O cinema de Wong Kar-wai

Kar-wai deixa tão fortemente sua marca que é possível reconhecer com facilidade suas obras e até mesmo as obras nele inspiradas

O cineasta Wong Kar-wai nasceu em 17 de julho de 1958, na cidade de Xangai, e migrou para Hong Kong aos 5 anos de idade. Por conhecer apenas o mandarim de sua cidade natal, que se localiza na China Ocidental, sua mãe o levava ao cinema constantemente a fim de que ficasse familiarizado com o dialeto cantonês falado em Hong Kong.

Wong Kar-wai
Wong Kar-wai

Após se formar em design gráfico em 1980, interessado em fotografia, se matriculou em um treinamento financiado pela primeira estação de televisão aberta comercial de Hong Kong, a Television Broadcasts Limited. Lá, trabalhou como assistente de produção e passou a escrever roteiros. Então, em meio a um de seus serviços como roteirista, começou a elaborar sua estreia como diretor, que aconteceu em 1988 com “Conflito Mortal”.

"Conflito Mortal" (1988)
“Conflito Mortal” (1988)

Em 1990, Kar-wai lançou seu primeiro filme autoral: “Dias Selvagens”. Porém, apenas passou a receber reconhecimento internacional com seu longa-metragem de baixo orçamento “Amores Expressos”, de 1994. Atualmente, Wong Kar-wai tem inúmeros trabalhos de sua direção e, em todos eles, deixa tão fortemente sua marca que é possível reconhecer com facilidade suas obras e até mesmo as obras nele inspiradas.

Amor Líquido

O sociólogo Zygmunt Bauman publicou em 2003 seu livro “Amor Líquido”, no qual aborda a instabilidade das relações sociais na modernidade. Segundo ele, as pessoas são invadidas pela pressa de acompanhar o ritmo frenético dos acontecimentos na sociedade consumista em que vivem.

Da mesma forma que trocam os aparelhos celulares por um de modelo mais novo, mesmo que o antigo ainda funcione, as pessoas vão de um relacionamento para outro, de uma amizade para outra… o que importa é o poder de escolher e possuir.

“Estamos todos numa solidão e numa multidão ao mesmo tempo”.

Podemos ver isso nas obras de Kar-wai “Felizes Juntos”, de 1997, e “Anjos Caídos”, de 1995: todas as relações nelas presentes não possuem nenhuma esperança de progresso e futuro.

Cena do filme "Felizes Juntos" (1997)
Cena do filme “Felizes Juntos” (1997)
Cena do filme "Anjos Caídos" (1995)
Cena do filme “Anjos Caídos” (1995)

Encontros e desencontros

Nos filmes de Kar-wai, costuma-se acompanhar personagens com enredos diferentes, mas que às vezes, mesmo de forma inconstante, cruzam caminhos. Isso traz um sentimento familiar por coisas da mesma natureza acontecerem regularmente no dia-a-dia.

Imagine que você encontre com certa pessoa em algum lugar, seja em um restaurante, um bar ou simplesmente na rua, dialoga com a mesma, algumas vezes até como se não fossem desconhecidos, e ambos simplesmente seguem seus próprios caminhos. Isso pode ser visto principalmente na obra “Amores Expressos”, de 1994.

Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)
Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)

Cores

Em suas obras, Kar-wai opta por cores dominantes em algumas cenas, e, em outras, utiliza contrastes.

Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)
Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)
Cena do filme "Amor à flor da pele" (2000)
Cena do filme “Amor à flor da pele” (2000)

Kar-wai também muda os efeitos da fotografia durante os filmes. Exemplo disso é “Felizes Juntos” de 1997, em que os momentos de maior conflito entre o casal são mostrados em preto e branco, enquanto nos momentos mais calorosos são utilizadas cores fortes e quentes.

Cena do filme "Felizes Juntos" (1997)
Cena do filme “Felizes Juntos” (1997)
Cena do filme "Felizes Juntos" (1997)
Cena do filme “Felizes Juntos” (1997)

O efeito preto e branco também está presente em “Anjos Caídos”, mas apenas em cenas nas quais se fazem presentes dois dos personagens: um assassino e sua parceira de negócios.

Cena do filme "Anjos Caídos" (1995)
Cena do filme “Anjos Caídos” (1995)

Movimento

Outra marca registrada de Kar-wai é o “Step Printing”, no qual é feita a duplicação ou triplicação de quadros que foram filmados em câmera lenta, e, depois, projetam-se os mesmos no habitual “24 quadros por segundo”.

Ele utiliza essa técnica em cenas com movimento a fim de dramatizar, fazendo o telespectador sentir a velocidade e adrenalina do momento.

Kar-wai faz uso, também, do conhecido efeito de Câmera Lenta, geralmente em cenas afetuosas entre os personagens ou de reflexão.

Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)
Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)

Reflexo

Já em momentos de introspecção dos personagens, o diretor faz a uso de espelhos para simbolizar o sentimentalismo da cena. O recurso foi posto em prática, também, em cenas de romance.

Cena do filme "Amores Expressos" (1994)
Cena do filme “Amores Expressos” (1994)
Cena do filme "Anjos Caídos" (1995)
Cena do filme “Anjos Caídos” (1995)
Cena do filme "Amor à flor da pele" (2000)
Cena do filme “Amor à flor da pele” (2000)
Cena do filme "Amor à flor da pele"
Cena do filme “Amor à flor da pele”

Música

Além do grande uso da música pop em suas obras, Kar-wai costuma repetir a mesma canção diversas vezes em um só filme.

Em “Amores Expressos”, a música constantemente tocada é “California Dreamin”, do grupo The Mamas & The Papas. Já em “Amor á flor da pele”, a música que se repete é “Yumejis Theme”, composta por Shigeru Umebayashi originalmente para o filme.

Essas foram apenas algumas das características que fazem o cinema de Wong Kar-wai tão especial e genuíno.

Para aqueles que ainda não conhecem o trabalho do diretor, recomendo os filmes que mais foram citados no texto: “Amores Expressos” (1994), “Anjos Caídos” (1995) e “Amor á flor da pele” (2000).

Para aqueles que já o conhecem: Qual filme do diretor se tornou seu favorito? Tem alguma marca do mesmo que lhe chamou atenção e não fora aqui citada? Conta pra gente!

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Isabelle Ferreira
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Oi, meu nome é Isabelle, pazer! Sou mineira e do signo de virgem.

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