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Teste de Bechdel e a presença de super-heroínas na cultura pop
As histórias de super-heróis estão há décadas fazendo parte do universo cinematográfico e logicamente da vida dos milhões ou, por que não, bilhões de telespectadores que amam as narrativas e em especial os super heróis.
Infelizmente, não somente filmes de super-heróis, mas diversos longas de vários gêneros e temáticas muitas vezes não atendem o mínimo necessário para uma melhor representação da mulher.
E quando se fala o mínimo, refere-se ao básico do básico, ao que se denomina Teste de Bechdel. O teste foi assim nomeado em homenagem à cartunista Alison Bechdel, que representou tal avaliação em um de seus quadrinhos.
O teste de Bechdel tem como propósito analisar a participação de mulheres em filmes, mesmo que sua presença seja superficial no enredo. Em uma obra cinematográfica ou fictícia (séries, quadrinhos, filmes, etc) implica-se três fatores:
- Há mais de duas mulheres com nomes na obra?
- Essas mulheres, em ao menos uma cena, conversam entre si?
- Elas conversam sobre algo que não seja um homem?
Simples, não? Não deveria ser algo difícil de aplicar em filmes, até porque o diálogo entre as personagens não precisa ser algo relacionado ao movimento feminista: pode abordar assuntos diversos, desde que não permeiem o masculino. Porém, encontram-se inúmeros filmes, clássicos, vencedores de bilheteria, entre outros, que não o fazem, inclusive lamentavelmente até mesmo os que são protagonizados por mulheres.
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No website teste de Bechdel, dos 8076 filmes registrados na plataforma, somente 57,06% cumprem os três requisitos, 10,2% atendem dois, 22,1% apenas um e, por fim, 10,1% são reprovados por completo no teste.
Ressalta-se que atender os requisitos de Bechdel não é um impedimento para que o filme venha a representar mulheres de forma estereotipada, ou que tenha cunho sexista e a ausência de um caráter feminista. Ser aprovado no teste significa desempenhar o mínimo do necessário e, em sua maioria, o mínimo não é o suficiente.
Teste de Bechdel na prática
Duas grandes organizações de conteúdo da cultura pop, DC e Marvel, lançaram filmes de super-heroínas nos últimos anos. Esses foram extremamente importantes para representatividade da mulher, em particular porque o universo dos heróis é no geral dominado por homens brancos e héteros.
OBS: Há spoilers, contudo, são cenas tão específicas que não revelarão muito, caso ainda não tenha visto os filmes.
Mulher Maravilha (2017)
- Na maior parte do filme, Diana está na companhia de homens, somente.
- No lar das Amazonas, são retratadas várias mulheres que interagem entre si, inclusive sendo citados os nomes de algumas delas. Assim, concluímos que o filme atendeu dois fatores do teste, entretanto os diálogos entre elas abordavam direta e indiretamente dois homens: Ares e Zeus.
- O outro único contexto no enredo em que vemos novamente duas mulheres juntas é quando Diana conhece Etta Candy,a secretária do Steve Trevor. Veja:
Direito ao voto, moda, equipamentos para um combate físico, luta corporal…
Bom, com certeza Mulher Maravilha foi aprovado no Teste de Bechdel. Todavia, esse é o único trecho (pouco mais de dois minutos) do filme de 2h e 29min protagonizado por uma mulher, que cumpre todos os fatores do teste.
É aquele momento em que dizemos: “esperávamos mais“. Essa cena do filme, apesar de seu significado primordial, é muito sutil e de pouca relevância na narrativa. Possivelmente mal foi percebida pelo público e tão pouco notada sua importância.
Pois bem, nem tudo é perfeito e devemos considerar que, apesar dos pontos negativos, o longa trouxe muitas questões positivas no que se refere às mulheres.
Capitã Marvel (2019)
Ao decorrer do filme, temos cenas significativas em que a Capitã contracena com outras mulheres, em especial Maria Rambeau e sua filha Mônica. Ambas possuem nomes próprios, são mulheres e as conversas entre elas abordam vários assuntos, desde o momento que Maria Rambeau enaltece as qualidades da Carol quando ela se encontra meio confusa e perdida psicologicamente. Veja essa cena incrível com a Monica:
Vale ressaltar que tais cenas, são relevantes para o desenvolvimento e entendimento da narrativa. Oque definitivamente torna Capitã Marvel aprovadíssima no teste. Pois, trabalhar melhor e de forma mais explícita questões positivas da representatividade feminina no cinema.
Perceba que tão importante quanto ser aprovado no Teste Bechdel, é que o mesmo seja bem trabalhado e aplicado para gerar uma importância significativa no contexto da narrativa, chamando a atenção do leitor e até mesmo propiciando um senso reflexivo e crítico sobre a cena.
Por fim, note que o teste de Bechdel tem certo poder de ajudar a determinar uma melhor representação feminina, mesmo que a personagem seja simplória na história. Portanto, torna-se um avaliador do que é básico/mínimo para uma positiva e real representatividade de gênero em obras cinematográficas.
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