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13 Obras para mostrar porque o nazismo é ruim
Como se não bastasse tudo o que vem acontecendo nos últimos anos, desde uma eleição nefasta até a disseminação do agente patogênico mais contagioso da história, tivemos a declaração bombástica do antigo Youtuber Bruno Aiub, o Monark do podcast Flow.
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Durante o bate-papo com a deputada Tabata Amaral do PSB e o deputado Kim Kataguiri do DEM, Bruno Aiub defendeu abertamente a criação oficial de um partido nazista: “A esquerda radical tem muito mais espaço que a direita radical, na minha opinião (…) Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista reconhecido pela lei”. Pra piorar, Monark deu uma de Phil Anselmo em seu episódio onde fez a saldação nazista enquanto gritava “White power!”, alegando que estava bêbado.
O programa perdeu o patrocínio de diversas marcas. Kim Kataguiri também está em maus lençóis devido à sua declaração que endossou a de Monark: “O que eu defendo é que, por mais absurdo, idiota, antidemocrático, bizarro, tosco que (seja) o (que o) sujeito defenda, isso não deve ser crime. Por quê? Porque a melhor maneira de você reprimir uma ideia antidemocrática, tosca, bizarra, discriminatória é você dando luz àquela ideia, para que aquela ideia seja rechaçada socialmente e, então, socialmente rejeitada.” O deputado corre o risco de ter seu mandato cassado.
Confesso que nunca tinha ouvido falar de Monark e não tenho o costume de ouvir podcasts. Infelizmente – ou felizmente – Bruno Aiub foi demitido do podcast e dos estúdios cujo nome (Flow), ainda por cima é, entre outras coisas, um jargão da cultura hip hop. Tempos difíceis em que vivemos. Seu correlato em inglês, hard times é outro jargão que significa o tempo em que se passa na cadeia. Será o destino de Kim e Monark? Não sabemos. Por hora, vamos a uma pequena seleção de obras entre HQs, personagens, animes e até um filme que retratam os horrores do nazismo.
1- Maus (HQ)
Maus é uma obra bastante conhecida, mas ninguém conhece tudo e nenhuma obra é totalmente conhecida. O autor, Art Spiegelman, narra as terríveis experiências vividas por seus pais nos campos de concentração nazistas. Como sua mãe, Anja, cometera suicídio quando o autor tinha 20 anos de idade. Seu pai, Vladek, destruíra os relatos escritos pela esposa a respeito de Auschwitz.
O nome da obra é o termo mouse (rato, mas mais precisamente, camundongo) em alemão. No quadrinho, os judeus são retratados como ratos, já que foram usados como cobaias para as bizarras experiências nazistas. Os alemães, por sua vez, como gatos, não pela astúcia, mas por serem os predadores dos ratos e os poloneses como porcos, já que Auschwitz fica em Oświęcim, na Polônia. Maus foi a primeira HQ a receber o prêmio Pulitzer.
2- Capitão América – Sentinela da Liberdade (HQ)
A história do Capitão América não é novidade pra quase ninguém. Steve Rogers é cobaia de um supersoro desenvolvido para criar super soldados capazes de bater de frente com a ameaça nazista durante a Segunda Guerra Mundial. Graças a esse experimento, sobreviveu após ter sido congelado devido a uma queda no mar congelado. Acaba despertando décadas mais tarde de seu sono criogênico para combater o mal ao lado dos heróis.
Esta HQ monumental em 4 edições mostra exatamente a luta de Capitão América contra os nazistas durante a segunda guerra. O filme de 2011, Capitão América, o Primeiro Vingador, foi inspirado em parte nesta HQ, que mostra a origem do personagem além da eminência parda por detrás do General Chester Phillips e de Peggy Carter, aqui apresentados como Coronel James Fletcher e Tenente Cynthia Glass, respectivamente. Fora a aparição de Bucky Barnes bem molequinho e o primeiro embate do herói contra o Caveira Vermelha.
Mas o que nos interessa aqui, ao menos neste artigo, é o quanto os nazistas são retratados como ruins e cruéis, como em qualquer ditadura de cunho militar, eugenista e supremacista. A cena do torturador extraindo as informações de Fletcher é de chocar qualquer um que não seja desumano ou que ao menos tenha entendido a HQ além de ver as figuras.
Após ser inoculado com o soro da verdade capaz de fazer qualquer um falar, Fletcher imagina o que acontecerá se “abrir o bico”: uma legião de super soldados nazistas, o ideal do übermensch nietzscheano em sua versão hitlerista marchará na Terra, que não é oca nem plana.
3- Aquiles – O Novo Incrível Hulk (Personagem)
Quando Bruce Banner encarnava uma versão inteligente do Golias Verde, fez parte do estranho grupo conhecido como Panteão, cujos membros eram todos descendentes de Agamenon, o líder do grupo, e atendiam por nomes de deuses e personagens da mitologia grega.
Um deles, Aquiles, era totalmente invulnerável como seu codinome suscitava, salvo pela proximidade com o Hulk, por causa da radiação gama. Aquiles descobre sua invulnerabilidade quando preso no campo de Dachau. Ao tentarem tatuá-lo com o número de série comum aos judeus presos, a agulha se quebrou. Mais tarde, dado como morto pelos soldados nazistas, Aquiles emergiu da cova coletiva, descobrindo de vez sua invulnerabilidade após ter passado pela câmara de gás.
4- Skin (HQ)
Peter Milligan é um dos grandes autores que figura no panteão da antiga Vertigo e infelizmente ainda não veio à tona como Grant Morrison e Garth Ennis. Skin narra a história de Martin, um garoto com deficiência física congênita devido ao uso de talidomida por sua mãe enquanto grávida.
Revoltado por sua condição e o constante bullying, acaba se tornando um skinhead neonazista, o que por si só é uma incongruência, já que nazismo pressupõe, entre outras coisas, o extermínio dos deficientes físicos. Embora “skinhead neonazista” pareça redundante, há o acrônimo S.H.A.R.P. (Skin Head Against Racial Prejudice), Skinheads contra o preconceito racial, numa tradução livre. “Sharp” significa “afiado” em inglês, visto que usa-se facas e navalhas em brigas de rua, não apenas entre skins, mas parece ser algo comum aos britânicos.
5- Hellblazer – Medo e Delírio (HQ)
E… não, não é em Las Vegas, mas em Londres. Nosso amigo John Constantine se vê às voltas com a cena neonazi pelas mãos de Garth Ennis e o traço de Steve Dillon.
Punk na adolescência, John abdicou do corte moicano, mas não da verve anarquista que o seguiu ao longo de sua vida. Capturado por neonazistas, John vê seu amigo negro ter seu rosto cortado e, mais tarde, na mesma história, corta as asinhas de um… anjo. Sim, Gabriel. Não falei que isso era comum aos britânicos?
Essa história parece ser a eminência parda por detrás de Preacher, já que há a cópula entre um anjo e um súcubo (demônio feminino). Além do mais, é obra do mesmo autor, que publicou Preacher sete anos mais tarde.
6- Thor: Vikings (HQ)
Também pelas mãos de Garth Ennis e vindo do extinto selo Marvel Max, Thor: Vikings é um esculacho com o eurocentrismo, mas com uma ironia tão característica do autor que muitos podem não tê-la entendido.
Após serem amaldiçoados por um druida (citado no quadrinho como o sábio da vila), por terem massacrado uma aldeia celta, um grupamento viking se torna imortal da pior forma possível: se tornando zumbis. O problema é que atravessam as eras e, além de imortais, se tornaram indestrutíveis.
Como os livros de história nunca os citaram, não sabemos e isso também não vem ao caso. O fato é que aportaram em Nova York – claro, tudo de estranho que acontece no mundo nas HQs ou no cinema é em NY ou em Tóquio – em 2003, com poder suficiente para bater de frente com o Deus do Trovão.
Para conseguir vencê-los, Thor pede ajuda ao Dr. Estranho, que busca, na linha temporal, três dos descendentes do druida em diferentes momentos da história. Trazendo-os para o tempo presente, estes são capazes, junto a Thor, de vencer os vikings zumbis. Como? Só lendo a história para saber. O que importa é a crítica implícita: Thor, o deus nórdico, liderando uma guerreira viking, um cavaleiro teutrônico e um soldado nazista para vencer uma ameaça que o próprio eurocentrismo criou.
7- Lúcifer: Cartas na Mesa (HQ)
Eu já critiquei a blasfema série de TV aqui e a chamo de blasfema não pelo tema, mas por não fazer jus nem de longe à HQ. No início de sua saga, lançada no Brasil como a minissérie Cartas na Mesa, uma subtrama mostra um imigrante indiano gay que se apaixona por um neonazista wannabe.
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Querendo se enturmar e fazer parte da crew, o rapaz atrai o indiano para uma armadilha, mas se arrepende. Os outros membros são taxativos: “Não precisamos de fã-clube!”. O indiano é brutalmente espancado pela crew e o motivo real pelo qual o jovem neonazi quer se imiscuir no grupo é o fato de ser homossexual não assumido.
8- Hellboy (HQ)
Mike Mignola levou aos quadrinhos norte-americanos o Expressionismo Alemão; uma estética pitoresca presente no clássico alemão Nosferatu e diferente da maioria dos traços comuns às histórias em quadrinhos: o traço italiano, o japonês (mangá) e o francófilo (francês e belga – ligne claire).
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Não vou me alongar acerca da história do personagem aqui, mas o fato é que ele luta contra os nazistas em diversas de suas histórias. Hitler e companhia não queriam apenas a dominação mundial, mas acelerar o Ragnarok, o “apocalipse” nórdico – e coloquei apocalipse entre aspas porque o termo conhecido por nós ocidentais judaico-cristãos tem a conotação de fim do mundo, embora seu significado real em grego seja “descoberta” ou “revelação”.
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Entre conspirações governamentais, aquisição de tecnologias alienígenas e aparições de personagens históricos, temos Rasputin em sua versão semelhante à do personagem Ryze, de League of Legends e a de Ilsa, talvez a eminência parda por trás da personagem Ilsa (vivida pela atriz Dayanne Thorne em vários exploitations) e inspirada em Ilse Koch, a Bruxa Buchenwald, que usava a pele dos tatuados para fazer abajures e capas de livros. Não por acaso, o famigerado Necronomicon, da mitologia lovecraftiana, seria encapado com pele humana. H.P. Lovecraft é uma das principais influências de Hellboy.
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9- The Exterminators (HQ)
Esta HQ da Vertigo infelizmente nunca saiu no Brasil e foi escrita por Simon Oliver, que chegou a escrever Hellblazer… e essa fase felizmente chegou ao Brasil! Henry James trabalha em uma companhia de “dedetização” (como chamamos aqui no Brasil pelo neologismo oriundo de DDT), mas na verdade é uma companhia de extermínio de pragas que atende pelo sugestivo nome de Bug-Bee-Gone. Aliás, essa companhia existe realmente, mas não em L.A., mas em Nova York.
Como foi preso há anos por um pequeno delito na época em que estava desempregado e ruim de grana, não tinha com quem se aliar na cadeia e acabou sendo apadrinhado por uma das únicas facções de brancos presente na cadeia norte-americana além dos motociclistas: os neonazistas!
Henry sai da cadeia e vai trabalhar na dedetizadora que está experimentando um excelente novo produto: o Draxx, que não as mata, mas as torna melhores e até… inteligentes. Quem financia a fabricação do produto é um dos líderes da organização neonazista que pretende erradicar a população pobre das ruas – leia-se negros e latinos.
10- Hellsing Ultimate (Anime)
Bram Stocker criou um personagem eterno. Não apenas por ser um vampiro, mas por suas muitas releituras. Uma delas, um mangá que se tornou anime devido a uma história muito sugestiva: o primeiro dos vampiros resolve se redimir de sua “vampirice” e caçar todos os seus descendentes. Para isso, inverte seu nome, se tornando Alucard.
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O primeiro anime, de 2001, tinha 13 episódios, mas sinceramente, Ultimate o deixa no chinelo! Não apenas pelo roteiro, mas pelo enredo em si. Nosso querido Alucard, a taciturna Integra Hellsing e as Organizações Hellsing se veem às voltas com as Organizações Millennium, uma dissidência da SS Nazista, cujos tentáculos se estenderam até o Brasil. Alucard e cia. vêm ao Rio de Janeiro e enfrentam até o BOPE, pasmem!
Nota: Alucard aparece como personagem no anime Castlevania,
embora como o filho de Drácula.
O que aconteceria se… ?
E não se trata das antigas séries em quadrinhos ou da nova animação da Marvel e Disney. O que aconteceria se o nazismo, com sua ideologia nefasta, tivesse vingado? Uma ou outra obra se propôs a mostrar como seria se o Eixo tivesse vencido a Segunda Guerra Mundial, em distopias cinematográficas e quadrinhísticas. Vamos a três delas:
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11- Jin-Roh: A Brigada Lobo
Baseado no mangá Kerberos Panzer Corp, da Kerberos Saga (que começou com uma novela de rádio em 1987), Jin-Roh conta a história de Kazuki Fuse, um oficial das forças especiais do Japão pós Segunda Guerra, sendo que o Eixo (Roma, Berlin e Tóquio) venceu.
Kazuki tem de executar uma menina de um grupo antifa que sugestivamente se autointitula As Chapeuzinhos Vermelhos, numa tradução livre. Já que a brigada facista são os lobos, as Chapeuzinhos Vermelhos levam doces para a “vovó doente”; leia-se, o Japão facista. Os Lobos são as forças armadas (assim como os gatos são os oficiais nazistas em Maus) e as Chapeuzinhos, as meninas antifa, sendo que os doces são bombas.
“Jin-Roh” significa algo como “Lobisomem”. Kerberos Panzer Corp faz uma alusão à divisão Panzer de tanques nazistas e o termo Kerberos alude a Cérbero, o cão de três cabeças que guardava a entrada do inferno na mitologia grega e Hércules tem de enfrentá-lo em um de seus 12 trabalhos. Além do mangá e do anime, há o live-action sul-coreano de 2018, Illang: A Brigada Lobo.
12- Uber (HQ)
Com a Alemanha nazista devastada em 1945, as chamadas Wunderwaffen, as superarmas criadas pelos nazistas, se provam obsoletas e ineficazes contra as forças aliadas.
Para vencer a guerra, dizimar de vez os comunistas e assegurar a supremacia nazista, os cientistas nazistas criam os Panzermensch: soldados e agentes (homens e mulheres) com super força, resistentes a tiros e com poderes psiônicos e de telecinésia, capazes de esfacelar pessoas e mesmo objetos.
O termo Uber significa algo acima do “top” como em Übermodel, epíteto designado a Gisele Bündchen. Também übermensch era o supra-humano postulado por Nietzsche, interpretado erroneamente pelo ideal nazista. Panzermensch seria uma fusão do übermensch com a divisão Panzer, criando super soldados ultra resistentes.
13- A Nação do Medo (Filme)
Rutger Hauer é conhecido por ter encarnado o replicante Roy Batty de Bladerunner e do romance Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Phillip K. Dick, de onde saiu o enredo do filme. E como o nazismo pressupunha a mecanização do ser humano, nada melhor do que o ator holandês para encarnar um oficial da SS.
Em 1964, vinte anos após a Alemaha ter vencido a Segunda Guerra Mundial, um tratado de paz pode ser selado entre os EUA e a Alemanha nazista. Xavier March, policial da SS investiga a morte de Josef Bühler enquanto a jornalista norte-americana Charlie Maguire está em Berlim para cobrir o encontro de Adolf Hitler com o embaixador Joseph P. Kennedy.
massa demais man, muitos eu não conhecia
sempre pensei nessa questão, e se o nazismo ganhasse? graças ao universo nao o foi, mas temos a arte para mostrar como seria
salve Arucard!
continue escrevendo amigo, ficou otimo!
Muito obrigado, irmão! Como disse Raphael Fernandes, organizador da coletânea O Despertar de Cthulhu em Quadrinhos, entre outras, “Todo artista gosta de um feedback”.
É sempre bom receber um comentário por aqui e é sempre bom apresentar obras e autores, mesmo que velhas.
Salve Alucard!
Compareça sempre!
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