Crítica | O devastador “A Baleia” torna atuação de Brendan Fraser digna de Oscar

Mais um trabalho incômodo e conflituoso de Darren Aronofsky, “A Baleia” traz Brendan Fraser de volta aos holofotes – lugar de onde o astro jamais deveria ter saído.

Brendan Fraser em “A Baleia”. Foto: Divulgação/A24

No final dos anos 90 e começo dos anos 2000, Brendan Fraser era um dos maiores nomes do cinema hollywoodiano. Em oposto, por quase uma década, o astro ficou longe dos holofotes, e muitos até pensaram que ele havia saído de cena. 

Quando começou a gravar a franquia “A Múmia”, o astro não imaginou a proporção do desgaste físico e mental que acarretaria para si. Brendan precisou realizar uma série de cirurgias, para reverter danos causados no set de filmagens. Tempo depois, veio a público sua denúncia como vítima de assédio sexual.  Com isso, Hollywood exerceu seu papel majestoso de descartar as mercadorias da indústria. 

Uma década depois, o astro marca seu retorno ao cinemão em “A Baleia”, distribuído no Brasil pela California Filmes. Na trama, ele interpreta Charlie, um professor universitário recluso que trava uma batalha contra seu próprio corpo. Pesando pouco mais de 270 quilos, ele sabe que seus dias estão contados, e decide usar o pouco tempo que lhe resta para se reconectar com sua filha adolescente, Ellie (Sadie Sink). 

Darren Aronofsky costuma propor trabalhos incômodos e conflituosos para quem os assiste. Seus atores são escolhidos a dedo, a fim de incorporarem de corpo e alma seus papéis. Fraser foi a opção perfeita para um protagonismo que reflete nos campos da familiaridade, homossexualidade, religião e fé. Não é de hoje que o diretor transita por questões polêmicas. Aqui, o próprio nome do filme já causa questões contraditórias no telespectador – que mal sabe que se refere a uma espécie de alusão a “Moby Dick”, numa veiculação a um tipo de redenção. 

Todos os elementos escolhidos no filme corroboram para explicitar a dificuldade cotidiana enfrentada pelo personagem. Prova disso foi a razão de aspecto em 4:3, que ilustra a sensação claustrofóbica de Charlie, com sua dificuldade de falar e respirar. Com a chegada dos outros personagens, a câmera se distancia, a fim de ilustrar a cena geral, além da imagem completa de Charlie. 

Me parece que Fraser tenha usado toda a angústia que sofreu durante esse anos na indústria para dar vida a Charlie. Ali, mais do que um personagem, é um ator atuando de corpo e alma, usando suas questões pessoais para incorporar um papel majestoso – mesmo que oposto ao sofrido pelo protagonista. 

Mesmo com a filha adolescente rebelde, que constantemente profere palavras de rancor e ódio ao pai, Charlie continua buscando e enxergando uma beleza em Ellie, que nem mesmo a mãe enxerga – e nem mesmo você, espectador. 

Sadie Sink em “A Baleia”. Foto: Divulgação/A24

Transitando por questões e filmagens polêmicas, o diretor opta por mostrar excessivamente cenas que causam desconfortos para quem assiste. Imagino que, para aqueles que sofrem da mesma condição de Charlie, ou até distúrbios alimentares, seja incômodo e indisposto assistir ao que Aronofsky propõe. Para muitos, tais momentos demonstram excessos desnecessários para a construção da narrativa. Afinal, a obra como um todo é sufocante e devastadora, causada por extremos a um personagem que parece apenas vítima de um sofrimento sem fim. 

Mesmo tendo praticado situações erráticas no passado, Charlie ainda assim é vítima de um amontoado de situações. Dono de uma sensibilidade e humanidade intensa, ele carrega nuances além do ofício de professor: a constante culpa com o passado, a tentativa de esconder sua história, a vergonha em aparecer em público e mostrar a seus alunos como ele é de verdade. Ele transita ao contraditório: ao mesmo tempo que desistiu de si mesmo, enxerga o que há de melhor nos outros. 

“A Baleia” é devastador. É um excesso de sofrimentos causadores de inúmeros “nós na garganta”. É polêmico, sofrido, e infinitamente discutível – todas as características escolhidas a dedo por Aronofsky. Brendan Fraser é a alma que permite a grandiosidade de “A Baleia”. E é por isso, juntamente com todo o sofrimento do seu passado, que ele merece o Oscar pela sua atuação. 

Confira o trailer de A Baleia:

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Isabella Breve
Isabella Breve

Graduanda em Jornalismo, leitora voraz, amante da Sétima Arte e eternamente fã.

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