O problema com a representatividade bissexual na mídia

Os estereótipos e o apagamento da bissexualidade também se fazem presentes na mídia

A bissexualidade foge do conceito de monossexualidade – orientação sexual que se caracteriza pela atração exclusiva por um gênero – e é constantemente mal interpretada, estereotipada e apagada, até mesmo dentro da comunidade LGBT+.

Bandeira do orgulho bissexual
Bandeira do orgulho bissexual

Existe o falso conceito de que a bissexualidade seria 50% de atração por mulheres e 50% de atração por homens, quando, na realidade, a bissexualidade é a capacidade de sentir atração romântica e/ou sexual por mais de um gênero e, como disse a ativista estadunidense dos direitos bissexuais Robyn Ochs, “não precisamente ao mesmo tempo, da mesma forma ou nos mesmos níveis”.

A bissexualidade é também invalidada ao ser colocada como uma “confusão”, como se uma pessoa, ao se identificar como bissexual, estivesse apenas passando por uma fase e indecisa se gosta de uma coisa ou de outra.

Ademais, há os que digam que pessoas bissexuais são mais propensas à traição por terem “mais opções”. Tal comentário não passa de discriminação.

Os estereótipos e o apagamento da bissexualidade também se fazem presentes na mídia.

Exemplo disso é o seriado “Faking It”, em que os personagens, ao saberem que o garoto novo na universidade era bissexual, tiveram atitudes e falas completamente preconceituosas.

cena em que personagem de Faking It descrimina a bissexualidade

“O rótulo “bi” é apenas um passo para o processo de se assumir”.

E, como era esperado, o seriado não aproveitou isso como uma oportunidade de quebrar estereótipos, o que, consequentemente, apenas os espalha e reforça.

Outro grande exemplo de má representação e invisibilidade da bissexualidade na mídia é a famosa série musical “Glee”. A personagem Brittany tem relacionamentos ao longo da série com homens e um relacionamento com uma mulher, Santana, que até mesmo se assume lésbica em certo momento da história. Porém, Brittany nunca tem um momento de se assumir como sua parceira.

Ademais, na única vez em que Brittany é colocada como bissexual na série, não é feito nada além de outro desserviço. Já na 5ª temporada, em uma conversa com um novo interesse amoroso, Santana menciona que sua ex-namorada (Brittany) é bissexual.

Logo após, a interlocutora Dani diz a Santana que sua separação foi “provavelmente para um bem maior” e que ela precisa de uma “deusa 100% sáfica/lésbica”, como se uma mulher bissexual não gostasse “100%” de mulheres e não fosse boa o suficiente para ela.

“Eu acho que você precisa de uma… deusa 100% sáfica/lésbica”

Mesmo antes, no episódio 14 da 2ª temporada, o personagem Kurt, que é assumidamente gay, trata a bissexualidade como uma confusão quando Blaine compartilha com ele a possibilidade de ser bi.

Kurt: Bissexualidade é uma mentira que garotos gays contam no colégio para andar de mãos dadas com garotas no corredor e se sentirem normais.

Blaine: Por que você está tão bravo?

Kurt: Porque eu admiro você! Eu admiro o quão orgulhoso você é de quem você é. Eu sei o que é estar no armário, e você está prestes a entrar nele de volta na ponta dos pés.

E, por incrível que pareça, esses são apenas alguns exemplos de todos os momentos em que Glee apaga e estereotipa a bissexualidade.

Segundo uma pesquisa feita pela organização estadunidense GLAAD (Gay & Lesbian Alliance Against Defamation) em 2016-2017, mulheres bissexuais são mais retratadas na mídia do que os homens. No levantamento mostra que 4,8% de personagens na televisão dos EUA são considerados LGBT+ e 30% desses são bissexuais, sendo 64 mulheres e 19 homens.

Porém, isso não é motivo para comemorar, considerando que, na maioria das vezes, essas personagens são usadas para reforçar o estereótipo de promiscuidade da bissexualidade e/ou são demasiadamente fetichizadas.

Um bom exemplo é a Callie em Grey’s Anatomy. A personagem engravida de um homem (Sloan) após terminar com sua parceira (Arizona) e logo depois reata com a mesma, o que reforça o estereótipo de promiscuidade e indecisão.

Sloan, Callie e Arizona em Grey's Anatomy
Sloan, Callie e Arizona.

Seria difícil contar quantos personagens visivelmente bissexuais não possuem sua sexualidade confirmada, e isso acontece principalmente em seriados de televisão. Alguns exemplos são Ambrose de Chilling Adventures Of Sabrina, Annalise de How To Get Away With Murder, Eleanor de The Good Place e Casey de Atypical. Qual será o medo de usar a palavra “bissexual”?

E você pode se perguntar qual é a necessidade da utilização de “rótulos”, porém, a resposta é muito simples… coisas desse tipo contribuem para a invisibilidade do B na sigla LGBT+.

Uma representação digna e correta de bissexuais está na série de comédia policial Brooklyn Nine-Nine. A séria tinha mostrado a detetive durona e reservada Rosa Diaz apenas em relacionamentos com homens, porém, ela se assume como bissexual no 10º episódio da 5ª temporada da série, e revela que está em um relacionamento com uma mulher.

Rosa Diaz de Brooklyn 99 revelando que é bi

“Eu sou bi.”

E fica melhor ainda! A atriz que interpreta Diaz, Stephanie Beatriz, é uma mulher assumidamente bissexual e teve papel importante na construção do episódio em que sua personagem se assume.

Eu sugeri que essa palavra fosse muito importante para ela e que também seria muito importante para a comunidade bi ter a palavra dita na televisão. Não apenas uma sugestão de que agora ela namora garotas, mas uma clareza sobre essa personagem”. disse Stephanie em entrevista à Entertainment Weekly.

A representatividade na mídia é de extrema importância. Sentir-se visto e compreendido pode causar grande impacto na vida de um indivíduo. Ao mesmo tempo, uma representatividade feita de forma consciente cumpre seu papel de lembrar a sociedade da existência de tais grupos e que eles buscam não apenas tolerância, mas aceitação.

Concluo esse texto lhes dizendo que a bissexualidade existe. A bissexualidade não é uma fase, não é uma dúvida e, com certeza, não é uma divisão.

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Isabelle Ferreira
Isabelle Ferreira

Oi, meu nome é Isabelle, pazer! Sou mineira e do signo de virgem.

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