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11 obras que retratam a importância da figura materna
Ser mãe é algo tão inusitado e ao mesmo tempo tão maravilhoso! A ideia de se ter uma continuidade, um filho, perpassa pela mente do pai, mas nada é como gerar uma vida dentro de você e alimentá-la. Mesmo no reino animal poucas são as mães que não dão a vida para salvar o filho. E usei o termo “filho” e não “filhote” para não segregar o amor animal.
Em algumas espécies, elas têm que enfrentar os progenitores de seus filhos (e novamente utilizo o termo “filhos” e não “crias”) para que não os devorem(!). Isso mesmo! Leões, tubarões e crocodilos devoram seus filhotes (e agora usei o termo “filhotes” porque eles não os consideram realmente “filhos”).
Mesmo entre os não mamíferos, apenas uma espécie de sapo, se não me engano, carrega os ovos depositados por sua companheira e os protege de eventuais predadores e qualquer mamãe ovípara é capaz de perceber a ausência de um ovo ou até mesmo permanecer sobre ovos já devorados na vã esperança de um dia chocá-los. Na HQ The Age of Reptiles, vemos a mamãe dinossauro gritar em desespero ao ver seus ovos surrupiados.
Na psicanálise fala-se do complexo edípico, concernente a todos os homens, e é impressionante como a figura materna ocupa a psiquê masculina (haja vista a carreira e vida conturbada do rapper Eminem, explícita na letra de Cleanin’ Out My Closet). Já entre as mulheres, a relação entre mãe e filha se dá na forma de uma sororidade, e, de um ponto de vista mais holístico, fala-se no Sagrado Feminino, tão bem representado no jogo Gris.
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No entanto, a ausência da figura materna, uma relação tóxica ou uma gravidez indesejada podem acarretar sérios danos à personalidade do filho (nos dois primeiros casos) ou da própria mãe (no terceiro e último). Sendo assim, em homenagem ao mês das mães, o Otageek vem apresentar uma lista de obras dentre filmes e HQs que mostram o quão terrível pode ser a ausência de uma mãe e a busca incessante por ela por parte do filho; a dominância excessiva de uma mãe ou ainda sua ausência.
Mãe (Mell Lazarus)
Pra começar, vamos a uma tirinha ao mesmo tempo lúdica e pândega. Sonya Hobbs é uma senhora viúva com 3 filhos adultos que lhe dão dor de cabeça, sendo que um deles é pura paranoia da Sra. Hobbs.
Francis, um eterno desempregado que vive em um apartamento imundo às custas da mãe e de bicos que faz de vez em quando. Vidrado em mulheres fúteis e provocantes, troca de namorada e de “emprego” mais do que de roupa. Marylou, uma moça que só arruma boy lixo, o que deixa sua mãe exasperada, e Thomas, um rapaz bem sucedido casado com Tina, que, para ela não é a esposa ideal, já que a Sra. Hobbs é a típica supermãe, controladora e obsessiva.
Mãe (Momma), de Mell Lazarus, teve sua primeira publicação em 26 de outubro de 1970 pela Publishers-Hall Syndicate e foi publicada pela Creators Syndicate até o falecimento do autor em 2016, mas no Brasil, Mãe só ralhou com seus rebentos durante as décadas de 1980 e 1990 no jornal O Globo nas tirinhas do suplemento Globinho.
A carência materna:
Jason (Sexta-Feira 13)
Tivemos uma sexta-feira 13 em maio e ninguém melhor do que Jason Voorhees para representar a carência materna. Jason aterrorizou a década de 1980 quando substituiu Michael Myers (Halloween) como vilão psicopata mascarado no primeiro Sexta-Feira 13 (1980). Ele despertou Freddy Krueger em 1984, que também tentava tirar um pedaço dessa onda slasher da década.
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Como esses filmes, principalmente após Halloween, eram feitos pra se assistir namorando no Drive In, os alvos dos psicopatas mal assombrados eram quase sempre casais de jovens apaixonados e seus amigos. Acompanhados de sua cara-metade ou não, mais cedo ou mais tarde teriam perdido ao menos metade de sua cara.
Pamela Voorhees era casada com um brutamontes que lhe maltratava e espancava inclusive enquanto estava grávida. Decidia a se vingar e pôr fim àquele martírio de vida, Pamela mata seu marido a machadadas e incendeia a casa. Está no DNA? Não sei, mas, ao contrário de Os Olhos de Minha Mãe, que não especifica o que acarreta o quadro psicótico da protagonista, Sexta-Feira 13 deixa claro o que tornou Jason daquele jeito. Ao menos na HQ da WildStorm.
Reza a lenda que houve uma época em que as mulheres grávidas eram proibidas de assistir a decapitações para que seus filhos não nascessem acéfalos. No entanto, uma má gestação pode acarretar danos congênitos ao feto. Não se sabe se foram os espancamentos ou a própria verve assassina que acometeu Pamela que acarretaram o quadro psicótico de nosso querido personagem, mas o fato é que, assim como Cletus Kasady, o Carnificina, Jason Voorhees nasceu de um parto difícil.
Negligenciado como uma criança especial em uma colônia de férias em Crystal Lake, Jason morreu afogado ainda criança e cresceu morto no lago. Misturando o bullying que sofreu por ser uma criança deformada mais a verve assassina que sua mãe lhe passou pelo cordão umbilical, Jason se tornou um dos assassinos seriais fictícios mais amados do mundo, mas vive em busca do amor de sua mãe.
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Freddy Krueger (A Hora do Pesadelo)
Freddy Krueger faz parte da safra de terror slasher da década de 1980 e é ainda mais macabro e trevoso do que seu antecessor Jason. Talvez não mais sanguinolento já que seus assassinatos ocorriam em sonho (embora ocorressem também na vida real), mas após o sucesso estrondoso dos três primeiros episódios de Sexta-Feira 13, o estilo ganhou força e deu origem a uma safra de filmes do gênero. Se fosse hoje em dia, haveria universo estendido, embora já fosse, de certa forma.
Freddy foi o filho de uma freira estuprada por um louco em um hospício, quando teimou em entrar no pavilhão dos mais insanos apesar dos avisos da madre superior. Como ficou cataléptica devido ao trauma que sofreu, Freddy foi adotado por um traficante que prostituía sua mãe adotiva e o obrigava a vender drogas para ajudar na renda da família.
Indignado e sem nem ao menos saber a origem de sua mãe verdadeira, Freddy assassinou seus pais adotivos ateou fogo à casa, tornando-se um psicopata desde então. Morto em um incêndio, se recusou a ir pro descanso eterno. Ou talvez nem o inferno o tenha recebido, e se tornou o assassino dos sonhos que conhecemos.
Dr. Destino (Doutor Destino e Doutor Estranho: Triunfo e Tormento)
Essa história trazida até nós pelo lendário Bill Mantlo e ilustrada por Mike Mignola, mostra o maior vilão da Marvel, Dr. Destino, às voltas com o outro Doutor que está bastante em voga nos últimos anos, em uma jornada para libertar a alma de sua mãe, Cynthia von Doom, das garras de Mefisto, o capeta da Marvel. Mefisto nunca deu as caras no MCU (Marvel Cinematic Universe) e só apareceu em uma pálida versão do personagem em Motoqueiro Fantasma (2007).
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Ser mãe do maior vilão da Marvel não poderia render-lhe outro destino após a morte. Por outro lado, Destino é cheio de si, egocêntrico como convém ao diabo (no caso, Mefisto) mas mesmo ele se sacrificaria para salvar a alma da própria mãe. Com o fino da tecnologia aliado à magia e unido ao Mago Supremo, Destino tem que lutar, barganhar e implorar – à sua mãe, inclusive – para libertá-la do tormento eterno.
Embora Mefisto apareça na história de Fausto, de Goethe, a história que vemos aqui lembra mais a de Orfeu e Eurídice, da mitologia grega. Para quem não conhece, recomendo pesquisar. Não vou falar aqui porque ela dá um certo spoiler do quadrinho… apenas para os mais perspicazes.
Hyoga de Cisne (Os Cavaleiros do Zodíaco)
Já falei bastante d’Os Cavaleiros do Zodíaco aqui no Otageek, mas nunca é demais. Os cinco protagonistas são órfãos e um deles chama a atenção por sua jornada incessante em busca de sua mãe, que morrera em um naufrágio. Hyoga de Cisne, antes de conseguir sua armadura de bronze, estava sendo treinado pelo Cavaleiro de Cristal junto com Isaak de Kraken. Hyoga cismava de mergulhar em apneia no mar gelado da Sibéria e, numa dessas, quase morreu afogado, sendo salvo por Isaak, que nunca mais foi visto. Ao menos, não nesta saga.
A ideia de submergir em busca da mãe remete à imersão ao inconsciente, mas a história de Hyoga lembra muito a de outro personagem, de um filme não menos icônico.
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David (Inteligência Artificial)
Dirigido por Steven Spielberg, A.I. – Inteligência Artificial é tão poético e ainda mais lúdico do que O Milagre Veio do Espaço (Batteries not Included – 1987), produzido pelo diretor. Em um futuro distante, após o derretimento do gelo dos polos, parte da Terra é inundada e a população já convive com androides que “prestam” serviços sem serem remunerados.
Na iminência de perder seu filho, o casal Henry e Monica “adotam” David, um androide em formato de criança cuja função é suprir sua carência emocional, principalmente da mãe, numa releitura da fábula de Pinóquio, que inclusive, é citada no filme como eminência parda da trama. O nome “David” ou “Davi” vem do hebraico Dawid ou Dawidh e significa “predileto” o que cai como uma luva para o personagem, ao menos como substituto cibernético, já que, ao longo da trama, ele ocupará essa função.
A ideia de um complexo edípico por parte de um robô nos passa a ideia de Eu, Robô, clássico de Isaac Azimov, que rendeu influência para diversos filmes e ainda falarei deles aqui. A cena de David submergindo para encontrar, não sua mãe, mas uma outra figura feminina maternal, a Fada Azul, lembra uma cena do game Inside e, após tal momento, o jogo nunca mais é o mesmo e o mesmo acontece com David.
Embora David tenha sido criado e adotado para suprir a carência emocional de Monica como citei no segundo parágrafo, é ele quem ganha uma lacuna emocional e toda a sua jornada é para encontrar sua musa materna. A ideia de estar congelada, assim como a mãe de Hyoga de Cisne, passa a impressão de uma obsessão cristalizada, uma ideia fixa; algo impossível de ser concretizado, mas ao mesmo tempo necessário de ser desfeito.
A jornada por sua mãe submersa remete ao próprio arquétipo feminino e à busca incessante por algo impossível, como uma Vênus de Milo completa, sem faltar-lhe os braços. A estátua da Vênus foi achada no mar e a própria Vênus (Afrodite) da mitologia grega nasceu de Oceano. Com exceção de Héstia, também da mitologia grega (Vesta para os romanos) e Amaterasu Omikami, a deusa-sol do Japão, todas as deusas remetem à água, o que corresponde ao arquétipo feminino em si.
Mães Tóxicas
Como nem tudo são flores (e as flores são outra representação do arquétipo feminino), algumas relações são tóxicas e chegam a fazer mal aos filhos bem como à própria mãe, obsessiva. Vamos a uma lista de alguns filmes que mostram o quão horrível pode ser uma relação mãe-filho quando o amor se torna obsessão.
I am Mother
Outra excelente releitura de Eu, Robô. Também em um futuro distante (distopia científica sempre tem que ser em um “futuro distante”), com a humanidade extinta, um robô chamado Mãe cria uma menina a partir de um embrião criogenizado e lhe dá o sugestivo nome de Filha. Criatividade não é o forte dos robôs.
À medida que cresce, Filha vai adquirindo curiosidade sobre o mundo exterior pois é criada em um complexo de alta tecnologia, porém sem que lhe seja permitido visitar o exterior em nenhum momento. Sozinha, sem o convívio com outras crianças, outro ser humano ou mesmo qualquer outro ser vivo, a menina recebe uma rigorosa educação da mãe-robô, tanto na parte de instrução como em rígidos valores éticos e morais. O filme é não só uma releitura de Eu, Robô, mas também do Mito da Caverna, de Platão.
Após uma pequena pane elétrica causada por um rato, Filha encontra o animal e, com os conhecimentos passados por sua mãe, reinstaura o sistema operacional da instalação para descobrir a verdadeira face de sua mãe, que incinera o animal. O rato roeu a roupa do rei de Roma, que aqui é uma rainha. Mãe deu tudo à filha, mas esqueceu do elemento principal: o amor!
Mama
Mama é um filme interessante, produzido pelo não menos interessante Guillermo Del Toro e se baseou na lenda de Amala e Kamala. Segundo reza a lenda, a própria história das duas irmãs não passa de mito. Encontradas em 1920 em Medinipur, na Índia, por um tal Reverendo Singh, as duas teriam sido amamentadas por uma loba e por isso andavam de quatro, grunhiam e comiam carne crua.
Segundo o cirurgião francês Serge Aroles, em seu livro L’Enigme des Enfants-Loup (2007) as meninas sofriam, na verdade, de Síndrome de Rett e foram abandonadas. Sua postura lupina era exigida pelo reverendo charlatão que as espancava para filmá-las e angariar fundos pro orfanato que sustentava. A lenda de sua adoção lupina pode muito bem vir do mito grego de Rômulo e Remo. De qualquer forma, rendeu uma boa história de terror.
Após quebrar financeiramente devido à crise de 2008, o corretor Jeffrey Desange assassina seus colegas de negócios e sua ex-esposa, mãe de suas duas filhas Victoria e Lilly; a primeira com 3 anos e a segunda, com dois. Jeffrey sequestra as duas e se dirige a um local desolado para assassiná-las a tiros e cometer suicídio, quando uma figura fantasmagórica intervém.
Cinco anos depois, dadas como mortas, as duas são encontradas no local e ninguém sabe como sobreviveram. Adotadas por seu tio Lucas e sua companheira Annabel, o casal não suspeita que adotou não apenas as meninas, mas também o encosto brabo que as salvou no descampado e as adotou, fazendo-as sobreviver até então. Nada contra a atitude do espectro, mas ter uma mãe fantasma não é algo muito saudável, principalmente quando se trata de um espírito obsessor com ciúme de suas “filhas” de carne e osso.
A Maldição da Chorona
Um spin-off do InvocaVerso que rendeu críticas por parte dos fãs da franquia. A Maldição da Chorona, como o próprio nome indica, trata da lenda da Chorona, do folclore mexicano, lenda esta que serviu de inspiração para Mama, inclusive.
Em 1973, Anna Tate-Garcia, uma assistente social, investiga o caso de Patricia Álvarez, cujos filhos desapareceram. Ao investigar a casa da mexicana, percebe tratar-se de um lugar muito estranho, sujo e obscuro, repleto de rabiscos nas paredes e uma porta trancada que ela não deixa que seja aberta de jeito nenhum. A porta, por sinal, é a que tem mais rabiscos e é claro que Anna não ia se fazer de rogada e abster-se de não abrir a porta ante os pedidos daquela mulher aparentemente louca. Aparentemente…
Anna descobre os dois filhos de Patricia e orgulha-se de tê-los livrado das garras daquela mãe ensandecida, sem saber que ela, como toda mãe que se preza, estava protegendo-os de uma outra mãe; um espectro que, assim como Mama, tem obsessão por crianças, mas não com o intuito de criá-las.
Tanto Mama quanto A Maldição da Chorona dão ótimas influências para uma crônica de Wraith: The Oblivion, do universo O Mundo das Trevas, o mesmo de Vampiro: A Máscara, de Mark Rein-Hagen.
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Os Olhos de Minha Mãe
Eu já citei este filme aqui e vale muito a pena conferi-lo. Dirigido por Nicholas Pesce, o mesmo de O Grito (2020) e Piercing (2018), Os Olhos de Minha Mãe retrata perfeitamente o universo do psicótico, muito mais do que filmes como O Silêncio dos Inocentes ou a série Bates Motel.
Uma família de origem portuguesa reside numa fazenda isolada no interior dos Estados Unidos. Francisca (interpretada pela atriz portuguesa Kika Magalhães) é ensinada por sua mãe, uma cirurgiã aposentada, a preparar a carne para as refeições eviscerando os bois da fazenda até que um dia um estranho forasteiro aparece pedindo auxílio e acaba assassinando sua mãe.
Não se sabe ao certo se foi a lida na fazenda ou o fato de ter presenciado o assassinato de sua mãe que gerou seu quadro psicótico. Talvez as duas coisas, talvez uma, talvez outra ou nenhuma das duas. O fato é que, ao atingir a maioridade, Francisca decidiu “adotar” uma criança da forma que só uma psicopata faria.
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