A Substância – O Retrato de Dorian Gray precisava de uma releitura.

Se você quer um filme divertido de horror corporal, experimente A Substância.

Quase todos os filmes de terror da atualidade partem de apenas duas premissas. E eu não vou dizer quais são. Deixo para os leitores resolverem o cubo do Hellraiser. E aqui não estamos falando de um filme de terror, mas de um drama tragicômico que sofre uma metamorfose ao longo da trama para se tornar algo que Zé do Caixão teria orgulho de apresentar no falecido Cine Trash: A Substância.

O filme parte de uma premissa básica e óbvia. Aquilo que o personagem John Milton de Al Pacino diz, ao fim de O Advogado do Diabo: “Vaidade… meu pecado predileto!”. E é exatamente sobre a vaidade exacerbada – o famigerado narcisismo – que o filme trata. 

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Elizabeth Sparkle (Demi Moore) é uma musa fitness que apresenta um desses programas de malhação, mas seu produtor Harvey (Denis Quaid) acha que ela está muito velha para o programa. Cabisbaixa e com a autoestima abalada, Elizabeth recebe uma proposta indecorosa: participar do programa que pode devolver-lhe a juventude sem tirar-lhe toda a experiência que adquiriu com o tempo. Com aquele velho papo de coach: “Tornando-a uma melhor versão de si mesma.”

Claro que tudo o que é bom demais tem um preço alto a se pagar e não se trata de dinheiro. Também não se trata de rejuvenescer pra sempre, mas de clonar a si mesma em sua versão mais jovem, passando uma semana no corpo jovem e uma semana na matriz (o corpo original). Desnecessário dizer que vai dar m3rda.

Dirigido e roteirizado por Coralie Fargeat (Vingança), o filme conta com as interpretações impecáveis de Denis Quaid e Demi Moore, talvez a melhor atuação de sua carreira. Margaret Qualey é engraçada e sabe ser assustadora quando é preciso.

Tanto as tomadas de câmera em close que encharcam as novelas globais quanto os enquadramentos de corredores como a antológica cena de O Iluminado são utilizados aqui com maestria. A decupagem das cenas sincronizadas com a música bate-estaca dão o tom de corre-corre e “Só mais uma dose! Dessa vez eu paro – juro!” como ocorre em Operação Fortune.

Com humordaz e momentos de vergonha alheia de fazerem Woddy Allen se ruborizar, o filme não é só uma crítica à busca pela beleza e eterna juventude ou um mais um body horror – tem substância. O filme teve sua estreia mundial no 77º Festival de Cannes, arrancou palmas e venceu o prêmio de Melhor Roteiro. A Substância é injetada no Brasil em 19 de setembro de 2024.

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Claudio Siqueira
Claudio Siqueira

Escritor, poeta, Bacharel em Jornalismo e habitante da Zona Quase-Sul. Escreve ao som de bits e póings, drinkando e smokando entre os parágrafos. Pesquisador de etimologia e religião comparada, se alfabetizou com HQs. Considera os personagens de quadrinhos, games e animações como os panteões atuais; ou ao menos, arquétipos repaginados.

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