Crítica | A Aventura Política de ROAD 96

Novo lançamento da empresa indie francesa Digixart, Road 96 traz uma promessa criativa e interessante: um walking simulator que mistura elementos procedurais e uma história vibrante através de uma (supostamente) simples road-trip.

No jogo, com lançamento marcado para o dia 16 de agosto, você controla um dos jovens que querem fugir de Petria, uma ditadura nada agradável para seu povo.

Nessa fuga, você pode apreciar as belezas dessa nação, lidando com a corrupção de seu presidente Tyrak no ano de 1996 e construindo seu próprio caminho através dos diálogos com moradores, apoiadores ou revolucionários.

Van rodando por uma estrada desértica em ROAD 96 - OtaGeek — O pé na estrada eu vou botar.

São seis histórias com as quais você pode entrar em contato, podendo escolher o que fazer diante dos conflitos e das propostas.

Você vai escolher uma fuga segura, denunciando outros rebeldes para conseguir dinheiro para subornar os policiais da fronteira? Fará parte da campanha para tentar eleger uma nova presidente, Florres, colocando fim à ditadura de Tyrak? São várias opções, que só dependem da sua bússola moral!

A Potente Imersão de ROAD 96

Antes de mais nada, o jogo impacta pela beleza. São paisagens de natureza exuberante, em um 3D estilizado muito imersivo. Dessa forma, Petria é imaginada nos moldes das ditaduras latinoamericana dos anos 60, com um mix de elementos norte-americanos dos anos 80 – um faroeste indie, um neon latino.

Por isso, faz lembrar muito da estética ditatorial humorística da série Tropico (por Kalypso Media), misturando uma crítica política com muita acidez.

Digixart é muito habilidosa ao fazer essa mistura (que consegue dar muito bem o tom político do jogo), deixando também que o jogador tenha momentos de apreciação, o que constrói uma ambientação potente.

Garota andando por uma trilha em meio à floresta - Otageek — Talvez o destino seja só uma desculpa para a viagem…

Por outro lado, além dos aspectos visuais, temos também uma trilha sonora com folk, retrowave e rock, que ajuda a contar as histórias de seus personagens e ambientar essa curiosa fuga. Me arrepiei todo tocando o famoso hino antifascista Bella Ciao com uma das rebeldes!

Aliás, a tradução dos diálogos também recebeu um bom cuidado, e a aventura pode ser feita toda em português sem parecer forçado.

Uma Proposta Criativa de Walking Simulator

Se a imersão por si só ganha muitos pontos na jogabilidade, temos mais tesouros ainda nas mecânicas de jogo.

Primeiramente, um ponto muito interessante é a forma como a história é contada. Durante sua viagem, você pode pegar carona, ônibus, ir a pé… nesse meio tempo, conhece petrianos e sua longa história com o país – por vezes histórias tristes, por vezes histórias de luta.

Assim, é por meio dos diálogos e dos documentos que você entra em contato com o grande mistério do desabamento da montanha em 1986, evento que faz com que Tyrak aumente o controle sobre a fronteira e sobre seus cidadãos.

Homem contemplando uma vista desértica em ROAD 96 de um lugar alto - OtaGeek — *Qual caminho você vai trilhar dentro de Petria?*

Além disso, a caminhada conta com inúmeros mini games, situações em que você pode colocar a mão na massa e mudar seu futuro diretamente. Embora alguns mini games sejam apenas uma pausa durante o jogo, alguns são mecanismos essenciais para sua sobrevivência, dando mais imersão para a história.

Carpe Diem: Cada História É Única!

Por fim, um ponto essencial, que costura todos esses elementos de uma forma inimaginável, é o fato da história não ser linear. Assim, você pode começar sua rota num bar, na estrada, num carro roubado – e pegar carona com uma socialite numa limusine, com um estranho e quieto taxista…

As possibilidades são múltiplas, não só por você poder escolher como reagir diante de certas situações, mas pelo próprio caminho ser gerado proceduralmente. Ou seja, você nunca vai saber totalmente para onde as opções vão te levar!

Sombra de mulher com um fundo de um festival de noite - Otageek — Todo deserto tem seu oásis!

Isso cria uma capacidade de rejogabilidade (replayability) sensacional, já que repetir a mesma estratégia em diferentes caminhadas pode ser simplesmente impossível!

Considerações Finais

ROAD 96 é uma experiência interessante entre os walking simulators. Reúne elementos importantes de jogos anteriores do mesmo gênero: o controle da história como em Stanley Parable (por Galactic Cafe), o drama político de SUNSET (por Tale of Tales), a imersão de Dear Esther (por The Chinese Room).

É, com certeza, um título que traz muita criatividade e novidade para o gênero, trazendo uma experiência incrível para quem joga.

Disponível para PC e Nintendo Switch, confira o trailer: