Resenha | Livro ‘A troca’, de Beth O’ Leary

No livro A Troca, lançado em 2020 pela editora Intrínseca, Beth O'Leary trata de assuntos sérios de forma leve e com responsabilidade

Na resenha de hoje vamos falar sobre o livro A Troca, de Beth O’Leary, lançado em novembro de 2020 pela editora Intrínseca. Beth O’Leary é conhecida anteriormente por ser autora do best-seller Teto para dois. Em A Troca, a forma como a autora trata de diversos assuntos sérios de forma leve e com responsabilidade é um ponto alto da história.

Capa do livro “A troca”

Sinopse de ‘A Troca’

Leena Cotton tem 29 anos e sente que já não é mais a mesma. Eileen Cotton tem 79 e está em busca de um novo amor. Tudo de que neta e avó precisam no momento é pôr em prática uma mudança radical. Então, para colocar suas respectivas vidas de volta nos trilhos, as duas têm uma ideia inusitada: trocar de lugar uma com a outra.

Leena sabe que precisa descansar, mas imagina que a parte mais difícil será se adaptar à calmaria da cidadezinha onde a avó mora. Cadastrada em um site de relacionamentos, Eileen por sua vez embarca na aventura com a qual sonha desde a juventude. Dividindo o apartamento com dois amigos da neta, ela logo percebe que na cidade grande suas ideias mirabolantes não são tão complicadas assim.

Ao trocar não só de casas, mas de celulares e computadores, de amigos e rotinas, Leena e Eileen vão descobrir muito mais sobre si mesmas do que imaginam. E se tudo der certo, talvez destrocar não seja a melhor solução.

Primeiras impressões

Assim que comecei a ler o primeiro capítulo de A Troca eu odiei a história logo de cara. Contudo, apenas comprova não ser verdade aquele ditado de que a primeira impressão é a que fica. A história se inicia com a Leena, uma de nossas protagonistas em crise com uma apresentação importante que está prestes a fazer em seu trabalho. O diálogo entre ela e a melhor amiga Bee na primeira página da história já me causou estresse. Principalmente por soar superficial e tentar demonstrar uma relação de amizade entre as duas que a princípio me pareceu forçada.

Se a autora me irritou logo na primeira página, não precisou de muito para arrancar um sorriso do meu rosto ainda no mesmo capítulo e me fazer simpatizar com a Leena. Ao ter que lidar com uma colega de trabalho que demonstrava falsa simpatia com ela, Leena já mostra um pouco de sua personalidade ao afirmar que, apesar de ser feminista e acreditar na união feminina, isso não exige que ela goste das pessoas apenas por elas serem mulheres.

“Mas sabe como é, mulheres continuam sendo pessoas. E algumas pessoas são simplesmente abomináveis.”

Apesar de ser um trecho muito curto em que isso ocorre, percebi de cara que esse não seria um livro que aconteceria com base na rivalidade feminina, mas ao mesmo tempo não seria hipócrita ao romantizar a relação problemática que muitas vezes as mulheres tem umas com as outras.

A troca

Falamos um pouco sobre a Leena, nossa protagonista de 29 anos, agora vamos falar sobre Eileen, nossa segunda narradora de 79 anos. O que dizer sobre essa mulher que me surpreendeu e me fez querer abraça-la durante o livro inteiro? Cada vez que ela aparecia com as suas impressões e pensamentos sobre o que estava acontecendo ao seu redor, eu pensava como ela era maravilhosa.

Então, Eileen acaba de ser abandonada pelo seu marido Wade, com quem foi casada durante a maior parte de sua vida e decide que quer voltar a se relacionar com alguém. Contudo, em uma cidade tão pequena como a que ela vive as opções são bastante limitadas e não existe ninguém que realmente chame a sua atenção.

Leena está passando por um período difícil da sua vida ao ter que lidar com o luto após ter perdido a sua irmã Carla. Com as férias que ela recebeu do trabalho, decide ir até a cidade onde a sua mora passar um tempo com ela.

É Leena quem tem a ideia de trocar de lugar com a sua avó para que ela possa ter a oportunidade de viver uma aventura por Londres e, quem sabe, ter a chance de se apaixonar novamente.

O luto

O luto é um dos temas mais abordados ao longo de ‘A troca’. Leena está lidando com a perda da irmã, além da raiva que sente pela sua mãe, após ela ter apoiado a decisão de Carla em um momento anterior a sua morte.

Sendo assim, ler sobre a perda e a saudade que Leena sente da sua irmã fez com que eu criasse um elo com a personagem. É impossível não sentir empatia com a dor que ela sente ao longo de toda a história. Leena luta durante o livro inteiro para sobreviver diante da perda e tenta desesperadamente não ser engolida por seus sentimentos com medo de se afogar dentro de si mesma.

Analogamente, há diversos momentos Leena tem surtos e crises emocionais por não conseguir lidar com tudo o que aconteceu. A autora retrata isso com tanta responsabilidade que não permite o livro ter uma carga tão pesada como poderia ter.

Marian, mãe de Leena, também é muito importante ao longo da história e eu senti que a autora não desenvolveu tanto esta personagem como poderia. Gostaria que o livro tivesse mostrado algo mais concreto entre as duas no final, diante de tantos conflitos que ocorrem na relação entre mãe e filha.

“Quero parar de sentir raiva – quero perdoar a minha mãe -, mas então olho para ela e me lembro, e as emoções simplesmente surgem”

Clichê? Sim. Estereotipado? Jamais

A princípio, pensei que seria uma história pautada mais em cima de um romance, o que de fato existe, mas que não é o ponto central.

Eileen é uma personagem tão surpreendente que é impossível não se apaixonar por ela. Se trata de uma personagem que muda o ambiente que está ao seu redor e faz a diferença na vida de todas as pessoas que estão por perto. Ler a forma como ela lida com a cidade grande e a relação que ela consegue criar com os seus vizinhos que estão habituados a solidão foi além de engraçado, muito gostoso de ler.

A sua busca por alguém em um site de relacionamentos foi divertida demais. Eu amo como apesar da história ser clichê, ela foge de vários estereótipos por Eileen ser uma pessoa de mais idade.

Eileen é uma personagem viva, que está disposta a se aventurar e a meter a mão na massa para que todos se sintam acolhidos. O fato da autora ter mostrado que não importa quantos anos você tenha, nunca é tarde demais para se aventurar e se apaixonar por aí foi maravilhoso.

“Eu me pergunto quantas pessoas fascinantes estão esquecidas em apartamentinhos assim por toda a cidade…”

A união feminina presente em ‘A Troca’

Apesar de existir muitos conflitos entre mulheres ao longo da história, a maioria deles é superado e de uma forma linda. Personagens que no início te causam irritação, mas que após você ultrapassar as barreiras inicias, percebe que eles tem muito a acrescentar na história.

O livro aborda relacionamento abusivo em uma determinada parte e a autora ressalta que em briga de marido e mulher se mete a colher sim, dependendo da situação.

Uma personagem vive em um lar abusivo e todos da cidade sabiam que ela passava por situações que nenhuma mulher merece viver. Contudo, não interferiam por acharem que não era da conta deles. Para as pessoas da cidade era um consenso que eles abrigariam aquela mulher caso ela precisasse, porém ninguém havia dito aquilo em voz alta para ela.

“Você merece mais que isso. E nunca é tarde para se ter a vida que merece.”

Um livro surpreendente

A Troca foi um livro que me surpreendeu o tempo todo, não por grandes reviravoltas ou coisa do tipo, mas sim pelas tomadas de decisão dos personagens que aconteciam sem que eu esperasse, por ter uma visão de mundo as vezes muito condicionada.

Apesar da Leena ter me estressado em alguns momentos do livro, ela é uma personagem humana e que está em sofrimento. Sendo assim, Leena parte em busca de se reconstruir, de tentar colar de volta os pedacinhos que foram perdidos ao longo do caminho.

Ela é uma personagem que ao invés de lidar com os seus sentimentos se refugiou no trabalho com medo de desmoronar a qualquer momento, o que apenas tornou o seu processo de superação ainda mais difícil. Foi lindo assistir o desenvolvimento da personagem e ver seu processo de autodescoberta.

“Eu não teria conseguido me descobrir se não tivesse me tornado outra pessoa”

Enquanto isso, Eileen foi incrível a história inteira, tudo o que eu queria era que ela fosse minha avó também, uma personagem que durante o livro está em constante evolução. Ela era uma pessoa passiva aos acontecimentos a sua volta, sem querer intervir nas relações de outras pessoas. E quando Eileen percebeu que as vezes é preciso você dar um empurrãozinho para que alguém cresça e se torne uma pessoa melhor, foi o que me fez amar ainda mais essa mulher.

Interferir é diferente de se intrometer. Interferir na vida de pessoas que você ama para ajuda-las a sair de uma situação dolorosa e difícil é extremamente necessário. Ver a personagem identificando os momentos em que ela deve e pode fazer isso foi tudo.

“Posso dizer agora com certeza que sou a melhor Eileen Cotton que já fui.”

Enfim, A Troca foi um livro excelente e que com certeza agora ocupa um lugar especial no meu coração.

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Beatriz Cintra
Beatriz Cintra

Olá galera! Meu nome é Beatriz, sou estudante de jornalismo e completamente apaixonada por livros. Uma twitteira assídua que chora por Harry Potter até hoje.

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