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Análise | The Last of Us 1×03: Eu não sentia medo antes de você surgir
ATENÇÃO! A análise contém SPOILERS do terceiro episódio da primeira temporada de The Last of Us!
O terceiro episódio de The Last of Us nos mostra o relacionamento lindíssimo entre Bill e Frank; além de desenvolver, em poucos minutos, a dupla Joel e Ellie.
O episódio começa com Joel e Ellie andando em meio a florestas e estradas antigas. Os diálogos entre os dois são secos, curtos e cheio de ressentimentos por parte de Joel após a morte de sua parceira, Tess.
Posteriormente, Joel explica mais sobre os dias que sucederam o estopim da epidemia e sobre o começo da infecção. O mundo, segundo a descrição de Joel, tornou-se selvagem rapidamente e foi devastado em pouquíssimos dias. Ele expõe a ideia apresentada no segundo episódio: de que o fungo sofreu mutação e contaminou os alimentos básicos (açúcar e farinha, por exemplo).
Ao encararem uma quantidade grande de esqueletos humanos numa vala, Joel explica que a FEDRA construiu as zonas de quarentena para abrigar os sobreviventes e, quando esses locais lotavam, as pessoas que não conseguiam entrar eram mortas. Após a indignação de Ellie acerca da morte de pessoas inocentes e não-infectadas, o seguinte diálogo ocorre com perguntas de Ellie e uma resposta fria de Joel:
— Pra que matar? Não podiam ficar vivos?
Diálogo entre Joel e Ellie
— Gente morta não fica infectada.
Enquanto a dupla vai em direção à casa de Bill e Frank, voltamos para 2003, num momento em que a FEDRA esvaziava cidades e vilarejos, levando as pessoas para as zonas de quarentena e interditando os locais esvaziados. Acompanhamos Bill (Nick Offerman), trancado num bunker ultra equipado, esperando a FEDRA ir embora da região.
Primeiramente, o episódio traz uma perspectiva pessimista do mundo ao redor, não há humanidade, empatia ou relações, tudo foi devastado. Bill começa a jornada de construir seu refúgio cheio de armadilhas dessa forma: sozinho, sem medo de nada e totalmente autossuficiente.
Passados 4 anos, em 2007, Bill encontra um homem numa de suas armadilhas. Frank (Murray Bartlett), refugiado de uma ZQ (zona de quarentena) devastada, foi o único sobrevivente num grupo de 10. Rapidamente, os dois se entrosam de modo muito fluido, Frank sendo um homem mais extrovertido e Bill sendo alguém reprimido e cheio de suspeitas sobre tudo.
O amor entre os dois inicia-se a partir do “primeiro encontro” no refúgio de Bill. A música de Linda Rondstadt “Long Long Time”, casa perfeitamente com vários pontos do episódio e descreve muito bem todo o relacionamento de Bill e Frank.
Love will abide, take things in stride
Trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
Sounds like good advice but there’s no one at my side
And time washes clean love’s wounds unseen
That’s what someone told me but I don’t know what it means
O amor aguentará, por tudo em seu lugar
Tradução livre do trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
Parece um bom conselho, mas não há ninguém ao meu lado
E o tempo purifica as feridas ocultas de amor
Foi o que alguém me disse, mas não sei o que significa
Bill, solitário em sua jornada de sobrevivência, não imaginava que a solução de sua antipatia pelo mundo e a purificação de seus receios viriam através do encontro do homem da sua vida, num período de catástrofe mundial. Ele não sabia o que significava a “cura” através do amor.
Avançamos para 3 anos depois, em 2010, Frank tenta convencer Bill de que a vilarejo/refúgio onde eles moram necessita de cuidados estéticos. Uma perspectiva extremamente importante, pois Frank entende (mesmo que de forma implícita) que um dos primeiros passos de transformação da humanidade quebrada é voltar, aos poucos, ao que ela já foi.
Construindo laços: de amizade, de amor, de sentimentos com as pessoas e seu lugar é um dos maiores atos de resistência contra uma sociedade que não permite e não enxerga mais esse panorama. Pequenas ações que são gigantescas quando ninguém mais se importa com elas.
“Cuidando das coisas é que a gente mostra que se importa”
Fala de Frank durante sua discussão com Bill
Bill pode não entender e até não concordar no momento da discussão, porém ele cede porque, no fundo, ele sabe que Frank tem um pingo de verdade na proposta que ele defende.
Nessa ideia de fazer novos amigos, Joel e Tess conhecem Bill e Frank, criando uma relação de cooperação, explicando também a ideia das músicas dos anos 60, 70 e 80 questionadas no 1° episódio por Ellie. Essa cooperação será muito importante no desfecho do episódio.
No decorrer dos anos, Bill e Frank envelhecem juntos. Perrengues como a invasão de saqueadores — que quase matam Bill durante um tiroteio —, assim como um diálogo com Joel, mudam a perspectiva de Bill sobre a vida nesse refúgio. Antes, ele não precisava ter medo de perder a vida, mas agora ele pode perder outra vida que não seja a dele.
“Eu não sentia medo antes de você surgir”
Fala de Bill para Frank durante um diálogo
Chegando aos tempos atuais, em 2023, Frank sofre de uma doença degenerativa enquanto Bill, apesar de bem velho, cuida de Frank. Então, um dos assuntos mais interessantes do episódio vem à tona, a discussão sobre a eutanásia.
Frank decide que quer terminar com sua vida após um último dia de “celebração” com Bill. Uma discussão sobre propósito é retratada com muita sensibilidade. Frank não consegue se locomover sozinho, vivendo à base de remédios e sabendo que sua doença não tinha cura mesmo antes do apocalipse. Ele deseja a morte. Contudo, sem Frank, Bill não tem mais um propósito, cuidar e proteger a única pessoa com que ele se importa era sua motivação.
Frank doente e Bill satisfeito, ambos optam pela eutanásia. Desde o início e até o fim do episódio, não há modo de separar Bill e Frank. Os dois morrem nos braços um do outro.
Wait for the day
Trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
You’ll go away
Knowing that you warned me of the price I’d have to pay
And life’s full of flaws
Who knows the cause?
Espero pelo dia
Tradução livre do trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
Em que você vá embora
Sabendo que você me avisou do preço que eu teria que pagar
E a vida é cheia de imperfeições
Quem sabe a causa?
Voltamos em Joel e Ellie chegando na casa de Bill e Frank. Uma carta é deixada endereçada à “qualquer um, mas provavelmente Joel”. A carta tem uma capacidade narrativa enorme neste desfecho, pois ela consegue desenvolver o fim dos personagens Bill e Frank, porém com poucas palavras, há um abalo no pensamento de Joel em relação à proteger as pessoas.
“Eu odiava o mundo e adorei quando todos morreram. Mas me enganei. Tinha uma pessoa que valia a pena ser salva. Foi o que fiz. Eu salvei ele. Depois protegi ele. É por isso que há homens como nós. Temos um dever. E Deus ajude os putos que nos atrapalharem”
Trecho da carta de Bill, endereçada à “qualquer um, mas provavelmente Joel”
A escrita da carta tem relação direta com a amargura de Joel e com a força de vontade do personagem em fazer o que ele acha que deve ser feito (fazendo até um tipo de foreshadowing do que está por vir no resto da série).
Todavia, o grande ponto de virada da carta e da cabeça de Joel está no desfecho da carta:
“Eu te deixo minhas armas e meus equipamentos. Use para proteger… a Tess”
Trecho da carta de Bill, endereçada à “qualquer um, mas provavelmente Joel”
Observamos aqui, pela primeira vez, algum tipo de reação mais explícita sobre o luto de Joel pela morte de Tess. Ocorre também uma transferência de responsabilidade (mesmo que tenha sido pouca), uma faísca de que Ellie é uma possível solução para tudo isso. Portanto, a garota deve ser protegida, seriamente.
A dupla Joel e Ellie entram no carro de Bill, numa breve cena de aproximação dos dois, uma fita cassete toca “Long Long Time”, a câmera sai do carro em direção à janela do quarto onde Bill e Frank morreram. A última parte da música dialoga com todos os 4 personagens.
‘Cause I’ve done everything I know to try and make you mine
Trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
And I think I’m gonna love you for a long long time
Pois eu fiz tudo que podia para tentar te fazer ser meu
Tradução livre do trecho da música “Long Long Time” de Linda Rondstadt
E eu acho que eu vou te amar por muito muito tempo
Novos episódios de The Last of Us são exibidos todos os domingos às 23:00 exclusivamente na HBO, e disponibilizados na plataforma de streaming HBO Max.
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