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Master-Blaster | Entenda conceito e repetição do arquétipo!
Diversas são as definições para o termo Master-Blaster, mas a mais simples seria a de “arrasa-quarteirão”. Embora não seja a tradução literal, o conceito intrínseco ao termo composto está presente em muitas tramas e sagas mitológicas, que possuem arquétipos díspares em suas idiossincrasias; mais precisamente, a dicotomia Força versus Astúcia/Inteligência.
Esses dois aspectos aparecem quase sempre como aliados; outras vezes, como duas facetas da mesma personalidade e até mesmo como rivais. Mas o conceito Master-Blaster mostra sempre as duas personalidades como complementares e necessárias uma à outra.
Aqueles que tiveram sua infância ou adolescência nos famigerados anos oitenta provavelmente se lembram do filme Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (Mad Max Beyond Thunderdome) e dos personagens Lunataks, da animação Thundercats.
Tanto no filme quanto no desenho animado, há uma dupla de personagens que atuam numa espécie de simbiose. No filme, os personagens atendem pelos nomes que definem suas funções: Master (o que lidera, o “cérebro” da equipe) e Blaster, o que atua, de forma destrutiva, sob sua liderança. No desenho animado, a personagem Luna atua como “Master”, enquanto o personagem Amok ocupa a função que lhe resta.
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Embora os personagens do desenho só tenham aparecido dois anos após o lançamento do filme, seria precipitado denunciar um eventual plágio, pois um olhar mais cuidadoso perceberá que isso se repete em várias obras midiáticas, podendo ser compreendido até mesmo como um arquétipo de personagem.
A relação entre o Master e o Blaster nem sempre se dá na forma de simbiose. Há diversas relações interespecíficas estudadas pela Biologia e me utilizarei delas para ilustrar o presente ensaio. Vamos começar com o modelo mais clássico de Master-Blaster:
Sinfilia
Embora pouco conhecida, essa relação interespecífica difere bastante da Protocooperação ou do Mutualismo. A Sinfilia permite que ambos vivam separadamente, embora a parte mais fraca necessite da outra para sobreviver. A parte mais forte geralmente protege a mais fraca e, no caso do conceito Master-Blaster, obtém dela um propósito; um direcionamento para a sua vida.
Exemplos de Master-Blaster com Sinfilia
Master e Blaster em Mad Max: Além da Cúpula do Trovão (1985)
A terceira aventura de Max o obriga e encarar uma disputa na arapuca dieselpunk conhecida como Cúpula do Trovão (Thunderdome), uma espécie de Coliseu no mundo pós-apocalíptico.
E pra quem não sabe o que é dieselpunk, este é um ramo da ficção científica que mostra um futuro distópico no qual as gangues/tribos dependem da gasolina e do diesel pra abastecer seus veículos insólitos. Isso ocorre assim como no steampunk, que tem o vapor (steam) como força motriz e pode ser ambientado num futuro medieval, por exemplo.
Para Entender Melhor:
Max conhece Tia Entity, a líder da cidadela chamada de Bartertown, que divide o poder com um anão engenheiro, Master, responsável pelo fornecimento de gás que mantém o local funcionando. Ela percebe a oportunidade de livrar-se do rival usando nosso protagonista, que, para reaver seu carro, aceita o acordo proposto.
Max terá que lutar – até a morte – na Cúpula contra Blaster, o guarda-costas robusto que acompanha o diminuto engenheiro. “Two men enter, one man leaves” é a regra, um interessante trocadilho com a última sentença, na qual apenas um pode deixar o domo e apenas um sobrevive (lives).
Vencendo com dificuldade, Max recusa-se a matar o adversário após este perder seu elmo e revelar a face de um inocente deficiente mental. Assim, ele quebra a regra local, é julgado e sua pena é vagar pelo deserto.
A sentença se dá na forma de um ritual no qual o réu, com as mãos atadas, é montado de costas num cavalo e com uma enorme máscara que nubla sua visão. A ritualística do movimento foi inspirada no Heyoka, um palhaço sagrado da tribo Lakota, em quem foi inspirado o conceito estético dos três últimos filmes da franquia.
O palhaço Heyoka remete às origens do arquétipo de Master-Blaster. Falaremos dele mais tarde.
Luna e Amok – Lunataks em Thundercats (1987)
Dois anos após o lançamento do terceiro filme da franquia Mad Max, foi a vez da animação Thundercats lançar uma nova gama de vilões conhecidos como Lunataks. O nome do grupo composto por seis integrantes deriva de sua plêiade de origem: as famigeradas luas de Plun-Darr, planeta natal dos Mutantes, estes sim, inimigos ferrenhos que azucrinam os protagonistas desde o primeiro episódio da série.
Dentre os seis integrantes do grupo, dois merecem nossa atenção: Luna e Amok, que em muito lembram a dupla do exemplo anterior. Luna é uma feiticeira anã que, devido à sua pouca mobilidade, utiliza como montaria seu fiel servo Amok, que literalmente a carrega nas costas – a menos que aviste algum doce, o que atrai toda a sua atenção e constitui a melhor maneira de tirá-lo de combate.
Seu nome deriva do termo malaio amok, que significa algo como berserker (os nórdicos que entravam em frenesi na hora do combate). Isso remete à designação do guerreiro que se atirava à batalha de forma suicida para proteger seu líder, o que originou, no século XVII, o termo português “amouco”, que significa subserviente, bajulador ou mesmo “condenado”.
Ferra e Torr em Mortal Kombat X (2015)
Em 2011, a franquia Mortal Kombat ressucitou com seu Mortal Kombat 9 (ou simplesmente Mortal Kombat), dado o número de games que haviam sido lançados até então.
O nono game da franquia contava a história dos três primeiros games e os entrementes entre eles (com pitadas do Mortal Kombat 4), que só podíamos imaginar lendo a historinha dos personagens nos games ou em seus manuais de instrução.
Nesse filme, Jax teve os braços arrancados por Ermac e, por isso, apareceu com braços cibernéticos no Mortal Kombat 3! Cyrax era negro e se recusava a participar do projeto do clã Lin Kuei de criar soldados cibernéticos! Portanto Sektor, leal ao clã, tenta convencer Cyrax a aceitar a experiência como uma missão…
O fato é que Mortal Kombat 10 nos traz uma dupla de personagens idêntica a Master-Blaster e Luna-Amok: trata-se de Ferra & Torr. Capturados pelo povo Tarkatan, Ferra e Torr foram separados e resgatados por ninguém menos que Kotal Kahn, o novo vilão da nova etapa da série, que mostra a filha de Johnny Cage com Sonya, entre outras coisas. De resto, não se sabe muito da história dos dois, apenas que é uma baita chupinhada dos dois primeiros.
Imp e Gargantuar em Plants vs Zombies (2009)
Lançado em 2009, inicialmente para PC e Mac, o game Plants vs Zombies deu o que falar. Ele viciou muita gente e apresentou, dentre sua galeria de zumbis, uma dupla que faz jus ao conceito Master-Blaster. Trata-se de Imp e Gargantuar.
Gargantuar é um zumbi enorme que esmaga suas plantas antes que possam oferecer alguma resistência ao seu avanço implacável. Talvez por se tratar de um descerebrado (embora essa alcunha não se justifique muito para um zumbi), Gargantuar não perde a cabeça como outros zumbis do game, mas, ao receber um dano crítico ou perder metade de sua energia – e antes de ultrapassar meio caminho em direção ao objetivo, que é matar você – arremessa seu Master, Imp, no melhor estilo “faça valer a pena”.
Seu nome deriva do gigante Gargântua, pai de Pantagruel, ambos personagens da comédia de humordaz A Vida de Gargântua e Pantagruel, escrita em cinco volumes por François Rabelais no século XVI.
Segundo a novela, o gigante Gargântua nasce pós-maturo de uma gestação de onze meses. Sua mãe tenta castrar seu pai durante o duro trabalho de parto e acaba morrendo para dar à luz um bebê fanfarrão que já nasce com ereção e pedindo cerveja. Seria Gargântua o protótipo de Lobo e Macunaíma?
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Imp dispensa maiores apresentações até mesmo por seu tamanho diminuto. Ao ser arremessado por seu Master, Gargantuar, o mini-zumbi cai em um ponto crítico do “tabuleiro” e ainda tem a manha de esquivar-se de armadilhas, embora sua resistência não seja das melhores.
Seu nome deriva do latim impiu, que em inglês significa criança traquinas, diabrete; e, em português, originou duas palavras: ímpio, significando herege, e impio, alguém impiedoso e cruel.
Nunu e Willump em League of Legends (2009)
Em 2009, o jogo League of Legends viciou mais gente ainda e criou uma legião de fãs-seguidores-jogadores que chegam a ganhar dinheiro em campeonatos disputadíssimos. Trata-se de um jogo de batalha online no estilo multiplayer no qual cada jogador tem acesso a uma gama de personagens e vai adquirindo outros de sua preferência através de Riot Points ou Influence Points.
De tempos em tempos, o site disponibiliza novos personagens, que são criados para aumentar as opções. Todos eles são baseados em diversos personagens, mitos e arquétipos, e o Master-Blaster não poderia ficar de fora.
Nunu é um órfão esquimó da tribo Praeglacius (Frostguard, no original), exímios domadores de feras que, entre seu bestiário, são peritos em domar yetis, os lendários Abomináveis Homens das Neves. Seu mestre domador lhe dizia incessantemente que se lhes fosse dado carne para comer, os yetis desenvolveriam agressividade e se tornariam bestas incontroláveis.
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Percebendo que Willump crescia fraco e desnutrido, Nunu começou a alimentá-lo com carne sem que ninguém soubesse. Um dia, ao chegar até sua jaula, percebeu que estava destruída e que Willump não se encontrava lá.
Saiu então desesperado à sua procura e o encontrou acuado, cercado por aldeões prestes a linchá-lo. Portanto, atirou-se entre Willump e seus perseguidores, que não se intimidaram, provocando a reação inesperada do yeti, que trucidou o grupo. Juntos, os dois formam mais um modelo do arquétipo em questão.
O nome Nunu é uma referência a Nanook (1922), o primeiro documentário da história do cinema.
Loo e Feces em Lobo está Morto (1994)
Lobo está Morto só aportou no Brasil em julho de 1994, retratando a primeira vez que o Maioral caiu em batalha… a primeira vez que Lobo morreu. Sim, digo primeira porque esse pessoal de quadrinho, game, série, anime e o escambau vive ressuscitando… principalmente se é o protagonista. Bom, mas isso vive acontecendo desde o antigo Egito com Osíris, né?
Lobo bate de frente com um tal Loo, que quer tirar o título de mais f*dão do universo do Maioral. O que Lobo não contava é que não estava enfrentando um, mas dois inimigos: Loo e seu irmão Feces.
Bônus: o Parasitismo de Nevermind em O Novo Incrível Hulk # 86 (1990)
Eric Reardon, uma aberração conhecida pelo sugestivo nome de Nevermind, quer apossar-se do Hulk. É que seu corpo se limita a uma cabeça com pseudópodos, podendo saltar para o encéfalo alheio para possuir o indivíduo que o abrigará como hospedeiro, utilizando seu corpo como veículo e assimilando seus pensamentos.
O problema é que, além de perder o controle sobre si mesmo, o indivíduo-hospedeiro definha até morrer. E aí está o interesse dele sobre o Hulk, já que imagina que o gigante o abrigará para sempre ou ao menos por mais tempo. O personagem aqui citado incorre no caso de Parasitismo, não de Protocooperação, já que Nevermind suga o ATP (Trifosfato de Adenosina) das vítimas/hospedeiros até que morram.
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Protocooperação
Na Protocooperação, um não está acoplado ao outro. Ambos os seres podem viver separadamente e sua união resulta num benefício mútuo.
Exemplos de Master-Blaster com Protocooperação
Gaata e Gyodai em Dengeki Sentai Changeman (1985)
Em 1985, aterrissa no Brasil o Super Sentai Changeman, que a gente chamava inocentemente de “seriado japonês”. O termo pode parecer estranho para alguns, mas foi o que originou os Power Rangers(!).
Entre a galeria de vilões estão Gaata e Gyodai. O primeiro entrou para o esquadrão de invasores do planeta Terra para que sua esposa e filhos não padecessem ante a ira do Senhor Bazoo, vilão máximo da série, o que faz de Gaata um Anti-Herói Vítima.
Além de fornecer o alívio cômico, Gaata atua como uma ama seca do bizarro Gyodai. Este último, irracional, não passava de um mascote da trupe, mas tinha um interessante poder em seu arsenal: disparar um raio por seu único olho, situado dentro de sua bocarra, que ressuscitava os monstros exterminados pela Power Bazooka e tornava-os gigantes.
Gyodai é, a meu ver, a melhor representação de um alienígena já feita nas telas, já que não mimetiza nenhuma forma de vida proveniente da Terra, seja molusco, artrópode, réptil ou afins.
Ájax e Atalanta em O Incrível Hulk (1991)
Mais uma vez, temos o Incrível Hulk como anfitrião do arquétipo. Ainda com Peter David nos roteiros, acompanhado pelos artistas Dale Keown e Gary Frank, o protagonista se encontrava em uma forma que unia as melhores características de Banner e seus dois alter egos até então: os Hulks verde e cinza. É neste contexto que surge o Panteão, que tinha entre seus membros Ájax e Atalanta.
Sendo um dos filhos de Agamemnon, Ájax possui super-força (como era de se esperar), mas apenas em seus braços, já que suas pernas quebrariam com seu peso se não vestisse sua roupa de titânio. Além disso, balbucia as palavras, lembrando ligeiramente o Blaster de Mad Max. Tem uma paixão recolhida por Atalanta, o que gera a dependência emocional de sua Master honorária.
Edward e Alphonse em Fullmetal Alchemist (2009)
Dois irmãos, Edward e Alphonse eram promissores estudantes de Alquimia, uma arte conhecida e legalizada no Japão alternativo desta obra. Ao perderem sua mãe precocemente devido a uma doença desconhecida, entretanto, ambos enveredam por um obscuro ritual na tentativa de trazê-la de volta à vida. O fracasso é evidente.
Edward perde seu braço direito e perna esquerda, e seu irmão mais novo tem de abdicar de seu corpo físico, totalmente destruído. Alphonse só não morreu porque seu espírito e personalidade foram transferidos para uma armadura, seu novo e robusto corpo, para desespero do irmão mais velho, frequentemente chamado de “baixinho”, o que o tira do sério. Sendo o mais velho da dupla e responsável pela condição de ambos, Edward é o Master, enquanto seu irmão, agora superforte, ocupa a função Blaster.
Lust & Gluttony
Não apenas os heróis, mas uma dupla de sorrateiros vilões que aparecem desde o início da série exerce o papel de Master-Blaster: trata-se de Lust e Gluttony, dois dos oito Homúnculos da série. Não por acaso, seus nomes e funções ilustram os Sete Pecados Capitais, sendo Lust a Luxúria e Gluttony a Gula.
Além de sedutora, Lust é maquiavélica e manipula sem dificuldade o esfomeado Gluttony, que – no mangá – possui um olho no centro de sua enorme boca, o qual se abre no peito, Isso é bem semelhante ao olho de Gyodai, e ainda vou descobrir a origem desse meme. Órfão e com idade mental atrasada, Gluttony necessita de Lust como mentora, o que configura a dupla no modelo exposto desde o início do artigo.
Número 1 e Número 8 em 9 – A Salvação (2009)
Em um mundo pós-apocalíptico, nove autômatos carregam consigo pedaços da alma de seu criador. Não possuem nomes, mas números que, além de suas formas, definem suas funções quase de forma hierárquica. O líder, uma espécie de papa, possui o número 1 como alcunha, sendo seu guarda-costas um grandalhão que atende por 8.
Bônus: a Competição Entre Damian Wayne e O Herege em Corporação Batman (2010)
Aqui, a relação interespecífica não é a de Protocooperação, mas de Competição, já que ambos disputam entre si.
Damian é filho de Batman e Talia al Ghul, filha de Ra´s al Ghul, inimigo clássico do herói, surgido durante a célebre passagem de Dennis O’Neil e Neal Adams pelo título do morcego.
Talia al Ghul decidiu utilizar engenharia genética para criar um clone, o Herege, gerado no ventre de uma baleia. Seu nascimento foi como o dos xenomorfos da franquia Alien e o menino já nasceu grande, como Macunaíma.
Além dos mitos supracitados, os dois irmãos são como Caim e Abel e Esaú e Jacó, já que Herege acaba matando Damian na HQ. Batman, ao encontrar o filho morto, espanca o Herege até a exaustão, arrancando seu elmo e expondo sua face para o horror do personagem e do leitor: ele é gêmeo de Damian e, embora possua o corpo de um homem forte, seu rosto e mente são de um menino. É uma cena que parece chupada de Mad Max 3, embora numa versão muito mais dantesca e impactante.
Mutualismo – um é “inerente” ao outro
No mutualismo, ambas as partes envolvidas dependem biologicamente uma da outra para sobreviver, não podendo jamais ser separadas. De tão integrados, chegam a ser considerados um novo ser.
Exemplos de Master-Blaster com Mutualismo
O Vingador do Futuro (1990)
Em 1990, um filme baseado no conto We Can Remember It for You Wholesale, de Phillip K. Dick. Total Recall, aporta em terras (e telas) brasileiras como O Vingador do Futuro. É que na época TUDO era “(…) do Futuro!”
E coloco Futuro com F maiúsculo porque ele se tornou um personagem coadjuvante (assim como uma estrada o é em um road movie) nas tramas pipoca do final dos anos oitenta e início dos noventa, graças à nossa tradução. Temos O Garoto do Futuro, O Exterminador do Futuro, e por aí vai…
Em 2084, a humanidade já colonizou Marte, onde o oxigênio é privatizado e Douglas Quaid (Arnold Schwarzenegger) é um trabalhador da construção civil. Ao menos é isso que ele pensa ser. Toda vez que decide alçar novos voos, seus colegas de trabalho e até mesmo sua esposa, Lori Quaid (Sharon Stone), tentam persuadi-lo a desistir.
Anos de evolução em uma nova atmosfera geraram alguns cidadãos mutantes. Um deles é vivido por Dean Norris (o Hank Schrader de Breaking Bad), que representa uma deformidade física real, presente tanto em Lobo está Morto quanto no episódio #7 da quarta temporada de House, Ugly.
Mas outro mutante ocupa o lugar sobre o qual estamos falando: George é o “irmão(?)” hospedeiro de Kuato, um homúnculo que sai do abdome de George e é uma espécie de oráculo. “Abra sua mente!“, diz Kuato a Doug Quaid. Sua forma lembra muito o ocorrido com Bruce Banner e seu alter ego Hulk em O Incrível Hulk #78 (The Incredible Hulk #324 – 1986).
Bruce Banner e O Incrível Hulk (1962)
Os anos se passaram, o avanço científico se deu de forma mais repentina e beligerante do que a humanidade poderia imaginar e o mito de Jekyll e Hyde era tão maneiro* que precisava de uma versão mais pop.
Em maio de 1962, Stan Lee e Jack Kirby lançavam o seu Incrível Hulk. Isso não é novidade para ninguém, mas com o passar dos anos, as histórias dos personagens foram se aprofundando a ponto de mostrar o inconsciente do atormentado Banner. Bill Mantlo foi o primeiro a abordar o quadro psicológico de Banner, sendo acompanhado por Peter David nessa jornada pelo inconsciente.
*legal em carioquês
Dr. Jekyll & Mr. Hyde (1886)
Lançado no ano de 1886 pelo escritor escocês Robert Louis Stevenson, O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde conta a história dos dois protagonistas homônimos, sendo que o segundo é o alter ego do primeiro.
Dr. Jekyll, um cientista tímido e recatado, cria uma fórmula que, ao ser ingerida, libera seus desejos e traumas mais profundos, fazendo até com que o personagem altere sua estatura, voz e forma física, tornando-o irreconhecível até para os mais íntimos, o que nos lembra de dois conhecidos personagens dos quadrinhos.
Os nomes sugestivamente suscitam os termos “matar” (kill) e “esconder” (hide), já que o segundo personagem se esconde no inconsciente do primeiro, que por sua vez esconde impulsos homicidas. Ozzy Osbourne tem, em sua carreira solo, uma música inspirada no personagem duplo: My Jekyll Doesn´t Hide.
Bônus: Simbiose – um Tipo de Mutualismo
Na simbiose, que é muitas vezes trazida como sinônimo de mutualismo, um ser vive dentro do outro sem praticar parasitismo, já que ambos se beneficiam dessa relação.
Eddie Brock e o Uniforme Negro (1988)
Peter Parker, ao voltar das Guerras Secretas, trouxe consigo uma criatura simbionte que se fazia passar por um uniforme inteligente, capaz de responder a comandos mentais de seu dono. Na verdade, a criatura era quase um parasita neural, realizando com o hospedeiro um entrosamento tão íntimo que ambos se tornariam uma terceira entidade.
Porém, ao ser rejeitado por Parker, o ser alienígena acabou se unindo a Eddie Brock, jornalista que inveja Peter e se dá de bom grado ao simbionte, criando o vilão Venom. Sua individualidade é tão devastada que, ao referir-se a si próprio quando transformado, Brock menciona “nós”.
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Spawn (1992)
Todd McFarlane tinha acabado de ficar de mal com a Marvel e lançou seu personagem “muito maneiro.” Spawn havia sido um Black Operation norte-americano quando ainda era Albert Francis Simmons, ou simplesmente Al Simmons.
Morto em batalha em circunstâncias escusas, Al foi parar no inferno, onde conheceu o demônio Malebólgia, que o ofereceu um pacto: voltar à vida como seu assecla para rever sua esposa Wanda. O que Al não contava é que voltaria cinco anos depois, com sua esposa já casada com seu melhor amigo, Terry Fitzgerald.
Não sei se é porque ficou muito tempo desenhando o Homem-Aranha, mas McFarlane chupinhou várias influências do Amigo da Vizinhança para o seu personagem, e ainda vou falar disso num próximo artigo. Por agora, o que importa é que o uniforme de Spawn é um simbionte, assim como o de Venom.
As Origens do Mito Master-Blaster
Todos esses modelos arquetípicos já passaram por outras culturas. Uma das mais próximas é o ritual do Heyoka, o palhaço da tribo Lakota. Assim como na Folia de Reis, o palhaço cumpre a função do Bufão, do Arlequim, do Pantagruel e, na dramatização máxima da inversão de valores da cultura indígena, montava de costas.
Esse arquétipo foi representado pelo pintor surrealista Peter Birkhäuser. Frequentando, junto com sua esposa, sessões de análise Junguiana, dedicou trinta e cinco anos a pintar seus sonhos e analisá-los nas sessões. Dessas análises oníricas, surgiu o Puer Aeternus, um garoto que doma uma besta, montando suas costas.
A ideia da razão (ainda que louca) contendo o instinto, mas ao mesmo tempo mesclando-se a ele. Esse arquétipo foi representado em perfeita amálgama na figura do Centauro, em conflito na figura de São Jorge e em desalinho na figura do Heyoka.
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Hummm……..interessante, kkkkkkk, divertido! Acho que os personagens do livro of mice and men, e sua meia inspiração of orcs and men (a arte de capa sugere Omen), se encaixariam bem.
E ou ainda: a intrincada relação dos seres da fantasia e natureza: shoggots x elder things, filme a trama fantasma, e filme gaslight.
Tão interessante que acho que todos esses geram assunto e ainda nao se esgota.
See ya “internet” cowboy.
Valeu pelo comentário, Paul! Não conheço o livro e os filmes e agradeço pela dica. Quanto aos Shoggots em relação aos Grandes Antigos, não sei se se enquadrariam no postulado, mas é algo a se pensar. Compareça sempre!
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