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Resenha | Laura Dean Vive Terminando Comigo
Graphic novel vencedora de três Eisner Awards 2020, Laura Dean Vive Terminando Comigo chega ao Brasil pela Editora Intrínseca e promete ser sucesso entre o público jovem.
Confira, a seguir, a resenha do Otageek. Atenção: pode conter leves spoilers.
É comum ouvirmos que a adolescência é a fase das descobertas: do próprio corpo, da maneira como as relações sociais se estruturam e dos próprios sentimentos – dentre estes, o amor. E o amor nessa fase pode ser algo muito bonito de se experimentar, mas também bastante doloroso. É essa dor que Freddy Riley vai conhecer em Laura Dean Vive Terminando Comigo, lançada no Brasil pela Editora Intrínseca no final do último ano.
Premiada no Eisner Awards 2020, maior premiação do segmento de quadrinhos, em três categorias (Melhor Publicação para Adolescentes, Melhor Roteirista e Melhor Artista), a graphic novel escrita pela célebre autora Mariko Tamaki e com ilustrações de Rosemary Valero-O’Connell trata, de maneira delicada e sensível, de temas sérios e pertinentes para os jovens, como relacionamentos tóxicos, poligamia e gravidez na adolescência.
No enredo, somos apresentados à Frederica “Freddy” Riley, uma jovem colegial de 17 anos que namora a garota mais popular e linda da escola, Laura Dean. Entretanto, o que deveria ser um sonho acaba se tornando um pesadelo para a protagonista: é que o relacionamento entre as duas é marcado por términos. Isso, além de afetar a autoestima de Freddy, interfere também na sua relação com seus amigos, que cada vez mais se distanciam dela.
Aliás, merece atenção o ciclo de amizades de Freddy: Eric e Buddy, dois garotos pretos e gays que namoram, e sua melhor amiga Deirdre “Doodle”, uma jovem de aparência andrógina e aquém da comunicação via celular. Buddy é um rapaz abertamente orgulhoso de sua sexualidade, enquanto Eric provém de uma família religiosa.
O universo criado por Tamaki e O’Connell é uma sociedade ideal, livre de preconceitos, onde as pessoas podem se expressar da forma que são e serem aceitas por isso, o que constrói um ambiente de representatividade de maneira orgânica, em nenhum momento forçado. A relação entre Freddy e Laura Dean não sofre nenhuma censura, tudo é tratado com bastante naturalidade… Um sonho para qualquer jovem LGBTQIA+.
A estrutura narrativa da graphic novel é construída em duas linhas paralelas interligadas: a partir de e-mails que Freddy escreve para o portal de Anna Vice, uma conselheira amorosa, em busca de ajuda para lidar com o relacionamento conturbado em que vivem, intercalados com os acontecimentos cotidianos, o que permite ao leitor ter uma perspectiva interna da protagonista – suas angústias e resoluções – e externa – a vivência com Laura Dean, com os amigos, sua família, etc.
À medida que a história se desenrola, conhecemos outros personagens intrigantes que contribuem para o amadurecimento de Freddy Riley, como Vi, uma garçonete muito carismática que trabalha em vários lugares para pagar a faculdade, e uma vidente, que de “clara-vidência” não tem nada.
O ponto alto da graphic novel é, sem dúvidas, o trabalho ilustrativo de Valero-O’Connell. A suavidade do traço garante uma fluidez na leitura, ao passo que o esmero no detalhamento das cenas garante ao leitor uma imersão naquele universo. Há páginas apenas com ilustrações, que são de encher os olhos e despertam um estado contemplativo em quem lê. Ainda, os movimentos sugeridos pelas imagens se aliam à turbulência de emoções vividas por Freddy e asseguram o ritmo da narrativa.
Entretanto, esse ritmo pode ser, para alguns, muito lento. As maiores resoluções do enredo vão acontecer da metade para o fim. De repente, um leitor mais ávido pode ter dificuldade em manter a leitura. Contudo, se o fizer, vai ser surpreendido com doses de emoção.
Mas, talvez, o maior questionamento que fique no ar seja: e Laura Dean? A parceira problemática de Freddy mais aparece como uma assombração, trazendo inquietações e problemas nas relações da jovem. Contudo, pouco se sabe sobre LD, além de que sua mãe viaja constantemente para Ohio e que tem péssimo gosto para homens (sic.). Como se dá a relação entre mãe e filha, quais seriam as possíveis explicações para o comportamento excêntrico da garota e da sua maneira de se relacionar?
Fica a cargo do leitor preencher essas lacunas com conjecturas e suas próprias interpretações da personagem. Ademais, seria Laura Dean uma espécie de vilã mesmo? É possível cobrar responsabilidade afetiva de pessoas tão jovens? Somos guiados pelo ponto de vista de Freddy Riley, mas como seria a narrativa vista de um outro ângulo?
A história deixa um gostinho de quero mais, e pode ter sido essa a intenção da autora. Seria o caso de mais um volume ou mesmo uma serialização para dar conta dos espaços não preenchidos.
Por fim, Laura Dean Vive Terminando Comigo se faz necessária tanto para o público-alvo, como também para todos os demais. Não por acaso, pois o sucesso e o reconhecimento que já experimentou em premiações demonstram isso. Certamente, um ganho para a visibilização e representação da comunidade jovem LGBTQIA+.
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