sendo muito fácil mergulhar entre suas folhas.
Esse realismo visual, porém, trabalha com elementos surreais. Por exemplo, temos folhas e flores de espécies desconhecidas, bulbos e gramas alienígenas – ou ao menos de um lugar muito distante.
Todo esse visual é potencializado por efeitos sonoros minimalistas e ambientes, que te fazem sentir encharcando o pé nos mangues, ou o incômodo da perigosa radiação dos terrenos corrompidos. Além disso, o minimalismo ajuda a construir muito bem essa ambiência de mata fechada, quase solitária em meio aos perigos desse inimigo misterioso.
Ah, e a relativa ausência de menus e de barras de status aumentam ainda mais a imersividade do jogo. É você, dap e essa estranha floresta.
Um Curioso Coral Salvando sua Floresta
Por fim, as mecânicas adicionam elementos interessantes à proposta do jogo. Por exemplo, os controles são poucos e simples: você tem uma gama reduzida de ataques e a possibilidade de fazer poções de vida.
Nesse sentido, o desafio não se encontra exatamente em aperfeiçoar as mecânicas do jogo, dada sua simplicidade – o jogo não te penaliza por uma mira ruim ou demora em atirar. Ou seja, é um título bem acessível pra quem tem alergia aos soulslike e kaizos por aí, tão comuns no gênero.
Uma mecânica interessante é a dos dap funcionarem como recurso. Você tem não somente que coletar daps através de um peculiar e fofo coral para aumentar seu dano, mas também protegê-los, pois caso contrário não conseguirá avançar em algumas partes do jogo.
Por isso, em um contexto de jogo de terror, adicionar uma mecânica com outros indivíduos que você tem que cuidar e contar com eles garante um quê a mais nessa experiência de medo e fragilidade.
Além disso, tendo como inspiração a série Legend of Zelda, Dap oferece puzzles intrigantes, uma desculpa a mais para explorar esse fantástico cenário.
Concluindo
De forma geral, Dap é uma proposta muito bem executada: possui mecânicas muito bem polidas, elementos audiovisuais complexos e fluidos, além de serem imersivos.
Assim, é um tipo de terror muito próximo do folk horror de títulos como Midsommar (dir. Aster, 2019), no qual a natureza ganha contornos mágicos, cheios de forças esperançosas e folclores – e é também potencialmente mortal.
Da mesma forma, no quesito estético, podemos ver a presença de uma arte em pixel muito bem refinada, lembrando outros títulos do gênero de terror em pixel, como a trilogia Deep Sleep e Don’t Scape (ambos de scriptwelder).
É uma retomada de uma linguagem estética muito específica, geralmente encontrada em jogos e artes mais “fofas”, mas contando, agora, uma história de terror com muito sangue.
Por fim, o único porém que consigo comentar é em relação à mecânica de jogo. Para sua proposta, consigo ver um sentido em ser mais simplificada, mas a possibilidade de conflitos mais hardcore poderia adicionar uma profundidade ainda mais interessante.
Penso, aqui, em Control (Remedy Entertainment, 2019) e como seus controles, que pedem maior precisão de mira e de reação, podem aumentar a tensão. Isso é um elemento importante num gênero de terror.
O jogo teve lançamento muito próximo, no dia 29, agorinha.
Confira o trailer:
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